A hipocrisia da candidatura exclusiva

Não vão longe os tempos em que os partidos políticos, PS, PSD e PCP, encabeçavam as suas listas para a Assembleia da República com autarcas, para beneficiarem do prestígio e da notoriedade dos mais destacados. Nem o CDS está isento dessa tradição, apesar de raramente algum município lhe ter confiado o seu destino, como se viu com Daniel Campelo, presidente da Câmara de Ponte de Lima, que foi à AR viabilizar orçamentos do PS.

O fim da dupla candidatura tem mais a ver com lutas internas nos partidos do que com a pretensa ética com que o deputado Rangel vergonhosamente denegriu as eurodeputadas Elisa Ferreira e Ana Gomes, duas referências éticas, ao contrário do denunciante que se apresentava na AR antes das férias parlamentares, para pôr fim à suspensão do mandato e começar a usufruir o ordenado e as mordomias de deputado.

Se a eleição para a AR ou para o Parlamento Europeu implicasse, como princípio ético, a renúncia ao exercício de outros cargos, certamente que a Constituição da República o teria expressamente previsto. A demagogia, as perseguições pessoais e o oportunismo político estão na base dos ataques a duas eurodeputadas em que uma chegou há muito ao posto máximo da carreira diplomática e outra à cátedra universitária.

Se as duplas candidaturas são oportunistas ou indignas, como o imaculado Paulo Rangel e a adjunta do PR no PSD, Manuela Ferreira Leite, querem fazer crer, como justificam a prática normal da candidatura à A.R. dos primeiros-ministros e de muitos membros dos seus governos?

Como bons devotos devem pedir perdão pelos pensamentos, palavras e obras com que reiteradamente pecam.

Comentários

e-pá! disse…
O resultado é que o pior!

O PS acolheu como boas estas pretensas preocupações puritanas sobre política e o enviesamente ético daí resultante, fazendo com que Paulo Rangel e Manuela Ferreira Leite levassem a água ao seu moinho...

Perante a hipocrisia da Direita o PS respondeu com falsos pudores de natureza política.

Mas, como se diz no post, a derradeira razão para esta mudança, repousa em questões de natureza partidária que, estes orgãos integrantes da Democracia, já se habituaram a dirimir publicamente, como se fossem reais problemas políticos.

Melhor seria que os partidos tratassem com transparência, honestidade e rigor do regime de incompatibilidades dos senhores deputados e, em conformidade, revogassem o que está legislado que, como se tem visto, permite à Comissão de Ética do parlamento as mais variadas interpretações e, naturalmente, as mais estranhas acumulações.

Outro assunto candente é o estranho regime de substituições temporárias dos deputados que lhe permite, durante as Legislaturas, manter diversas "candeias acessas" pelo País.
Aqui, Paulo Rangel, ficava na encolha...

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