Escolas, catequeses, madrassas...

O Senhor D. Tomás Nunes, não só conseguiu o privilégio que rubrica o post anterior, como, manda a verdade afirmar, perante um Governo que trata a laicidade do Estado com a maior displicência, pretende passar ao "ataque".
Advertiu:
"...é urgente que os professores se empenhem numa mais ampla sensibilização dos pais e encarregados de educação para a importância da dimensão religiosa na educação integral dos filhos e da disciplina de EMRC"...

Isto é, tendo acabado a epopeia da "dilatação da fé e do Império", a ICAR, pretende introduzir nas Escolas públicas uma cruzada prosélita a fim de "converter" esses jovens indígenas lusitanos, que por cá andam e se atrevem a ser uns "não-crentes" (ia a dizer infiéis).
Espero que as Direcções das Escolas públicas tomem conhecimento destas pretensões - sejam informadas pelo Ministério da Educação - e não permitam que os estabelecimentos de ensino oficiais se tornem locais de pregação.

Aliás, o Senhor D. Tomás Nunes, quando fala em discriminação dos professores EMRC em relação aos outros professores tem, finalmente, a partir de agora, sobejadas razões.
De facto, a partir deste momento, os professores de EMRC são - eles próprios - beneficiários de discriminação positiva em relação à globalidade do corpo docente das Escolas.
O acordo conseguido introduz nas Escolas um tratamento desigual dos formalmente iguais.

Só que:
1.) uma coisa é ser formalmente igual, quando na realidade em termos de formação, concursos, carreiras, etc., não o são.

2.) outra , será, p. exº., e porque está na agenda da qualidade do Ensino, quem avalia estes professores?
O bispo? o arcediago? o decano, o vigário, a catequista?
Ou, neste especial e melindroso campo da avaliação dos docentes, para além da já citada discriminação introduzida, é intenção do Estado criar um regime de excepção para a EMRC?

3.) Finalmente, este acordo introduz a "inversão da expressão da apetência".
Isto é, não deveriam ser os encarregados da educação dos alunos que devem "retirar" a disciplina de EMRC do programa curricular, mas ao contrário, os que a desejassem a dirigirem-se às suas instituições religiosas e solicitar que a ministrem - lá, nas ditas casas de culto.

Porque, no meu entender, um regime educativo equilibrado - que deve vigorar nas Escolas públicas - tem de respeitar a posição, sobre este e outros assuntos, dos encarregados de educação dos alunos e a única maneira de o conseguir é não abdicar de conquistar para a essas escolas a plena vigência de um espaço (de formação, de ensino e de instrução) laico. Para além de livre e aberto.
Isto é, o Estado, não pode privilegiar alunos crentes em detrimento de outros “não-crentes”, nem muito menos, diferenciar os crentes entre si (como a actual situação permite). Por exemplo, a um aluno islâmico é-lhe "imposto" pela sua religião memorizar o Alcorão. Nos Países islâmicos pode fazê-lo nas madrassas (escolas islâmicas), onde, também pouco mais aprenderá do que o Alcorão... (mas isso é leva-nos a outros destinos!). Em Portugal, têm de ir à mesquita.
Então, este procedimento deve - por uma questão de equidade - aplicar-se a todas as religiões.
O Estado não pode tratar os seus jovens de maneira distinta - uns como filhos, outros como enteados...

Em Portugal, a disciplina chama-se Educação Moral e Religião Católica (EMRC) e, na prática, trata os cidadãos, e os seus filhos, como se habitassem num Estado confessional.

A pergunta que me sugere o “triunfalismo” do Senhor D. Tomás Nunes é se está convencido que trouxe a catequese para as Escolas?

Comentários

Julio disse…
O Catolicismo Romano é uma afronta à moralidade mais básica. Será que há dúvidas quanto a isso? Será que uma história sangrenta da dita hierarquia fanática ao longo dos séculos não chega para lhe retirar qualquer apoio político ou social? O catolicismo é um escorpião moral pronto a ferrar quem se indisponha contra a sua moralidade perversa. É, por outro lado, uma das formas mais virulentas de parasitismo intelectual, sobrevivendo à custa de dogmas da Idade das Trevas, quando levantar-se alguém ou simplesmente argumentar contra a Transubstanciação incorria em perigo de vida! Milhares foram perseguidos e outros mortos por desacreditar a maligna bolacha.
Agora, como é que o aluno vai entender que está caindo nessa armadilha religiosa, quando o padre de moral lhe explica que, sim, o nosso senhor está vivo naquela bolacha estampada de farinha de trigo sem fermento e sem sal, e pouca ou nenhuma humidade?!... O encarregado de educação consciencioso tem que se levantar contra a dita bolacha e triturá-la com os pés sem dó nem piedade! Merecemos um Portugal SEM PADRES!!!

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