O 31 de Janeiro de 1891


Em Portugal, nos finais do século XIX, na ausência de qualquer solução para a crise económica, social e política, a monarquia agonizava. Depois da conferência de Berlim, em 1885, o projecto português de ligar Angola a Moçambique colidiu com o plano inglês de ligar o Cairo ao Cabo (África do Sul).

A disputa do território africano que ficaria conhecido por mapa cor-de-rosa culminou com o Ultimatum, imposição do império inglês a Portugal, tão humilhante que inflamou o fervor republicano e o ódio ao trono e à Inglaterra.

Os ideais republicanos continuaram a seduzir os portugueses e a ganhar força à medida que a monarquia se esgotava, a pobreza aumentava e o sentimento colectivo, de vergonha e ressentimento, se acentuava.

«A Portuguesa» foi o hino que surgiu do ódio generalizado que cada vez mais se identificou com as aspirações republicanas que germinam nos quartéis, na maçonaria e nos meios académicos. O Partido Republicano, até aí pouco expressivo, ganhou adesões e consistência.

Entre os militares destacavam-se os sargentos no fervor republicano donde viria a surgir a primeira tentativa para implantar a República. Coube ao Porto a honra dessa tentativa falhada que contou com alguns oficiais em que se distinguiu o alferes Malheiro e, ainda, o capitão Leitão e o tenente Coelho.

Com a banda da Guarda-Fiscal à frente, os militares republicanos avançaram ao som de «A Portuguesa» e assaltaram o antigo edifício da Câmara do Porto de cuja varanda, perante o entusiasmo da população que se juntou ao movimento, se ouviu o discurso de um dos lideres civis da revolta, Alves da Veiga, que proclamou a República.

Falhado o objectivo de ocupar o Quartel-General e o edifício do telégrafo, donde se anunciaria a todo o País a proclamação da República e a deposição da Monarquia, o movimento soçobrou perante a Guarda Municipal.

O exemplo dos revoltosos de 31 de Janeiro de 1891 frutificaria, menos de duas décadas depois, em 5 de Outubro de 1910. Eles foram os protagonistas de uma derrota que foi a semente da vitória que tardaria quase duas décadas.

Foi há 117 anos mas a memória histórica dos protagonistas do 31 de Janeiro está viva e é dever honrá-la.

Comentários

Anónimo disse…
Obrigado pela lição de história. Fiquei mais rico depois de ler o seu texto, não só pelo conteúdo, mas também pela paixão, pela sua ética republicana que se topa a milhas.
Não gosto de Cavaco Silva, nunca gostei.
Mas aceito a sua legitimidade. Nunca poria em causa o cargo que ocupa.
Por um simples motivo: foi ELEITO pelos portugueses.
Não herdou o poder (seja lá isso o que for...). Conquistou-o nas urnas, e isso faz toda a diferença.

VIVA A REPÚBLICA!
e-pá! disse…
O 31 de Janeiro é uma efeméride eminentemente "tripeira", e com inteira justiça, já que foram os Homens do Porto os grandes protagonistas desse levantamento (militar e popular) pela República.

Apesar disso, ou consciente disso, queria aproveitar para relembrar um texto do saudoso homem, do democrata, advogado e escritor de Coimbra, Dr. Alberto Vilaça, escrito em plena ditadura salazarista, sobre as razões da comemoração deste movimento.

"Incentivo para o presente, semente para o futuro — eis o que sempre podemos encontrar nos mais insignificantes acontecimentos do passado. Sabem-no sobretudo aqueles que, interessados na construção da felicidade do Homem, com maior consciência se esforçam por viver e sentir os problemas do seu próprio tempo.

Mas o 31 de Janeiro, estuando como um grito de revolta e um anseio de libertação populares, é daquelas datas em que esse significado nos surge precisamente como nota predominante. E mais: constituindo, como passo para a República, um passo para a Democracia, radicando na alma do Povo, a sua memória atinge as pessoas mais simples e desperta-as para uma luta inconformista e firmemente unida pela conquista dos direitos de que têm sido privadas.

Não será isto estranho ao esquecimento a que se tem pretendido votar o 31 de Janeiro. A verdade, porém, é que essa privação de direitos persiste. Tais esquecimentos até a agravam.

Daí a garantia de que o incentivo e a semente do 31 de Janeiro não morreram nem morrerão.

Encontra eco. Dá fruto.

Coimbra, 26-1-1956"

As origens do movimento manteêm-se ainda obscuras, haverá um contributo importantíssimo da Maçonaria (ainda não totalmente revelado), mas a História registará este movimento de 31 de Janeiro como acontecimento histórico eminentemente popular.
Na prática, o que o Porto viu foi uma revolta encabeçada por sargentos e cabos e vibrantemente apoiada pelo povo anónimo das ruas.
O Exército da Monarquia, acompanhava a degradação do regime, estava minado, particularmente, pela classe de sargentos, a mais premiável ao ideário republicano, dada a sua origem de classe. A aristrocracia assentava praça em general, ou quase, e não aprecia o rancho, nem o cheiro das casernas.
Esta situação desenrola-se ao longo de 1890, com grande impacto no Porto. Há contudo reflexos em todo o País.

Por exemplo, em Coimbra, li há algum tempo que estudantes adeptos da causa repulicana começam, nesta altura, a serem preparados no manejo de armas a fim de apoiarem o movimento republicano.

PS - Alguém tem referências quanto ao envolvimento da geração estudantil de Coimbra neste movimento de 31.01.1891 e acções subsequentes pela implantação da República?

VIVA A REPÚBLICA!
Anónimo disse…
Imaginem só, se não fossem esses patriotas, homens corajosos e íntegros, teríamos como chefe de Estado o... Duarte Pio.
Arrepia só de pensar, não arrepia?
Vítor Ramalho disse…
Não deixa de ser intrigante que todas estas manobras tenham sido feitas coma a bênção de Inglaterra.
Também convém lembrar que a republica nada trouxe de novo a Portugal.
O mesmo se passou com o 25 de Abril.
Só as moscas é que mudaram.
Anónimo disse…
Os factos são que desde que somos uma república temos seguido um caminho sempre descendente em comparação com aqueles paises com que nos comparavamo-nos. Ainda tivemos a sorte de ter durante muitos anos um chefe de estado como salazar que nos orientou durante mais uns anos mas o 25 de abril voltou a trazer a mediocridade ao poder. Será tudo passageiro..
É que contra factos não há argumentos.
o que é bonito, é que todos os portugueses saem e lamentam isto. O problema é que o lobby pedofilo-socialista agarra-se com unhas e dentes ao poder e Às crinças

abraço amigo
Anónimo disse…
Anónimo Qui Jan 31, 02:33:00 PM:

A calúnia, o anonimato e a mentira são as grandes armas dos nazis.

Guarde os abraços para os cabeças rapadas.
Vítor Ramalho disse…
Para o CE quem diz a verdade é nazi.
Anónimo disse…
E se fizessemos um esforço para discutir e compreender a nossa História sem chicanas, sem malabarismos, sem falsidades.

Não há espaço para discutir. Já cansa tantas afirmações bombásticas, incrédulas e pouco substantivas. Manda-se palpites por divertimento, ou porque se sonhou ontem algo de parecido, ou por simples ódio.
Não quero assumir o papel de vigilante, moderador ou disciplinador de discussões.
Mas porra! gosto de discutir abertamente, de modo transparente! Gosto de aprender com os outros.
Assim, não vamos a lugar nenhum.
O estilo "snipper" que se adopta para qualquer tema, cansa-me.
Anónimo disse…
Eu gósto muinto do noço Rei Anibale, açim coumo tambeim naum gósto do Rei da Madêra e do Rei já depousto Suares.
Do Rei Piu teinho pouco a dizêre, purque axu-o xaládo da cabêssa, se calhare por sêre filho de primos e de tias,tudo ao magóte e fe eim Deus,tale e quále coumo a criassão de cabras do meu Pai.
Purém axu-o um catolico muinto fixóla. Fartouce de ajudáre os timurenses e os petroleiros austrelianos.
Ce naum fousse taum careca e cuspire tanto pró are quazsi prassia um Rei de Oiros, mas naum paça de um rei de copus.
Anónimo disse…
senhor esperança!
numa sondagem feita pelo jornal publico a grande maioria das pessoas que viveram o estado novo afirmaram que gostavam do regime e que o preferiam ao actual.
no concurso da RTP, voltou se para a mm tecla. E se não o consideram rigoroso, que não foi, deu para discernir sem grande dificuldade o amor que se tem a quem nos enfiou nesta empaturrada: Cunhal e Soares...

Ignorância é julgarmo-nos mais espertos que os outros e mentir é querer contrariar os factos...

antigamente, mandava quem estava para isso habilitado. Era chamado a discutir quem tinha habilitações para tal. hoje temos de comer com os energumeros que não tiveram jeito para o estudo e que se associaram a partidos políticos. que começaram por colar cartazes e, de degrau em degrau, passaram de mandar bocas para ja mandar em nos e dar ordens.

Felizmente o meu caro amigo, ainda está na faze dos bitaites.
Vá por isso estudar e trabalhar que é ai que é preciso, malandro!!!
ana disse…
"antigamente, mandava quem estava para isso habilitado."

Por eleições livres?

"senhor esperança!
numa sondagem feita pelo jornal publico a grande maioria das pessoas que viveram o estado novo afirmaram que gostavam do regime e que o preferiam ao actual."

Conheci muita gente que gostava do Estado Novo. Os que tinham interesses ligados ao regime, os que viviam de joelhos, os que não tinham familiares presos pela Pide por "delito de opinião", os que não tinham filhos a morrer em África por uma estupidez. Se hoje não vivessemos em democracia, o senhor estaria preso por "delito de opinião". Por muito menos outros foram bater com os costados a Peniche.
Anónimo disse…
Sabe, querida Ana, por grande pontaria e contra toda a lógica das probabilidades foram apenas questionadas pelo jornal Público os ex-beneficiados pelo regime..foi mesmo uma grande pontaria...

De quantos casos de corrupção foi acusado o regime do estado novo já pos 25 de abril?!

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