Autárquicas - Lisboa

Admito que o eleitorado da capital seja masoquista e queira reincidir em Santana Lopes. Se é promessa, paciência. O País já pagou um preço elevado com a sua passagem pelo Governo que, na pressa da fuga, à revelia de eleições, Durão Barroso lhe endossou.

Na Figueira da Foz e em Lisboa, Santana acumulou passivos que levarão anos a saldar mas, se é curta a memória e grande o desejo de perdão, que podem fazer os democratas, que recusam ditaduras, mesmo por curtos períodos de seis meses sonhados por Manuela Ferreira Leite?

Compreendo que António Costa, um dos mais bem preparados políticos da sua geração, queira poupar Lisboa aos desmandos do santanismo e a sua carreira política à travessia do deserto, mas não acredito que o acordo com Helena Roseta (HR) lhe traga mais votos salvo, eventualmente, o dela e o de Manuel Alegre.

Os que votariam HR, previsivelmente suficientes para a elegerem vereadora, votavam sobretudo contra o que designam «este PS», não estando disponíveis para transferir o voto com o acordo alcançado. O casamento de conveniência pode acabar num adultério irrelevante, com os votos de HR dispersos pelo BE, abstenção, brancos e nulos.

O único beneficiário do acordo é Manuel Alegre cuja exposição mediática é prorrogada bem como a ilusão de se tornar presidente da República. Não serve o PS nem a António Costa porque, em política, a aritmética não funciona e a soma pode ser nula.

Um partido não pode fazer acordos com os grupos de pressão interna, ainda que sejam a consciência moral, sob pena de debilitarem a liderança e desmobilizarem os apoiantes.

A única aliança útil e coerente era com o PCP ou com o BE cuja rivalidade eleitoral e o frenesim com que querem contar espingardas, digo, votos, os afasta irremediavelmente de uma solução de poder, de qualquer solução que barre o caminho à direita, em Lisboa e no país.

O que tiver de ser tem muita força. É a vida, como dizia um saudoso engenheiro.

Ponte Europa/SORUMBÁTICO

Comentários

jdgf1845 disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Musicologo disse…
Estes acordos minam Costa em vez de o ajudar. Eu votei por HR e assim coligada não vou votar.

Quando Soares se coligou com CDU também deixei de votar CDU.

A questão é simples: há muitos eleitores descontentes com o PS como eu, e que também não votam à direita por princípio, que simplesmente votam "nos outros" (BE ou CDU ou movimentos independentes). Se estes aparecem coligados perdem os votos. Costa teria muito mais a ganhar se aparecesse sozinho e pós-eleições se coligasse com a restante esquerda.
Musicólogo:

Dá-me razão. Corrobora o ponto de vista do meu post.
odete pinto disse…
Achei muito interessante o pensamento expresso quer por Musicologo quer pelo autor do post, porque nunca pensei que este raciocínio sequer fosse pensável. Erro meu, claro.

Isto porque conheço várias pessoas, militantes ou simpatizantes/votantes no PS, que "transitaram" para o Movimento de Helena Roseta e continuam a segui-lo, inclusive nos votos, até por exclusão de 'partes' e, neste caso particular, pondo Lisboa acima de tudo.

É esta aprendizagem de pontos de vista que me fascina na blogosfera.
e-pá! disse…
CE:

Concordando com as considerações sobre a fiabilidade das aritméticas eleitorais e, estando convicto que os actuais acordos, com Helena Roseta e Sá Fernandes, revelam mais um discreto perfume de uma peregrina revisita a um passado recente (de há 2 anos), mas não funcionam como qualquer aposta quanto à governabilidade da Câmara de Lisboa, no futuro.

Aliás, costumam existir, para as projecções eleitorais, “concelhos-tipo” ou, mesmo, “freguesias-modelo” para a previsão de resultados. Ao que penso, Lisboa, dada as suas características demográficas, não figuram nesse painel de referências de sondagens.
Mas, em meu entender, Lisboa - apesar de todas as manifestações descentralizadoras que se levantam pelo País - representa para os portugueses o coração do poder, a sede do extinto “império”. Durante muitos anos foi o destino da desagregação do mundo rural e essa qualidade traz-lhe uma influência nos 2 sentidos. A capital influência o País pela centralidade e atracção política, económica e cultural que exerce e a maltratada ruralidade sempre que fustigada pela fome e pobreza refugiou-se, primeiro, em Lisboa, e só depois iniciou a diáspora nacional.

Foi a compreensão desta importância política e cultural que lançou Jorge Sampaio, então recém presidente do PS, para a disputa da Câmara de Lisboa, uma vez obtido um acordo político com o PCP. Tal estratégia permitiu a sua vitória e um longo período de governabilidade com a direcção de João Soares.
Sampaio ao vencer em Lisboa em 1989 afrontou irremediavelmente o reinado de Krus Abecassis e no seu âmago a governação cavaquista.

Embora a situação não seja idêntica, aqui os períodos eleitorais estão invertidos, i.e., primeiro são as Legislativas e depois as Autárquicas, desta experiência, ou destes momentos políticos, não se colheram lições.

Ninguém conhece, nem foi disponibilizada informação suficiente, sobre as razões e as circunstâncias do fracasso das negociações com o PCP e o BE. Quando António Costa trouxe para a praça pública o acordo de gabinete conseguido com Sá Fernandes, comunicou, sucintamente, que se tinham gorado as negociações com o PCP e BE.
Disse pouco, na verdade.

Mas todos sabemos que António Costa não conseguiu acordos com o PCP e com o BE porque não tem – nem podia ter neste momento – as condições políticas de Sampaio. Então, vivia-se outro momento político. O PSD estava no Governo e cada dia que passava mostrava laivos de autoritarismo. O eterno problema das maiorias absolutas…

António Costa, ao propor uma coligação à esquerda do PS teve, com certeza, de arrostar com a acusação dos necessários compagnons de route de que o PS de Sócrates, governou 4 anos à direita e, as recentes inflexões na política social (desemprego, sáude e outras prestações sociais) são subsidiárias da crise, i.e., necessidades e não convicções ou reconversões programáticas ou ideológicas.

Bem, olhando para Lisboa, não vamos adivinhar cenários relativos às Autárquicas tanto mais que ainda faltam as Legislativas. De qualquer maneira, ao contrário do que o início do mandato fazia prever, António Costa terá melhorado a sua base de apoio quando, de algum modo, se distanciou do Governo, nomeadamente do Ministro Mário Lino.
Todavia, em todos os âmbitos é necessário trabalhar muito, mais e melhor.

Aparentemente, tudo começou a correr mal deste o início da crise, agravou-se com os resultados das eleições europeias, mas na realidade existe uma profunda crise na Esquerda, nomeadamente, na Europa.

A tarefa de António Costa em Lisboa foi essencialmente arrumar a casa que o putativo novo/velho candidato da Direita coligada (acentue-se) por Lisboa, tinha deixado de pantanas.
Este “trabalho” de andar a pagar as dívidas é importante para o saneamento financeiro da autarquia, mas não dá votos.

Aqui, novamente, repetiria a frase do engenheiro da CNUR:
“É a vida!”

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