Matilde Sousa Franco - adereço dispensável

Matilde Sousa Franco despede-se da AR com críticas à disciplina de voto e, sobretudo, com o azedume de quem é despedido com justa causa.

Matilde Sousa Franco chegou à AR graças à viuvez. Não se lhe conhece trabalho político ou relevância pública para além de ter conseguido anular um casamento católico e de ser viúva do melhor ministro das Finanças desta segunda República.

A pia deputada foi um ornamento fúnebre do PS que votou sempre como quis, ao lado da direita mais conservadora, quando tinha de decidir entre a política e a sacristia, com Maria Rosário Carneiro e Teresa Venda, ou ao lado de Manuel Alegre, porque sim.

Se há ausência que pode credibilizar o PS é a de deputados que explicitam publicamente as suas crenças e ocultam as convicções políticas, se acaso as têm.

Quanto à crítica que se faz à disciplina de voto, é das mais demagógicas que se ouvem. Um partido não é propriamente um albergue espanhol e nenhum Governo estaria seguro de cumprir o seu programa se cada deputado resolvesse exigir, em troca do voto, uma qualquer contrapartida para o distrito que o elegeu. Desconfio, por isso, dos previsíveis círculos uninominais, tão do agrado do PS e de quase todos os comentadores políticos.

A saída de Matilde Sousa Franco da AR deixa-lhe mais tempo livre para as devoções pias onde, certamente, todas as heresias lhe serão consentidas.

Comentários

ana disse…
Que vá com Deus...
e-pá! disse…
Não podemos exigir que todos os deputados sejam excessivamente intervencionistas, nem inesgotáveis fontes de inovação política, nem demasiado prolixos.
Se não, rapidamente chegaríamos à conclusão de que a, AR, tinha deputados a mais.

Os velhos tempos e os ancestrais vícios do parlamentarismo dos primórdios da República, já passaram.
Hoje, centra-se muito do trabalho, com alguma regularidade e disciplina, ao nível das comissões parlamentares e, esta tendencia parece tornar o Parlamento mais eficiente. Portanto, um caminho a prosseguir...

A Dra. Matilde Sousa Franco eleita pelo Distrito de Coimbra, com todo o respeito que a senhora me merece, notabilizou-se pelo pouco que fez e pela conduta errática ao nível das opções políticas.
Queixa-se da disciplina de voto. Uma queixa que, embora encerrando algum fundamento, já que os governos de maioria absoluta têm tendência para o uso e abuso desta "figura" parlamentar (para imporem a maioria) é, em princípio uma situação que coarcta a liberdade do eleito, mas que dificilmente se aplica a Matilde Sousa Franco, cujo comportamento na AR foi eivado de indefinições e consequentes deambulações ideológico-doutrinárias (ia acrescentar religiosas) é, para mim, um caso que, na prática, funciona a contrario sensu.

A disciplina de voto devia aplicar-se exclusivamente a questões nucleares da democracia e a referências qualificadas da ideologia partidária, i. e., (repito) questões nucleares, nunca para arremedos tácticos... efémeros, voláteis da política momentânea, fundamentalmente, pragmática.

Não foi exactamente isso que aconteceu com a Srª. deputada em fim de exercício...

De Matilde Sousa Franco não restarão: nem saudades, nem animosidades...
Passou por lá!
RJ disse…
Uma freira no parlamento? Já lhe chamaram pior.

Destaco o incómodo que foi tê-la como cabeça de lista por Coimbra. É também por causa dos partidos meterem gente como ela nas listas que eu sou a favor de círculos uninominais. Será que era eleita se nos fosse dada a chance de escolher quem ia ou não para o parlamento? Conheço muita gente que votou PS na altura mas algo desconfiados da cabeça de lista...
RJ:

Duvido que os círculos uninominais resolvam o problema. Claro que esta senhora não teria sido eleita mas corremos o risco de ter caciques, como acontece com as Câmaras.

Sei, todavia, que a minha opinião é muito minoritária.
polytikan disse…
A dra. Matilde até era a candidata ideal para a Cidade-Museu, nos tempos em que Sócrates tratava Coimbra com os pés e vice-versa.
Mas melhor será agora destacar a actual candidata, que me parece uma excelente escolha para a famosa "capital da saúde".
Oxalá Coimbra saiba tirar proveito disso para reforçar esta marca.
Sempre achei que foi uma grande asneira do PS a peregrina ideia de pôr a quando muito democrata-cristã Dr.ª Matilde como cabeça de lista por Coimbra.
Os resultados viram-se: logo na altura, o PS perdeu inúmeros votos para o BE, o voto em branco ou a abstenção; depois foram as votações contra a orientação do partido, em assuntos essenciais; agora é isto.
Espero que o exemplo tenha servido de lição...

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