SCUTs e deduções fiscais. Paradoxos e perplexidades

Independentemente do quadrante político e das propostas de cada partido para resolver a mais grave crise financeira das últimas décadas, ninguém duvidará de que são escassos os meios para financiar o Governo e apertadas as soluções para reduzir as despesas do Estado, a menos que despeçam funcionários ou lhes reduzam os vencimentos.

Não compreendo, pois, a insistência do PS no adiamento do pagamento das SCUTs nem a trapalhada em que se meteu com medidas de excepção que, não sendo justas, são caras e de difícil execução. Além do erro da criação das SCUTs, quem garante que o uso dessas auto-estradas não seja uma forma de subsidiar os mais ricos das regiões mais pobres? Neste caso parece-me que a posição do PSD é mais sensata do que a do PS e não podemos dar-nos ao luxo de evitar conflitos por tão elevado preço.

Quanto às deduções fiscais, cuja razão se justifica e esgota em períodos limitados no tempo, para orientar poupanças, não se vê o motivo da birra do PSD que só pode trocar essas receitas por outras de origem diferente. Não se compreende que medicamentos comparticipados pelo Estado gozem de dedução em sede de IRS, aumentando a carga burocrática e a oportunidade de fraudes.

As despesas de saúde, bem como as da educação, só os contribuintes de mais elevados rendimentos as podem descontar. Não me parece que a insistência no actual regime seja um acto de justiça social. Descontando uma cirurgia cuja urgência não seja compatível com a lista de espera, real ou artificial, dos hospitais públicos, ou situações análogas de consultas e exames complementares, não é justo que os mais ricos gozem benefícios que excluem os mais pobres.

Numa época em que o liberalismo vai fazendo a sua caminhada danosa não podem ser os partidos que se reclamam da social-democracia a favorecer os interesses privados em detrimento dos interesses comuns.

Declaração de interesse: A posição defendida é contrária aos meus interesses.

Ponte Europa / Sorumbático

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