Vientos de España…

A 1ª. greve geral que ocorrerá no mandato de J. L. Zapatero como PM de Espanha - programada para o próximo dia 29 de Setembro - levanta várias questões, todas correlacionáveis com a actual crise económica, financeira e social.

Na verdade a crise advinda do mundo financeiro foi sendo resguardada pelos diferentes poderes políticos.

Ao contrário do que se poderia supor, na sequência da crise, a regulação dos mercados financeiros é, ainda, muito ténue. As respostas institucionais, mais na Europa do que nos EUA, mostram, pelo contrário, uma profunda cumplicidade entre o poder político e o financeiro.
A Economia - o crescimento económico - está manietada pelos défices orçamentais e pela dívida externa [pública e privada] sob o cutelo dos mercados [financeiros].
As margens de manobra são estreitíssimas. O espantalho do incumprimento [para os Países mais frágeis] é agitado a todo o momento e está presente em todo o lado.
O crédito é uma arma controlada pelos bancos [sejam centrais, nacionais ou regionais]. Mas para além do seu controlo – num quadro de dificuldades de financiamento interbancário – o crédito tornou-se numa arma selectiva contra o consumo dos cidadãos [o que é aceitável] mas também contra as políticas públicas, nomeadamente na sustentabilidade do Estado Social.
O combate ao desemprego – a mais grave praga social – passa, obrigatoriamente, pelo crédito ao investimento [seja público ou privado].

Deste modo, o mundo financeiro tornou-se o parceiro privilegiado [para não dizer exclusivo] dos governos na busca de soluções para a crise. E, numa parceria deste tipo, o mundo financeiro estará melhor quanto pior [mais débil] estiver o Estado. Daí as teorias sobre o “emagrecimento do Estado” que só abrandarão quando o mesmo estiver em fase agónica e, consequentemente, o Estado Social for substituído pelo "Estado Caritativo".

A política perdeu a supremacia sobre o poder económico e financeiro.
Porque, isolou-se e perdeu o contacto com parceiros sociais [tradicionais]: as confederações patronais e as estruturas sindicais.

Hoje, os olhos do poder estão virados para a evolução dos mercados de valores, para as posições nos ratings de desenvolvimento [crescimento tecnológico, por excelência], para as agências de notação financeira, etc.
Os esforços da retoma estão a ser prosseguidos com planos de austeridade e de contenção [com uma sectária visão financeira ] totalmente à rebelia de qualquer arremedo de concertação social. Ninguém estará confiante com este tipo de resposta, tão redutora, tão estreita, tão afunilada. Sem qualquer tipo de escrutínio [fora das bolsas de valores].

Por isso a próxima greve geral em Espanha – que suscitou a convergência dos sindicatos espanhóis da UGT e das Comisiones Obreras (CO) – é uma chamada de atenção para a necessidade [obrigatoriedade] de englobar todos nesta batalha anti-crise.
Caso contrário, os jogos e as engenharias financeiras ocuparão todo o espaço político, nada sobrando.
A greve visa - essencialmente - alertar o Governo para a crise social, parente pobre – quando não bode expiatório – de todas as soluções financeiras que, directa ou veladamente, montam o cavalo neo-liberal.

É significativo que o objectivo da greve geral – conforme declararam os organizadores - não seja a queda do Governo Zapatero. É que o movimento sindical sabe que Mariano Rajoy não é a solução. A queda do Governo em nada contribuiria para melhorar a sustentabilidade da situação social.

Nesse momento, os sindicatos reclamam ser considerados como parceiros para – à revelia das manobras financeiras e bolsistas – ajudarem a combater a crise social [essencialmente o flagelo de desemprego] e trabalhar para o crescimento económico.

Os sindicatos em Espanha, como em toda a Europa [Portugal incluído], manifestam-se para que seja considerado, ponderado e valorizado o seu papel histórico [o seu contributo] como parceiros dos diferentes poderes na solução de múltiplas crises. Como se verificou durante os últimos 2 séculos.
Afinal, uma greve oportuna, didática e patriótica [a Direita não gostará da apropriação deste conceito...].

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