Cavaco, recandidato a Belém
O inquilino de Belém regressou à propaganda, após um período em que gozou férias cá dentro, a propalar que gastou manhãs a estudar os diplomas cuja promulgação lhe cabe, e fez-se fotografar com criancinhas ao colo e a mulher à vista.
Bento 16, que recusa distinções pessoais, não hesitou em atribuir-lhe o Colar da Ordem Piana e fazer Cavaleiro o antigo presidente da Comissão de Honra da canonização de D. Nuno Álvares, na sequência do milagre obrado no olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com óleo fervente de fritar peixe, milagre a que o herói de Aljubarrota deve a santidade.
Entretanto nos arraiais da direita mais jurássica, onde o cavaquismo tem sólido habitat, correm rumores de que procuram um candidato mais intolerante e reaccionário para dar a ilusão de que este não o é bastante. Por entre subtis boatos, querem desviar a atenção do mandato que vai terminar acusando-o de ter promulgado no dia 17 de Maio a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, decisão que agitou as sotainas e os devotos que gravitam à sua volta.
Explorando alguns ressentimentos pessoais e a inabilidade com «as escutas de Belém» ainda podem tirar da cartola algum pândego que se apreste a dar a cara para o folclore da extrema-direita, enquanto o presidente mais conservador da democracia portuguesa ganha fama de moderado e faz esquecer o seu comportamento .
A esquerda que tem colaborado activamente na reabilitação da direita, a que votou com o PSD e o CDS, para enfraquecer o PS, sem estarem em causa os seus valores, silenciou a metódica perseguição a Sócrates e depreciou a crise internacional. Vai-lhe ser difícil sarar as feridas abertas e poupar o País à reincidência em Belém de um PR mais dado às manifestações pias do que às grandes causas.
O ainda PR adiará o mais possível o anúncio da sua recandidatura, mas cabe à esquerda fazer o levantamento do seu percurso político, desde os tempos em que a ditadura não o perturbava até ao tempo em que perturbou a democracia a partir de Belém. O perigo de um presidente, um Governo e uma maioria de direita deve provocar um estremecimento nos que encontram na defesa da escola pública e do S. N. S. motivo suficiente para uma convergência cívica na eleição presidencial.
A esquerda confundiu o respeito institucional que deve ao PR com o silêncio cúmplice que manteve quando Cavaco preferiu o ruído público à solidariedade institucional com os outros órgãos da soberania. Não pode agora deixar de confrontar o candidato com o seu passado. As críticas devem ser justas mas implacáveis. A luta política não se faz com jogos florais nem com a politização dos Tribunais.
Bento 16, que recusa distinções pessoais, não hesitou em atribuir-lhe o Colar da Ordem Piana e fazer Cavaleiro o antigo presidente da Comissão de Honra da canonização de D. Nuno Álvares, na sequência do milagre obrado no olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com óleo fervente de fritar peixe, milagre a que o herói de Aljubarrota deve a santidade.
Entretanto nos arraiais da direita mais jurássica, onde o cavaquismo tem sólido habitat, correm rumores de que procuram um candidato mais intolerante e reaccionário para dar a ilusão de que este não o é bastante. Por entre subtis boatos, querem desviar a atenção do mandato que vai terminar acusando-o de ter promulgado no dia 17 de Maio a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, decisão que agitou as sotainas e os devotos que gravitam à sua volta.
Explorando alguns ressentimentos pessoais e a inabilidade com «as escutas de Belém» ainda podem tirar da cartola algum pândego que se apreste a dar a cara para o folclore da extrema-direita, enquanto o presidente mais conservador da democracia portuguesa ganha fama de moderado e faz esquecer o seu comportamento .
A esquerda que tem colaborado activamente na reabilitação da direita, a que votou com o PSD e o CDS, para enfraquecer o PS, sem estarem em causa os seus valores, silenciou a metódica perseguição a Sócrates e depreciou a crise internacional. Vai-lhe ser difícil sarar as feridas abertas e poupar o País à reincidência em Belém de um PR mais dado às manifestações pias do que às grandes causas.
O ainda PR adiará o mais possível o anúncio da sua recandidatura, mas cabe à esquerda fazer o levantamento do seu percurso político, desde os tempos em que a ditadura não o perturbava até ao tempo em que perturbou a democracia a partir de Belém. O perigo de um presidente, um Governo e uma maioria de direita deve provocar um estremecimento nos que encontram na defesa da escola pública e do S. N. S. motivo suficiente para uma convergência cívica na eleição presidencial.
A esquerda confundiu o respeito institucional que deve ao PR com o silêncio cúmplice que manteve quando Cavaco preferiu o ruído público à solidariedade institucional com os outros órgãos da soberania. Não pode agora deixar de confrontar o candidato com o seu passado. As críticas devem ser justas mas implacáveis. A luta política não se faz com jogos florais nem com a politização dos Tribunais.
Comentários
Da Esquerda que foi - como sugere o post - incapaz de fazer frente [com eficiência política e mobilização] à recandidatura de Cavaco Silva, não pode ser dissociado o PS.
Uma coisa é o Governo [e sobre a governação há - na Esquerda lato sensu - profundos bloqueios e desencontros], outra seria ter exibido [aos cidadãos] a capacidade de construir uma alternativa [de Esquerda] capaz de "barrar" o caminho a Cavaco, nas próximas eleições presidenciais...