O Papa, o ateísmo e o nazismo

Tenho pelo Papa, por todos os papas, uma consideração inversa à que a Aura Miguel e o João César das Neves nutrem por este ou qualquer outro. Mas uma coisa são estados de alma e outra os factos.

Sou incapaz de desejar a alguém o que a ICAR fez a judeus, bruxas, hereges e a todos os que contrariassem os seus interesses. Não vou remexer nos crimes que desde Paulo de Tarso e Constantino se cometeram em nome de um judeu que dizem ter morrido pela salvação do mundo e nem a si próprio conseguiu salvar-se. É hoje uma referência para as multinacionais da fé que vivem da sua alegada divindade como os homeopatas do valor terapêutico das mezinhas.

O que um ateu não pode consentir é que o ex-inquisidor compare o ateísmo ao nazismo, esquecendo que a sua Igreja já excomungou o ateísmo, o comunismo, a democracia, a liberdade e o livre-pensamento e nunca o fez ao nazismo ou ao fascismo. O próprio Estado do Vaticano, a última ditadura europeia, foi obra de Benito Mussolini que, entre outras manifestações de tolerância, tornou o ensino da religião católica obrigatório nas escolas públicas.

Uma Igreja que apoiou Franco, Pinochet, Mussolini, Salazar, Videla, Somoza e o padre Tiso perde autoridade para condenar sinistros assassinos como Estaline, Mao, Pol Pot, Ceauşescu ou Kim Il-sung cuja esquizofrenia sanguinária os levou a cometer crimes em nome de uma crença política e não do ateísmo.

Bento XVI, que foi cúmplice do encobrimento de crimes cometidos pelo seu clero, que mantém o IOR como offshore do Vaticano, que se apoia no Opus Dei, Legionários de Cristo e na seita fascista dos sequazes de monsenhor Lefebvre, não tem autoridade para difamar os ateus a quem a liberdade deve mais do que à sua Igreja.

Pode continuar a canonizar os admiradores de Franco, os colaboradores da CIA e outros defuntos que, em vida, foram pouco recomendáveis. Pode exibir relíquias falsificadas e vender ao mundo os milagres engendrados numa repartição pia mas não pode insultar os ateus sem receber o troco que merece.

Comentários

Graza disse…
Comecei a ler este post e não o estava a entender porque não me recordava em que momento alguma vez o Papa tenha falado disto. Afinal a notícia é fresca e isto está a acabar de passar-se. É incrível. Já vi as notícias da visita e a questão em momento nenhum é referida. Vamos estar atentos e ver a forma soft como isto vai ser noticiado.
Graza:

Peço desculpa por não ter posto um link para a notícia em que o Papa pediu liberdade para a religião como se o Reino Unido a impedisse.

Liberdade para o livre-pensamento é desejo que o regedor do Vaticano não acalenta.
Graza disse…
Stefano:

É história que conheço, mas é sempre impressionante quando a vemos reunida numa sequência. Pena que os seus fiéis não tenham uma palavra para isto, e é gente deste calibre que me compara aos nazis.
Anónimo disse…
os fieis vão inventar alguma desculpa

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