Não deixamos que nos apaguem a memória!

Por solicitação, divulgamos o apelo que se segue.
Um abraço amigo do
Vasco Lourenço

«Dia 5 de Outubro (quarta-feira, feriado) frente à antiga sede da PIDE em Lisboa (Rua António Maria Cardoso) às 14:00 em ponto não vamos permitir que nos apaguem a memória!

Não faltes e divulga.

Não deixamos que nos apaguem a memória!Há 60 anos atrás foi criada a polícia política do Estado Novo. A Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) tinha como principais competências proceder à instrução preparatória dos processos respeitantes a crimes contra a segurança do Estado, sugerir a aplicação de medidas de segurança e definir o regime de prisão preventiva e liberdade provisória dos arguidos.

Durante anos a sua sede funcionou nos nº 30 a 36 da Rua António Maria Cardoso, em Lisboa.

Após o 25 de Abril de 1974 este edifício foi votado ao abandono, sem que houvesse qualquer interesse em fazer ali nascer um local onde a memória dos dias e noites de torturas de milhares de portugueses e portuguesas pudesse ser preservada.

Hoje, um grupo privado pretende fazer da antiga sede da PIDE um condomínio privado de luxo. Que dizem sobre isto os candidatos à autarquia lisboeta? Que futuro defendem para aquele espaço?

Para nós a memória dos dias escuros, os assassinatos, as torturas e os gritos não podem ser apagados. Por isso defendemos que naquele edifício deve existir um museu que ao mesmo tempo possibilite a preservação da História e a sua investigação.

Ao contrário de muitos exemplos, em Portugal não se valoriza a preservação da memória colectiva. Não dedicamos à nossa história, particularmente à do Séc. XX, o estudo e a divulgação que se exigem. O que pensa o Governo sobre a preservação da nossa memória colectiva? Que dizem os anunciados candidatos à Presidência da República?

Exigimos pois, a criação de um espaço que dignifique a luta pela liberdade, que possibilite a investigação histórica sobre o Estado Novo e que preserve a nossa História. »

Nota: É com gosto e solidariedade que o «Ponte Europa» se associa à solicitação.

Comentários

Anónimo disse…
Não me parece que a maioria das pessoas associe a PIDE aos n.ºs "30 a 36 da Rua António Maria Cardoso".

Ter um condomínio de luxo no local é sempre melhor do que um prédio em ruínas.

Ao contrário do longo período em que o prédio esteve votado ao esquecimento por parte do actual reclamante e de outros, as memórias dos atentados á dignidade humana nos primórdios da liberdade não serão certamente esquecidas.
Anónimo disse…
Se o anónimo das 7:03 entende por «actual reclamante» Vasco Lourenço refere-se exactamente a um dos heróis de Abril a quem devemos a liberdade e a democracia que os portugueses sufragam nas urnas.

Quanto ao destino do local, por onde passaram amigos meus, admito que haja ideias diferentes.

João Soares foi quem autorizou o condomínio, se a memória me não falha.

Onde a memória não falha é na recordação magoada e triste da ditadura fascista que atrasou, reprimiu e ensanguentou Portugal.
Anónimo disse…
Há poucos dias coloquei um comentário no ÁguaLisa lamentando justamente esta grave falha, bem como a antiga "escola" da Pide, em Sete Rios, onde passei tantos anos sem saber o que aquele edifício era. Também já está destruído.

Estranho que o condomínio tivesse sido autorizado por João Soares. E o vice-presidente Abreu não se insurgia/u ruidosamente?
Geosapiens disse…
...obrigado pelo aviso...irei se puder...
Anónimo disse…
Odete Pinto:

Posso estar enganado na atribuição da autorização de construção a João Soares. A memória já me tem pregado partidas.

Só não esqueço que evitei sempre a R. António Maria Cardoso e a escola da Pide, em Sete Rios, apesar de ter vivido em Lisboa.

Sentia um arrepio à proximidade.

(Antes do 25 de Abril, claro)
Mano 69 disse…
«(...)as memórias dos atentados á dignidade humana nos primórdios da liberdade não serão certamente esquecidas.»
Concordando com o enunciado parece-me no entanto que no resto da informação o complexo “Fernando Rosas” está a atacar em força. Será?
Anónimo disse…
Ó MAE!!!!!!!!!!!!!!!!!!

EXPLIKA-ME PORQUE È QUE O WALL STREET INSTITUTE (PASCUELA) E O KIDS CLUB (PINADELA) É QUE FICARAM COM AS AULAS DE INGLÊS PAGAS PELA CMC!!!!!!!!!!!!!!!
Anónimo disse…
Ao mano 69:
Quererá por acaso referir com "complexo Fernando Rosas" que o visado sinta algum tipo de inferioridade pelo facto de ter travado a luta contra o antigo regime sob o anonimato?
Apesar de nenhuma especial simpatia sentir sobre a pessoa em questão parece-me que não lhe assenta bem a fama de cobarde.
Anónimo disse…
Carlos Esperança:
Eu vivia perto do Zoo e ia a pé para o Metro. E sempre fui lúcida, consciente e atenta. Mas não sabia de todo que aquele edifício era "escola" da Pide.

Quem explica hoje que, naqueles tempos, era "perigoso" falar com colegas de escola ou de trabalho. Mesmo que fosse sobre um livro que estivessemos a ler - e se o/a colega ou um seu familiar fosse um "bufo" à espera do mínimo argumento para nos denunciar e assim receber uma "comissão"?

Tenho para mim que alguma réstea desta "inhumanidade" (desculpem esta invenção dorida)+ defesa e manutenção de privilégios + soberba + indiferença = eu e os meus estamos safos, os outros que vão morrer longe. Depois remata-se tudo com bandeirinhas em tempos de futebol e está feita a Pátria e o orgulho lusitano.

Se eu fosse sádica, convidava os privilegiados a serem "utentes" do centro de saúde que serve os moradores de Alrafide - eu chamo-lhe o centro de sofrimento da Buraca.
cãorafeiro disse…
o que mais me choca neste negócio sórdido da sede da PIDE

É QUE HAJA QUEM SEJA CAPAZ DE DORMIR NAQUELE EDIFÍCIO.

mas para além da questão do edifício, o que é verdadeiramente preocupante é a questão da falta de memória em relação às violações de direitos humanos cometidos pelo regime salazarista.

tenho 30 anos, e lembro-me bem, não do regime salazarista, mas sim da operação de branqueamento de que este tem sido objecto.

começou pela minimização da gravidade dos actos desumanos cometidos, segundo a ideia de que o regime foi, ainda assim 'brando'.

isto foi facilitado pelo facto de muita gente alimentar uma ideias mitificada de um tempo glorioso em que não havia inflação,o pão e as rendas não aumentavam, etc,etc,etc.

também pelo desconforto sentido por muita gente pelo facto de uma certa esquerda, de que fernando rosas é o exemplo paradigmático, se auto-promover como defensora dos ideais da oposição ao regime. isto gerou o panico politicamente correcto que refere o mano69(curioso nick)... qualquer pessoa que venha falar desta questão é imediatamente assimilada a tais correntes, logo, muito preferem esquecer, por medo de serem confundidos...

POIS BEM... há que dizê-lo, não eram só os comunistas ou pessoal de extrema-esquerda que eram vítimas directas do aparelho repressor do estado novo. indirectamente, era toda a sociedade portuguesa. directamente, eram todos os que não se contentavam com o ideal «fátima, fado e futebol».

um exemplo concreto(especialemnte para o mano69), já que a história é feita de casos concretos e não de abstracções:

o meu pai era um mero funcionário administrativo, completamente despolitizado. trabalhava num jornal. por se ter oposto ao despedimento de 2 jornalistas que o chefe considerava serem 'do reviralho' e que o meu pai considerava ilegal mesmo em relação `as leis do trabalho então vigentes, foi ele próprio também despedido, e durante 2 anos, viu serem-lhe fechadas todas a portas.

também assim se fazia a repressão...
Anónimo disse…
Odete Pinto e caorafeiro:

A pedagogia da liberdade faz-se no dia a dia.

E que bem o fizeram nos comentários a um apelo que entendi, por dever cívico, dar publicidade.

O Ponte Europa tem apenas cerca de quatro mil visitas mensais. Gritem essa vossa denúncia em sítios com maior audiência.

Não esqueçam que se deixarmos de ser vigilantes acabaremos por ser vigiados, como aconteceu ao pai do caorafeiro e a tantos outros.
Anónimo disse…
SURREALISTA

No ano passado vi na Agenda de Lisboa (CML) anunciadas visitas ao edifício da ex-Pide na R. António Maria Cardoso. À minha curiosidade juntou-se o meu filho mais novo (32 anos) e lá fomos ao local de encontro - a Brasileira do Chiado. Estavam lá também, além de outros portugueses, 1 espanhol e 1 italiano.
Chegaram então dois simpáticos membros do Museu República e Resistência, acompanhados de um senhor que tinha estado detido em longo interrogatório no edifício a visitar.

Chegados ao local, os dois simpáticos "guias" fizeram um eloquente intróito sobre as "filantrópicas actividades" que ali costumavam ocorrer antes de 25 Abril 74.

Como o passeio é estreito e o ruído de trânsito intenso não permitia que todos ouvíssemos, lá rumámos todos ao Café Chiado, sob o edifício do Centro Nacional de Cultura.
Houve uma troca interessante de histórias passadas (um tio meu por afinidade, Francisco Ramos da Costa, preso várias vezes e exilado, deixara-me até humorados episódios passados).
O pior foi que o espanhol e o italiano, apesar de interessadíssimos em tudo ouvir, não perceberam lá muito bem (nem nós) como é que uma visita guiada era só ver o edifício - da rua!
Mano 69 disse…
Ao Anónimo das 11:08AM

Não. O complexo “Fernando Rosas” é uma doença que ataca todos aqueles que apresentam sempre os maiores galardões de antifascistas. Ou seja, existem pessoas na nossa terrinha que detêm o exclusivo da representação da luta contra o fascismo (seja ele qual for).
Essas pessoas não sendo cobardes e tendo mesmo sentindo na pele a perseguição, arvoram-se em mandatários da liberdade, igualdade e fraternidade.
É só isso e convenhamos que não é pouco.

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