Homo homini lupus

«O homem é o lobo do homem» mas alguém tem de pôr ordem na alcateia. A força com que alguns defendem o que lhes sobra só é comparável com a debilidade de muitos em conseguir o que lhes falta.

A democracia, oferecida por um grupo de militares, logo afastados e prejudicados nas suas carreiras, cedo foi confiscada pelas classes que, já na ditadura, eram privilegiadas. Os frutos do crescimento económico foram confiscados por corporações profissionais enquanto o fosso entre os ordenados maiores e os menores não parou de acentuar-se.

É frágil a democracia que não tem em conta os aspectos económicos e sociais. De pouco vale a quem perde o emprego, vive inseguro ou vê vedado o acesso ao mercado do trabalho.

Nunca o egoísmo atingiu um grau tão elevado nem a insensibilidade social chegou tão longe. Através das Ordens, tumores corporativos que pululam como cogumelos, há classes que se atrevem a definir como, quando e quem pode entrar.

Os privilegiados não abdicam de regalias, tantas vezes imorais e obscenas, quando o erário público não comporta os compromissos assumidos. Os direitos adquiridos são respeitáveis mas também a vida é um desses direitos e caduca sem aviso prévio.

Após as greves dos poderosos, virão desempregados, trabalhadores sazonais e jovens à procura do primeiro emprego a exigir, desesperados, a inclusão e a ameaçar a opulência, a segurança e a arrogância dos que se repoltreiam à farta na débil mesa do orçamento. Estes, refractários à solidariedade, só à força aceitarão a justiça social.

Comentários

Anónimo disse…
Sr. Carlos Esperança:

Gostei do texto, talvez por me parecer estar influenciado pelos mais nobres ideais comunistas, ou estou enganado?
Anónimo disse…
Caro anónimo:

A solidariedade e a justiça social são ideais que não carecem de um adjectivo partidário.

Eu exprimo pontos de vista pessoais sem abandonar os afectos e ideais que me podem aproximar de uma das formações partidárias existentes.
Anónimo disse…
Berith:

Não defendo o igualitarismo material nem a apropriação colectiva dos meios de produção.

Conheço demasiado bem, pela história, a perversão e desastre de várias utopias.

Defendo o papel regulador do Estado para que o ultraliberalismo não destrua a classe média.

E sou partidário da redução do leque salarial praticado pelo Estado que chegou a ser excessivamente curto em 1975 e é obscenamente largo nos tempos que correm.

Dou-lhe exemplos europeus que se aproximam dos meus desejos.
Anónimo disse…
berith:

Na sua opinião (presumo que um liberal assumido) a CGD, o Banco de Portugal, e qualquer participação no capital de espresas estratégicas, deviam passar para os privados.

Passem os Caminhos de Ferro!

Um dia vão querer os tribunais, as Forças Armadas e a Polícia privatizados.

Já faltou mais.

Qaulquer social-democracia que se preze tem um modelo social de protecção. E o leque salarial nunca atinge a disparidade que a mim me choca e a si não.

São estas divergências que certamente nos fazem ter opções políticas diferentes.Digo-o sem azedume ou crítica.

É do princípio da contradição que nasce a síntese que balizará o nosso futuro colectivo.
Geosapiens disse…
...mas as classes... dentro de um estado irão sempre reagir assim...pelos menos as que se julgam isso...ou se julgam privilegiadas...não sei em relação a que outros...numa democracia as diferenças deveriam ser esbatidas e não reforçadas...como os militares ou os magistrados...que lembremo-nos cumprem um serviço ao publico...e não se devem servir deste...
...quando á redução do estado ao mínimo...digamos...que deve existir um espaço médio de intervenção pública...
...um abraço...
cãorafeiro disse…
carlos: de acordo com tudo...

para as gerações abaixo dos 35 anos de idade a situação é desesperante, e portugal não oferece qualquer perspectivas de um futuro digno às pessoas que querem trabalhar sem se submeterem à prepotência de um sistema controlado por quem já conseguiu instalar-se.

só não concordo com uma coisa: a comparação com os lobos... os lobos, no seio da alcateia, são muito mais solidários que os homens, e eu, como descendente dessa nobre espécie tão deprezada pelos homens, mas que ainda assim insiste em não se extinguir deixo aqui o meu protesto.

melhor seria que comparassemos portugal com um ninho de ratazanas gordas que se alimentam dos ratos mais pequenos, e que, quando têm falta de espaço se devoram umas às outras...
Anónimo disse…
Caorafeiro:

Obrigado pela solidariedade e o humor.

Também subscrevo o teu comentário.

Abraço.
Anónimo disse…
O sr. Carlos não disse quais são os privilégios dos jj. Acha que deviam receber horas extra ou subsídio de isenção? (lembro aqueles interrogatórios até ás tantas da madrugada, dia após dia). Deixar de ter automóveis de serviço? Ter vencimento de 1/2, do dobro, do triplo, do declarado pelos sr. advogados? Passar a ter alguns direitos comuns, como liberdade de escolha de residência e movimentação, menos lei da rolha, outros vencimentos, etc..
Não escondo que "opino" sobre a motivação da "crispação". Se o poder é absoluto é mesmo para ser absoluto. Vem da maioria. Como nos lembramos de há alguns anos, o que quer quem manda e nomeia e controla, é fazê-lo sem grandes contrariedades. Antes eram as "forças de bloqueio" e o "deixem-me trabalhar". Se houver gente independente e com espinha dentro da engrenagem a coisa não irá tão bem. Lembro os problemas da tribo "orange" com o pres. do tribunal de contas, anos atrás. A tribo "pink" começou já a prevenir o conflito. E os jornalistas, quando lhes chegar a "febre" da crítica livre, vão parar à prateleira (nada de novo).
Alguém pensará que o nosso PM não quer o mesmo que Berlusconi? Está na natureza do poder. O estado e o povo que se trame.
Anónimo disse…
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