Vêm aí mais greves
A derrota autárquica do PS é um estímulo para a agitação social, legítima e, em muitos casos, justa, denunciadora dos sacrifícios que uma parte da população já suporta.
A perda progressiva do poder de compra dos funcionários públicos nos últimos três anos é um facto indiscutível. Os motivos de queixa são óbvios e com tendência para se agravarem em função do próximo orçamento.
Acontece que as opções do Estado estão condicionados por uma economia estagnada, o preço exorbitante do petróleo e a dificuldade prática de aumento dos impostos.
Assim, resta saber se o Governo se intimida com os mais poderosos e lhes mantém as regalias à custa dos mais desfavorecidos ou se, reclamando-se do socialismo (social-democracia seria um termo mais adequado), faz repercutir o ónus pelos que melhor o podem suportar.
As diferenças de vencimentos entre a base e o topo atingem proporções obscenas agravadas pelos privilégios acessórios de quem mais ganha.
Vejo nas dificuldades actuais a forma de corrigir assimetrias e introduzir alguma justiça social, a par da racionalização que é preciso imprimir nos serviços do Estado e, em especial, nas autarquias e Regiões Autónomas.
Podem perder-se todas as eleições, não pode perder-se o País. E é altura de confrontar a Oposição com as medidas alternativas que tomaria no estado actual da economia.
Comentários
Na minha opinião a " derrota do PS" é muito mais mediática que real. Perderam Câmaras mas ganharam votos e num quadro de enorme abstencionismo. O total dos votos directos no PS supera em 404.514 os do PSD. Mesmo considerando as coligações da direita PS x PPd+PP o saldo continua a ser favorável ao PS por 1575 votos. Claro há o tal método de Honte e aí há muitos votos perdidos, nomeadamente sempre que há maiorias absolutas.
Depois não concordo que tenham sido apenas os F. Públicos a perder poder de compra. Todos perdemos, e os 450.00 desempregado, que também votaram,esses perderam mais e são todos do sector privado...
Não estou a ver o que é que se pode prever no OGE 2006 que prejudique mais as classes trabalhadoras. A excepção será o custo da energia. A restante redução de despesas tem que ser feita, e será, cortando nas mordomias e escandalosas regalias corporativas.
Não há escolha num mercado tão deprimido e num consumo que apenas cresce nos bens supérfluos e ostentatórios: As receitas de IVA, IRS e IRC estão ligadas à existência de um mercado, de um determinado nível de consumo, abaixo do qual tudo falece e o défice dispara para níveis de descontrolo financeiro.
Mas já concordamos na oportunidade para introduzir alguma justiça social e nno controlo de despesas faraónicas nos municípios e nas Reg. Autónomas.
E aplaudo por fim a necessidade de responsabilizar os habituais bota-abaixo, militantes dos vários partidos da oposição que, surfando na onda dos desgostos corporativos, destilam ideologia contra tudo. São até contra as aulas de Inglês, que pasme-se, são facultativas!
Manuel Ferrer/ Homem ao Mar!
Abraço
Manuel Ferrer
Claro que não tenho objecções à referência a este post, pelo contrário. E agradeço.
Não vejo, de resto, grandes divergências na análise de ambos, salvo na derrota do PS que eu encaro como tal e, apenas, considero injusta.
Abraço retribuído.
O PS perdeu no numero de camaras, no numero de mandatos e só mais à frente saberemos se nao perdeu algo mais significativo: a confiança dos portugueses.
O PS só nao poderá ter perdido a vontade de atacar direitos a mais num pais com cada vez menos deveres.
Infelizmente a conjuntura é ingrata mas isso nao deve turvar a visao, se nos custa votos que valha pelo menos a pena, como alguem disse:É um trabalho sujo mas alguem tem de o fazer.
O PSD sabe que os custos serao altos, semeia para colher, aproveita os ventos, surfa a onda, o PS deve ter essa consciencia.
Só assim se poderao ler as afirmaçoes de dias loureiro primeiro e marques mendes depois:Estes resultados nao colocam em causa a estabilidade politica governativa. Ou seja os laranjas vao ter sol na eira e chuva no nabal ate ao fim da legislatura, medidas impopulares que acertam agulhas de governabilidade, e quando as legislativas chegarem, com um PS desgastado e em conflito com as corporaçoes mas com as contas publicas já recuperadas, eles tomam conta da situação... por muito tempo.
Restará alguma boa consciencia nao mais.
Abraço fraterno
«Vejo nas dificuldades actuais a forma de corrigir assimetrias e introduzir alguma justiça social»
seria bom que fosse assim, e eu próprio estaria disposto a aceitar todos os sacrifícios, mas não vai ser assim.
o estado, devido à integração europeia, apenas pode intervir na economia através do modelo neo-liberal: redução nas despesas, e pressão no sentido da baixa real dos salários. outra estratégia seria baixar os impostos, mas o de´fice não o permite.
qualquer destas estratégias leva ao agravamento das desigualdades.
quando a retoma económoca vier, não vai ser para todos.na irlanda, por exemplo, a pobreza aumentou consideravelmente nos últimos 10-15 anos, embora o país se tenha desenvolvido.
uma política de esquerda está-ns vedada pelo espartilho da união económica e monetária.
É verdade que os Governos perderam a possibilidade das engenharias que o controlo sobre a moeda permitia.
É verdade que a União Europeia não deixa grande margem de manobra aos Governos regionais (nacionais).
É verdade que o neoliberalismo ganhou a primeira batalha.
MAS, a justiça social e alguma equidade ainda são possíveis.
Eu acredito nisso sem a demagogia (não tua) de que se deve nivelar por cima.
Sabemos que é impossível gastar mais com o aprelho do Estado.
Espero que haja alguma contenção com os gastos municipais.
São os partidos que, ano após ano, eleição após eleição, mentiam deliberadamente nos valores que declaravam ao Tribunal Constitucional. A mentira estava de tal forma constitucionalmente consagrada que os dirigentes desses partidos ganharam alguma vergonha na cara e decidiram mudar a lei.
Este comportamento de socialistas, social-democratas e democratas-cristãos relativamente à campanha eleitoral que se avizinha prova que só a lei mudou, porque o logro vai continuar.
É muito português, não é? É. Faz-se uma lei correcta, ela é ignorada, no lugar de mudar a justiça e punir os incumpridores, é a lei que se muda.
Mas também é muito brasileiro. Com a vantagem de eles terem uma maneira mais criativa de abordar o problema: «a lei não pegou».
A nossa anterior Lei de Financiamento dos Partidos e das Campanhas «não pegou». Mas era boa e dava a resposta correcta: limitar as despesas de campanha. Os limites eram ridículos. Um autêntico convite à infracção.
Meio caminho para tornar tudo ridículo.
Eram ridículas as declarações de gastos que os partidos tinham a coragem de entregar.
Era ridícula a posição do Tribunal Constitucional, que se limitava às coimas sem poder atacar o essencial.
Era ridícula a Assembleia da República, formada por cúmplices que conheciam por dentro «o problema», mas pagavam alegremente as coimas.
O essencial do problema é a origem do dinheiro. Quem paga? Quanto paga? A quem paga? Essas são as perguntas que o sistema político nunca permitiu que fossem esclarecidas. E quando falta transparência, é sinal que se esconde a outra questão, afinal, a mãe de todas as perguntas: porque paga?
Proibir o financiamento privado aos partidos não resolve nada, porque deixa intacta a raíz da corrupção. Ela antes era somente parcial. A diferença é que agora passa a ser total. Com o enorme inconveniente que obriga a pagar mais impostos. (...)»
in Jornal de Negócios Online, Opinião de Sérgio Figueiredo, 18 de Agosto de 2005
Com esta pouca vergonha vocês ainda acreditam em justiça social? Quem é que aperta o cinto? Os políticos não deviam dar o exemplo em vez de votarem a favor do aumento do seu salário?