Iraque - Três anos depois
Faz hoje três anos que a invasão do Iraque, na sequência da infeliz reunião dos Açores, deu início a uma guerra sem fim à vista e a uma catástrofe de dimensão imprevisível.
A mentira que serviu de pretexto – armas de destruição maciça –, e os objectivos que se alegaram – a democratização do Iraque –, estiveram à altura da insensatez demente que conduziu à tragédia. Nem as ligações à Al Qaeda se verificaram.
Hoje, após mais de 100 mil iraquianos mortos e centenas de milhares de estropiados, é a guerra civil que está iminente, a fome e a miséria que alastram e o risco de que sunitas e xiitas se envolvam numa guerra fratricida que contamine o Médio Oriente.
Com o Corão a servir de inspiração, a Constituição do Iraque não é democrática, o ódio cresce e o País está à beira da desintegração.
Bush, que, por modéstia esconde a cultura e disfarça a inteligência, ainda não admitiu o erro da cruzada que julgou inspirada pelo divino e destinada a obter petróleo abundante;
Blair fala em responder perante Deus, depois da condenação dos ingleses;
Aznar, falhada a medalha de ouro do Congresso dos EUA, aliciando congressistas, expia o crime em cruzadas morais, alinhado com o Opus Dei;
Barroso, depois de ter endossado o Governo português a Santana Lopes, refugiou-se na Comissão Europeia – os trinta dinheiros da cumplicidade iraquiana.
Entretanto,
Na Palestina, o Hamas ganha as eleições tendo como projecto democrático a sharia e a erradicação de Israel.
No Irão, o presidente Mahmud Ahmadineyad, fanático e belicista, constrói a bomba atómica, desafia os EUA e atrai árabes, turcos, magrebinos e indonésios para a luta islâmica contra a civilização.
Da África à Ásia os senhores da guerra digladiam-se entre si em lutas tribais e esperam quem os unifique sob a bandeira do ódio à democracia e à laicidade.
Nos EUA a cruzada neoconservadora revitaliza-se com o acesso ao Supremo Tribunal de juizes indigitados por Bush, a lembrar-nos que o termo «fundamentalismo» nasceu para caracterizar o protestantismo evangélico norte-americano do início do séc. XX – proselitismo, recusa da distinção entre o sagrado e o profano, a difusão do deus apocalíptico, cruel, intolerante e avesso à modernidade, saído da exegese bíblica mais reaccionária.
Em vez de um combate cultural pela civilização, na defesa da liberdade e da tolerância, o radicalismo religioso agrava-se. A Fraternidade S. Pio X, do defunto Lefèbvre, que morreu excomungado por Roma, acaba de regressar ao seio do Vaticano – uma vitória das forças mais intolerantes e retrógradas.
Comentários
Claro que essa crise começa muito antes da invasão do Iraque. Começa na revolução industrial que trouxe ao Mundo a exclusão de muitos povos, sumariamente condenados ao subdesenvolvimento e à exploração pelas potencias indusriais e militares. Foi a época dos impérios e dos imperialismos.
Depois, houve muitos "sobressaltos históricos", dos quais se salientam as guerras mundiais e o re-ordenamento do mapa político e cultural do Mundo... etc. Depois, caíu a cortina de ferro...
Hoje, há povos (muitos)que se sentem empurrados para fora da história. Empurrados para a sobrevivência, uma desesperada sobrevivência, é-lhes servida em bandeja de prata pelos profetas do misticismo religioso, o futuro. Um triste futuro.
Para aqueles que Senhor Bush representa e é uma caricata marioneta ou para os mullahs que intrepretam os livros ao sabor dos seus interesses e da alienação.
Assim,três anos depois, estamos nisto:
Louvado seja Deus
ou
Oxalá
E o editorial de ontem no Público, sobre os 3 anos de guerra no Iraque, subscrito por JMF?
E que tal a teoria do JMF discorrendo que o Saddam fez "bluff", enganou o Mundo, sobre a existência ou não de armas de destruição maciça?
Isto é, transformar a guerra do Iraque num jogo de poker onde o bluffista se pode lixar.
Bravo!
Mesmo que seja director de um jornal de grande divulgação.
Quanto ao Iraque ... parece-me que o Saddam tem mais cabelos brancos!
Felizmente temos o privilégio de ler as suas crónicas para compensar a propaganda reiterada do JMF, um homem inteligente mas demasiado imaginativo e... pouco realista.
É uma pena..., mas tudo o que o Esperança afirma corresponde à cristalina verdade.