Faleceu Carlos Fabião
Poucos foram tão mal conhecidos e injustamente tratados. O herói de Abril, democrata indefectível e brilhante militar deu origem ao mito de radical perigoso.
Quem conheceu o homem afável e superiormente inteligente, o patriota que exerceu as mais altas funções militares e civis, sabe que é falso o rótulo que lhe colocaram para benefício de alguns trajectos políticos.
Foi maltratado sem se queixar e manteve-se coerente e silencioso no ostracismo a que foi votado.
A democracia deve-lhe muito. Portugal também. Morre no aniversário da Constituição.
Ao cidadão exemplar, herói e patriota, aqui fica a expressão de gratidão e o testemunho da admiração por uma das grandes figuras do Séc. XX, em Portugal.
Sem Carlos Fabião é também Abril que fica mais pobre.
Comentários
Para todos os que viveram o Estado Novo e a Ditadura, sabemos que este militar teve a coragem de se indignar contra a Ditadura.
Lutou de forma determinada e eficaz contra a o Estado Novo e contribiu para a Democracia, sem que esta o tenha reconhecido condignamente.
Mas, perduraram os seus ideais e seus valores.
Como disse W. Churchill: " A Democracia pode ser o pior dos regimes políticosa, excluídos todos os outros".
Parabéns e obrigada ao Carlos Esperança por se ter recordado de Carlos Fabião.
Comparado, porém, com tantas figuretas, que há trinta anos andam aos pinotes na paisagem, a governar a vidita, (e muitas vezes o vilipendiaram), a sua figura ganha dimensão.
Alguém disse que o homem é ele próprio e a sua circunstância. Fabíão faz parte daquela geração de militares que teve o mérito de ajustar as contas com a história. Não é tarefa pouca!
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.
Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.
Poema de José Carlos Ary dos Santos
Esses tantos têm a obrigação moral e civica de o dar a conhecer.
Para que seja uma referência para muitos mais.
Portugal, a Democracia e a ética republicana merecem-no.
Em 1973, denunciou nos Altos Estudos militares um golpe de Estado fascista preparado por Kaulza de Arriaga.
Alguém imagina a coragem que era necessária em 1973 para denunciar perante os Oficiais do curso de Estado-Maior um golpe de extrema-direita?
Quem nos ministrava a instrução? O ícone do 25 de Abril: o Arvorado em Comandante de Castelo Carlos Fabião. (o Comandante de Castelo chamava-se Tovar de Lemos).
Por conseguinte o herói bem cedo manifestou tendências militaristas; quanto a lutador pela Democracia, peço licença para duvidar.
Também é sabido que se inscreveu na Maçonaria.