Portas - um erro histórico




Paulo Portas, ex-director do Independente, deputado do CDS e director espiritual da «banda» parlamentar do seu partido, produziu esta tarde, a propósito da comemoração da Constituição da República, a seguinte afirmação: «A Constituição de 1976 é um erro histórico: atrasou economicamente o país, equivocou-o socialmente e excluiu-o da realidade contemporânea».

Não se pode exigir a Paulo Portas o discernimento que lhe faltou no entusiasmo com que apoiou a invasão do Iraque; a sensatez que não teve ao atribuir à senhora de Fátima a decisão de afastar de Portugal a maré negra do naufrágio do Préstige; o sentido de Estado que teria evitado encomendar dois submarinos (um para subir, outro para descer) quando as condições financeiras do País se tinham deteriorado e a própria Nato os considerou dispensáveis; a lucidez de não confundir a condição de ministro da Defesa com a de parente da Irmã Lúcia a cuja missa de familiares assistiu.

Paulo Portas não é um epifenómeno da nostalgia salazarista, é um demagogo inteligente, um reaccionário perigoso e um poço de ambição política.

As razões antigas do nosso atraso estão bem diagnosticadas nas «Causas da Decadência dos Povos Peninsulares», de Antero de Quental, e as recentes, numa ditadura de meio século, na guerra colonial, no ensino reduzido para 3 anos de escolaridade para as meninas e 4 para os meninos, no analfabetismo, na mortalidade infantil e na emigração que o Salazarismo provocou.

Para Portas, talvez a Constituição autoritária de 1933 tivesse colocado Portugal na vanguarda dos mais civilizados países da Europa, mas foi o contrário que sempre aconteceu. Portas não tem o carisma de Le Pen, nem a fortuna de Berlusconi. Portas nasceu numa época diferente de Hitler, Mussolini, Salazar, Franco e Pétain. Portas só pode resignar-se a ser o mordomo empertigado de um qualquer líder do PSD.

É este o drama de quem tem um passado suspeito, um presente penoso e um futuro pouco promissor.

Portas é um erro histórico, um erro de casting num país europeu e democrático.

Comentários

Anónimo disse…
O Sr. Portas está no pleno direito de discordar da nossa Constituição.
A democracia dita socialista (na sua boca) permite-lhe isso. Permite-lhe até dizer isso na Casa da Democracia. Mas ninguém sabe qual a Constituição que o Sr. Portas preconiza. Nas revisões constitucionais - essencialmente negociadas entre o PS e o PSD - o CDS mostra-se complacente. Por alguns dias. Depois voltamos ao mesmo é a Constituição. Na praça pública, falam todos os dias na estabilidade. Na sombra, contestam torpedeiam a Lei Fundamental fulcro e base dessa estabilidade.
Deste modo é que não andamos para a frente. Os partidos que têm rebuço em aceitar a lei fundamental - dirigem parte significativa da sua actividade a contestá-la - não permitem, de facto, o desenvolvimento nacional.
Não são um "erro histórico" são um pesadelo democrático.
Quando classifica a Constituição gerada pelo 25 de Abril como "erro histórico", Portas, de facto, lamenta que a libertação do Estado Novo tenha acontecido. Devia ter a coragem de assumir isso.
Anónimo disse…
e-pá!

Parabéns pelo comentário. Lúcido e certeiro.
Anónimo disse…
Uma saudação ao Carlos Esperança, por este post!
andrepereira disse…
Amigo Esperança,
Permita-me discordar do facto de ter utilizado aquela boina e aquele cabelo para caracterizar o Sr. Portas. Penso que é um insulto à boina.
Sugiro mesmo que mude a fotografia e ponha simplesmente a imagem ridícula do queque de cascais que ele sempre foi e será!
Anónimo disse…
Paulo Portas não presta.

Nunca prestou.
Não é perigoso. È ridiculo.
É um populista, demagogo,daí a a auditório que tem. Reduzido.

Nada mais.
Anónimo disse…
Agradeço as manifestações de apreço e declaro que acolhi a sugestão do André Pereira, mudando a foto do cavalheiro.
Anónimo disse…
Cavalheiro!?
Não estarás a promovê-lo?

Não enganaste-te. Querias dizer:

Carroceiro.
Anónimo disse…
Portas é a matriz cultural da nostalgia salazarista.
Anónimo disse…
Ou a matriz diletante do salazarismo neo-cristão e
populista

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