Boa decisão
Ministério da Saúde cria fundo público para retirar poder da ANF
O Ministério da Saúde vai usar uma instituição pública para garantir o pagamento atempado às farmácias das comparticipações estatais na venda de medicamentos.
A poderosa Associação Nacional de Farmácias e o seu eterno presidente ficam limitados na capacidade de pressão que, desde a passagem de Costa Freire pelo ministério de Leonor Beleza, fizeram sobre todos os Governos.
Comentários
Mais uma medida corajosa deste governo.
Mas será que ainda não é cedo para aplaudir????
È que algumas tambem corajosas foram mandadas paras as calendas...se bem que essas tivessem outros destinatários quiça mais "poderosos"
Aliás, a medida não é inédita. Só que a ANF sempre se riu destas ameaças.
A ANF é, neste momento, um dos maiores lobbys de Portugal.
É uma organização adulta, implantada no terreno, com diversificação dos sectores de actividade, não estando dependente dos dinheiros (atempados ou não) do Governo. Os negócios são muito mais vastos. A farmácia é uma pequena montra pública porque a verdadeira dimensão da loja (ANF)é gigantesca. Vai da distribuição até aos consórcios com os grupos privados de saúde.
O último contracto entre o Governo e a ANF, anunciado por Socrates na Assembleia da República, ao questionar (de leve) a propriedade das farmácias, abre-lhe diversas portas por onde vai jorrar muito dinheiro. É por isso que a ANF o assinou.
Hoje, para a ANF, pretender retirar-lhe a parcela das taxas de juros decorrentes dos pagamentos com atraso é acenar com fantasmas. As suas fontes de rendimento já são outras. É tarde. Os "ovos" já foram postos em vários cestos.
Por outro lado,quem conhece o Estado Português sabe que a decisão do Ministério da Saúde - aparentemente uma "boa decisão" - é uma pura jactância. Não decorrerá muito tempo até que comecem de novo os atrasos. O Estado português é assim.
E, todos sabemos, que não será a tal "instituição pública" (CGD?) que o tornará, da noite para o dia, uma "pessoa de bem".
Até porque o dinheiro não se inventa.
Estou em crer que o Estado não tem pago a horas porque não tem dinheiro para isso. E não por qualquer outra razão que, a existir, seria gravíssima.
Esta medida parece-me mais em consonância com o galopante aumento de custos da assistência medicamentosa. Trata-se, portanto, de mais uma manobra de engenharia financeira visando promover uma encapotada "desorçamentação" e, essencialmente, tentar iludir o defice.
Agora, pensar que esta proposta medida diminui a capacidade de pressão da ANF sobre o Governo é uma pura ilusão ou... uma futura desilusão.
Espero que, desta vez, não tenha razão. O principal negócio da ANF era a intermediação financeira e, aí, a teta tem obrigação de secar.
A diversificação dos investimentos faz com que se mantenha com grande poder mas o rombo, no meu ponto de vista é inevitável.
Aliás, o aparecimento de contestação ao eterno presidente, Dr. Cordeiro, é um sintoma de que o poder lhe escapou.
A ver vamos, como diz o cego.
A ANF é uma "major player" na área da saúde.
Para além das farmácias entrou forte no domínio hospitalar. Detém 30% do capital da Mello Saúde, estando presente nos Hospitais e Clínicas da CUF e é co-gestora do Hospital Amadora-Sintra.
Vai entrar, também, na mais recente aposta do Min. da Saúde - os cuidados continuados.
Detém outros 30% da "Mello Residências e Serviços", vocacionada para os problemas inerentes à 3ª. idade.
A ANF adquiriu, em Espanha, a PULSO, uma empresa de software para farmácias, que emprega mais de 500 trabalhadores.
Depois há a CONSITE, da qual é a única proprietária, que se dedica ao ramo do software para farmácias, robôs, mobiliário e soluções de «chave na mão». Como clientes têm quase 3 milhares de farmácias, 400 clínicas, laboratórios, hospitais, mas também a banca. Mais, a CONSITE é já uma multinacional, com invejável posição - a nível nacional - no domínio das tecnologias da informação e já estendeu a sua actividade América Latina, a Espanha e ao Médio Oriente.
A mais recente aposta foi tornar-se uma empresa estratégica no ramo da distribuição de medicamentos, adquirindo 49% da filial portuguesa da multinacional britânica ALLIANCE UNICHEM, uma das maiores distribuidoras mundiais de medicamentos.
A ANF passou a controlar 2/3 do mercado através da Alliance UniChem, e das cooperativas de farmacêuticos.
E, podiamos continuar com mais exemplos...
No meu entender a intermediação financeira já foi chão que deu uvas...
Agora há interesses mais vastos.
Posições estratégicas no sector da saúde a nível nacional que condicionam qualquer decisão governamental nesta área. Isto é que é grave.
Criou-se o "monstro" que, neste momento, tem capacidade para ameaçar os eventuais (ou impulsivos) candidatos a "domadores".
Quem conhece o sector da saúde tem sérias dúvidas sobre esta medida pomposamente (quem o viu na TV diria arrogantemente) anunciada por Correia de Campos.
A ANF não é uma associação. É uma holding mascarada de associação.
CE:
A ANF só aceitará esta medida se tiver outras compensações que a torna cada vez mais independente das medidas governamentais. Quer sair do âmbito do SNS e concentrar-se no dito "mercado". Onde sentimos que a impunidade grassa e a regulação é, digamos, virtual.
Quiçá, quer entrar no "negócio" dos genéricos. É só um alvitre.
Será, portanto, prudente não manifestar "entusiasmos" precoces.
Temos de aguardar que o Governo evolua, isto é, passe da fase dos "anúncios" para as realizações.
Não será?
Só quis referir o institucional, deixando de fora as ligações tentaculares...
Por exemplo, as "cooperativas de farmacêuticos" estão nas mãos de homens de confiança da direcção da ANF, mas segundo me parece não são nominalmente sua propriedade.
Nos genéricos a mesma coisa.
O que eu insinuei (só insinuei) é que poderiam aproveitar o momento para institucionalizar (com a benção governamental)uma posição relevante na área da produção.
Assim ultrapassariam eventuais problemas com a APIFARMA,...
Todo este problema faz-me lembrar uma desaparecida figura do mundo dos negócios: Onassis.
Segundo rezam algumas crónicas Onassis teria começado a sua vida como paquete que vendia tabaco no hall de hotéis. Depois, construíu o império que todos conhecemos.
Imagine que, depois de ser um potentado económico no domínio da armação, transportes marítimos, etc., o governo lhe proibia a venda ambulante de cigarros.
Dá para rir, não dá?
» » »