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Quanto à elevada votação dos ultranacionalistas na Sérvia, sem dúvida que a secessão do Kosovo como corolário da intervenção da NATO é um factor que a explica. No entanto, há outros factores que jogam a favor dos ultranacionalistas (cujo líder, Vojslav Seselj, se encontra detido preventivamente em Haia, acusado de genocídio e da liderança de paramilitares que estiveram em particular, envolvidos no massacre de Srbrenica).
1) A Sérvia e os Sérvios atravessam um momento de suprema humilhação nacional. A Sérvia perdeu todas as guerras que travou nos anos 90, directa ou indirectamente, contra os seus vizinhos com o objectivo de assegurar a sua posição de hegemonia nos Balcãs. Perdeu a guerra dos 10 dias contra a Eslovénia, a guerra da Bósnia, a guerra contra a Croácia, e finalmente a intervenção da NATO no Kosovo. O país viveu durante mais de dez anos em economia de guerra, isolado, embargado e sob o autoritarismo de Milosevic. Após a intervenção/agressão da NATO, parte significativa da infraestrutura foi destruida. Finalmente, no ano passado, a nação que mais afinidades culturais, históricas e linguísticas, o Montenegro, dá o ipiranga.
2) Os Sérvios foram e são sujeitos a um tratamento como cidadãos de segunda por parte dos países da Europa Ocidental. Um excelente exemplo deste tratamento é o regime de vistos imposto aos Sérvios: um cidadão Sérvio que pretenda deslocar-se à União Europeia, seja por que motivo for, necessita de obter um visto, tendo que mostrar todas as reservas de alojamento, bilhetes de entrada e saída, contrato de trabalho, extracto de conta bancária, seguro de saúde, etc., podendo (o que acontece frequentemente) o visto ser recusado por mera prepotência do funcionário consular. Tal regime nunca foi aplicado quer à Croácia, quer à Eslovénia. De uma forma geral, todos os passos da Sérvia rumo à UE são travados por atitudes deste calibre.
3) A Sérvia, que nunca na sua história conheceu verdadeira democracia (excluindo o breve período entre 1918-1929), não conseguiu, depois de esconjurado Milosevic, efectuar as necessárias reformas rumo à democracia (excluindo o período em que Zoran Dindic foi Primeiro Ministro, tendo este sido assassinado a mando dos grupos de pressão que pretendiam e pretendem conservar o establishment). O que torna fácil a ascensão dos ultranacionalistas face aos democratas que não conseguem fazer as reformas necessárias para atingir a prosperidade tão almejada pelo povo Sérvio.
4) Há dois grupos de pressão que procuram travar a estabilização democrática na Sérvia. Um deles o exército (por ser tão forte, nunca foi possível a qualquer líder democrata entregar o General Ratko Mladic ao tribunal da Haia), o outro os magnatas que emergiram da economia de guerra (que sabem que têm mais a ganhar com a instabilidade e o radicalismo e a fazer negócios com os oligarcas russos que com a democracia, a inerente necessidade de prestação de contas, e as regras europeias de concursos públicos).
5) A economia de guerra, o isolamento e a hiperinflação provocaram a destruição da economia, do sistema de saúde e de segurança social. Não deixa de ser um factor de reflexão o facto de a grande maioria dos votantes do SRS (partido ultranacinalista) serem reformados com pensões de miséria, desempregados de longa duração saudosistas do socialismo e refugiados oriundos da Croácia, da Bósnia e Herzegovina e do Kosovo. Obviamente que a lenta e dolorosa marcha rumo à democracia e à UE causa frustrações entre aqueles que antes de 1990 tinham um emprego estável e bem remunerado, pensões de reforma razoáveis, e um sistema de saúde adequado, e que hoje vivem precariamente.
Diversos são os factores que levam parte esmagadora do povo Sérvio a votar nos ultranacionalistas. O cataclismo da nação Sérvia durante as duas décadas só pode levar a dois resultados: ou à catarse reformista, ou ao rancoroso complexo de vítima e desejo de vingança. É este último que é aproveitado pelos ultranacionalistas para os seus fins nefários. E a UE tem o dever de estender a mão ao primeiro, desenvolvendo uma estratégia integrada de integração de todos os países dos Balcãs Ocidentais. Creio contudo que algumas das exigências da UE, que até agora têm sido decisivas para o congelamento da pré-adesão da Sérvia não deverão deixar de ser atendidas, nomeadamente a entrega dos suspeitos de genocídio Ratko Mladic e Radovan Karadic ao tribunal de Haia.
PS. A Sérvia já começa a pagar a sua factura pela ajuda do padrinho russo na causa perdida do Kosovo: 51% das acções da Naftna Industrija Srbije, empresa monopolista de gás e petróleo da Sérvia vão ser vendidas por 1% do seu valor à GAZPROM.
1) A Sérvia e os Sérvios atravessam um momento de suprema humilhação nacional. A Sérvia perdeu todas as guerras que travou nos anos 90, directa ou indirectamente, contra os seus vizinhos com o objectivo de assegurar a sua posição de hegemonia nos Balcãs. Perdeu a guerra dos 10 dias contra a Eslovénia, a guerra da Bósnia, a guerra contra a Croácia, e finalmente a intervenção da NATO no Kosovo. O país viveu durante mais de dez anos em economia de guerra, isolado, embargado e sob o autoritarismo de Milosevic. Após a intervenção/agressão da NATO, parte significativa da infraestrutura foi destruida. Finalmente, no ano passado, a nação que mais afinidades culturais, históricas e linguísticas, o Montenegro, dá o ipiranga.
2) Os Sérvios foram e são sujeitos a um tratamento como cidadãos de segunda por parte dos países da Europa Ocidental. Um excelente exemplo deste tratamento é o regime de vistos imposto aos Sérvios: um cidadão Sérvio que pretenda deslocar-se à União Europeia, seja por que motivo for, necessita de obter um visto, tendo que mostrar todas as reservas de alojamento, bilhetes de entrada e saída, contrato de trabalho, extracto de conta bancária, seguro de saúde, etc., podendo (o que acontece frequentemente) o visto ser recusado por mera prepotência do funcionário consular. Tal regime nunca foi aplicado quer à Croácia, quer à Eslovénia. De uma forma geral, todos os passos da Sérvia rumo à UE são travados por atitudes deste calibre.
3) A Sérvia, que nunca na sua história conheceu verdadeira democracia (excluindo o breve período entre 1918-1929), não conseguiu, depois de esconjurado Milosevic, efectuar as necessárias reformas rumo à democracia (excluindo o período em que Zoran Dindic foi Primeiro Ministro, tendo este sido assassinado a mando dos grupos de pressão que pretendiam e pretendem conservar o establishment). O que torna fácil a ascensão dos ultranacionalistas face aos democratas que não conseguem fazer as reformas necessárias para atingir a prosperidade tão almejada pelo povo Sérvio.
4) Há dois grupos de pressão que procuram travar a estabilização democrática na Sérvia. Um deles o exército (por ser tão forte, nunca foi possível a qualquer líder democrata entregar o General Ratko Mladic ao tribunal da Haia), o outro os magnatas que emergiram da economia de guerra (que sabem que têm mais a ganhar com a instabilidade e o radicalismo e a fazer negócios com os oligarcas russos que com a democracia, a inerente necessidade de prestação de contas, e as regras europeias de concursos públicos).
5) A economia de guerra, o isolamento e a hiperinflação provocaram a destruição da economia, do sistema de saúde e de segurança social. Não deixa de ser um factor de reflexão o facto de a grande maioria dos votantes do SRS (partido ultranacinalista) serem reformados com pensões de miséria, desempregados de longa duração saudosistas do socialismo e refugiados oriundos da Croácia, da Bósnia e Herzegovina e do Kosovo. Obviamente que a lenta e dolorosa marcha rumo à democracia e à UE causa frustrações entre aqueles que antes de 1990 tinham um emprego estável e bem remunerado, pensões de reforma razoáveis, e um sistema de saúde adequado, e que hoje vivem precariamente.
Diversos são os factores que levam parte esmagadora do povo Sérvio a votar nos ultranacionalistas. O cataclismo da nação Sérvia durante as duas décadas só pode levar a dois resultados: ou à catarse reformista, ou ao rancoroso complexo de vítima e desejo de vingança. É este último que é aproveitado pelos ultranacionalistas para os seus fins nefários. E a UE tem o dever de estender a mão ao primeiro, desenvolvendo uma estratégia integrada de integração de todos os países dos Balcãs Ocidentais. Creio contudo que algumas das exigências da UE, que até agora têm sido decisivas para o congelamento da pré-adesão da Sérvia não deverão deixar de ser atendidas, nomeadamente a entrega dos suspeitos de genocídio Ratko Mladic e Radovan Karadic ao tribunal de Haia.
PS. A Sérvia já começa a pagar a sua factura pela ajuda do padrinho russo na causa perdida do Kosovo: 51% das acções da Naftna Industrija Srbije, empresa monopolista de gás e petróleo da Sérvia vão ser vendidas por 1% do seu valor à GAZPROM.
Comentários
A enorme quantidade de elementos que se encontram neste post ajudam a compreender o drama sérvio que é, também, europeu.
Penso que este artigo merecia divulgação num grande órgão da comunicação social.