A Espanha, o aborto e o aborto do ministro da Justiça
A promessa do ministro espanhol da Justiça, Alberto Ruiz-Gallardón,
de alterar o atual quadro legal para pôr fim ao direito
à interrupção voluntária da gravidez, incluindo previsíveis anomalias fetais, levou
os profissionais de saúde a mobilizarem-se.
Centenas de ginecologistas e obstetras opõem-se ao
retrocesso civilizacional pretendido pela direita mais reacionária, que impele
o Governo para posições superadas e regressar à discussão política de temas já
considerados pacíficos.
O problema de saúde pública que levanta e o risco para as
famílias a quem cabe o ónus de cuidar de deficientes graves, que um módico de
humanidade pode evitar, não coíbe o ministro de abrir velhas guerras e restringir
os direitos conquistados pelas mulheres.
O mais elementar exame de consciência da direita espanhola,
daquela direita que calou o genocídio franquista contra o povo, a existência do
garrote como método de execução para a pena de morte, as valas comuns e as
bombas alemãs sobre Guernica, essa direita jurássica não pretende apenas manifestar
as suas convicções, pretende impô-las a todos os espanhóis num processo de
retaliação de que não prescinde.
O espírito dos reis católicos, Fernando e Isabel, a frieza
de Torquemada e os métodos da Inquisição continuam a habitar a velha Espanha
franquista, a sempiterna Espanha que se distinguiu pela crueldade da
evangelização da América do Sul e extermínio dos índios.
O regresso à discussão do aborto serve para disfarçar a
crise internacional que, tal como em Portugal, fustiga Espanha e, sobretudo,
para distrair o povo da tragédia económica e social que o Governo é impotente
para enfrentar e a que a União Europeia tarda em dar resposta.
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