A Igreja o negócio das almas
O Paraíso não é um bar de alterne, nem um lugar
particularmente bem frequentado. A avaliar pelos santos que o defunto JP2 tirou
das profundezas do Inferno ou do estágio no Purgatório, há hoje uma multidão de
patifes a jogar as cartas com o divino mestre e a servir bebidas ao Padre
Eterno.
Não sei se é Torquemada que toma conta do armazém das almas
de crianças por nascer ou de adultos por batizar, pois sabia-se de ciência
certa, com aquela honestidade que se reconhece ao clero, que os não batizados eram
destinados ao Limbo, um sítio insípido, sem divertimentos nem crueldades como
os que o Deus de Abraão criou como destino dos bem-aventurados ou das almas
penadas. Agora, depois da extinção decretada por B16 o Limbo passou à categoria
de erro teológico.
No armazém das almas o negócio anda próspero com a explosão
demográfica a que se assiste. Mas Deus é um comerciante insatisfeito que quer
despachar mais mercadoria.
É por isso que a ICAR é contra o planeamento familiar, a contraceção,
o preservativo, a IVG, o DIU e a pílula. No Céu há uma alma para cada espermatozoide
e é por isso que tanto o pecado solitário como a ejaculação noturna são uma
catástrofe para o negócio.
Os clérigos, encarregados de tratar das almas e olhar pelo
negócio, andam estarrecidos com o fim da perseguição criminal às mulheres que
interrompem a gravidez. Sempre que podem fazem campanha pelo regresso à
criminalização do aborto.
Aliás, para as religiões do livro, a mulher é um ser
inferior que deve obediência ao marido e serve apenas para reproduzir e louvar o
Deus da zona da sua residência.
Comentários
Cristo morreu há mil e tantos anos;
Foi descido da cruz, logo enterrado;
E inda assim de pedir não têm cessado
Para o sepulcro dele os franciscanos!
Tornou a ressurgir d´entre os humanos;
Subiu da terra ao céu, lá está sentado;
E à saúde dele sepultado
Comem á nossa custa estes maganos;
Cuidam os que lhes dão a sua esmola
Que ela se gasta na função mais pia…
Quanto vos enganais, oh gente tola!
O altar mor com dous cotos se alumia:
E o fradinho co´a puta, que o consola,
Gasta de noute o que lhe dais de dia.
(Das “Poesias Eróticas Burlescas e Satyricas” editadas em1964 – em Londres, e sem identificação do editor, certamente para evitar a vigilância do Manholas e do Cerejeira)