A guerra – Israel e Palestina (II)
O presente conflito israelo-palestino volta a colocar, no terreno, duas históricas concepções.
Israel com as cíclicas e tradicionais preocupações (e fixações) quando à segurança nacional, nomeadamente, em relação à protecção das populações dos colonatos, ‘casus belli’ crónico e estafado nesta região;
A Palestina a quem continua a ser negado, pelas instâncias internacionais (ONU), o reconhecimento como Estado soberano, não aceita o 'estatuto de protectorado' imposto pelo governo de Telavive, a todo o território, com espaciais restrições em relação à Faixa de Gaza.
Por outro lado, existe o actual momento político que engloba a instável e perigosa situação que vive todo o Próximo e Médio Oriente.
Vários actores movimentam no presente e na capital egípcia as suas influências. Desde o 'novo Egipto' da era pós-Mubarak (que abandonou velhas ‘cumplicidades’ oriundas de Camp David - 1978) – à intromissão turca (cada vez mais presente nestas bandas) passando pelo já incómodo Qatar (omnipresente em tudo o que tem sido ultimamente conflito islâmico).
Relativamente manietados encontram-se os tradicionais protagonistas – EUA e Rússia – que têm procurado exercer a sua mediação através da ONU, mandatando informalmente Ban Ki-moon, que anda por aquelas terras numa autêntica ‘roda viva’.
Nada do que se passa em Médio Oriente colhe consenso no Conselho de Segurança da ONU. O actual conflito Israel/Palestina (Faixa de Gaza) vive o mesmo impasse que já tinha sido verificado em relação à Síria. Enquanto uma invasão de Bagdad sob o manto da ONU foi vetada por Moscovo (e pela China), Washington ameaça vetar os esforços russos para conseguir estancar o conflito israelo-palestino.
Na verdade, o grande protagonista parece ser o novo presidente egípcio - o ‘irmão muçulmano’ Mohamed Morsi. As soluções relativamente a Gaza não conseguem, no presente momento, passar ao lado do novo poder instalado no Cairo. Só que a posição deste País mudou desde a queda de Mubarak. E se Israel tem vindo a mostrar alguma abertura e prudência em relação uma invasão terrestre da Faixa de Gaza é porque reconhece esta mudança que passa, também, pelo apagamento do ‘antigo’ interlocutor Mahmoud Abbas (parceiro de Sharon em Sharm al-Sheikh).
E será destes novos equilíbrios de forças que poderá nascer uma nova paz, diga-se, bastante frágil link. Existe ainda muito por decidir e para esclarecer no Médio Oriente.
Provavelmente as cartadas mais importantes estão ainda por destrunfar e tudo o que de terrível se está a passar em ambos os lados (Gaza e Israel), causando a morte de civis e militares, é um epifenómeno de políticas bélicas muito mais vastas. Porque continua a existir uma carta (de trunfo) fora do baralho. Chama-se Irão e é indubitavelmente o País com maior apetência para romper e fazer reverter os instáveis equilíbrios desta estratégica região em seu favor (da hegemonia persa). Equilíbrios que foram duramente conseguidos em múltiplas e difíceis conferências de paz, das quais é justo salientar a de Oslo (1993).
PS: Humilhante e preocupante tem sido a inqualificável (embora 'esperada') impotência da UE para desempenhar qualquer papel na contenção deste conflito.
Comentários
Os Palestinianos têm que lançar rockets sobre Israel para continuarem a beneficiar do apoio do Irão; Israel agradece esses rockets porque lhe dão pretexto para retaliar em força obtendo votos para a direita (as eleições estão à porta) e subsídios do amigo americano. É essa a função de Israel, dizer, sempre que há oportunidade, "quem se mete com o Ocidente, leva!".
É muito importante para os EUA continuar a dispor deste porta-aviões, que tem muitos Km2 de área e milhões de soldados abordo, e que patrulha sem sessar a zona petrolífera mais estratégica para o Ocidente.
'Enquanto uma invasão de Bagdad'... deveria estar: 'Enquanto uma invasão de Damasco'...
PS: O fraterno ‘irmão muçulmano’ lá obrigou os beligerantes a aceitar um (frágil) cessar-fogo.
Anunciou-o ao Mundo tendo a senhora Clinton à ilharga (aquiescente e obrigada a demonstrar a 'mais alta estima'...).