Jogo da cabra cega…

A troika inicia hoje a 6ª. avaliação da execução do programa de resgate de Portugal num ambiente de múltiplas, complexas e quiçá insanáveis, incertezas e profundas tensões. link

No presente momento político (e vamos concentrarmo-nos na política) é consensual a noção do descalabro a que conduziram os desastrosos compromissos irresponsavelmente 'cozinhados' entre a troika e o Governo português, durante a última avaliação. Na verdade, da última vez, mais do que avaliar encetou-se uma irracional fuga em frente.

Os objectivos orçamentais pretendidos e estipulados num plano a 3 anos, que teriam como consequência o equilíbrio orçamental, a contenção do endividamento público e o regresso ao financiamento ‘normal’ no exterior, em vez de estarem ao alcance dos portugueses estão a fugir pelos gigantescos ‘buracos’ da receita gizada (Memorando de Entendimento) que já não consegue disfarçar os seus erros e insuficiências.
Perante uma recessão com manifesta propensão de estar para lavar e durar, com devastadoras consequências no desemprego e no aparelho produtivo nacional, acordaram os ‘negociadores’ acelerar a descontrolada marcha rumo ao precipício. Não vale a pena recordar a ‘engenhosa solução’ das alterações à TSU, nem o ‘compromisso cego’ de cortar 4000 M€ às dotações orçamentais para o exercício das funções do Estado, sem definir previamente, onde, quando e porquê, para demonstrar a insanidade das ‘soluções’ que têm sido aventadas.

A imagem residual da última avaliação é a de que o Governo entrou infamemente num macabro e palaciano ‘jogo da cabra cega’, onde foi ‘agarrado’. Independentemente do voluntarismo que tentou ser construído por este Governo à volta de miragens do tipo ‘nem mais tempo, nem mais dinheiro’, o ambiente intramuros (da coligação governativa) e, mais importante, a situação real do País (política, financeira, económica e social) mostra claramente que este Governo já não reúne as condições mínimas para participar nesta avaliação.

Tenta-se, obstinadamente, prosseguir com um doloroso ritual antecipadamente programado e absolutamente indiferente da realidade vivida e sentida (e não a desenhada no papel) como se nada tivesse mudado e acontecido neste País. Na verdade, de Maio de 2011 (data da assinatura do Memorando) até hoje, muita coisa não tem corrido bem, nem se mostrou conforme. E recusar que, na actual situação, a ‘renegociação’ do memorando, com todas as consequências (ainda por discutir por teimosia do Governo), é o caminho viável e óbvio, tornou-se numa insensata aberração política de um governo perdido que, obviamente, já devia ter sido (estar) demitido. O adiamento da ‘renegociação’ passa, necessariamente, por aí. Esse passo, que hoje se aparece na conjuntura política como incontornável, não é dissociável da queda do Governo. E reside  aí o perigo que o decurso de mais uma avaliação ‘regular’ (este o termo grato ao Ministro das Finanças) acarreta.

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