A HÓSPEDE DE JOB (*)
A incontornável Sra. Merkel, depois de, pessoalmente e através dos colaboracionistas germanófilos que tomaram conta de Portugal, nos ter reduzido à mais negra miséria de que há memória, ao mesmo tempo que nos insultava e injuriava pelas mais grosseiras formas, perpetrou agora o supremo insulto de invadir o País.
Reuniu-se com os seus diletos discípulos que constituem o Governo, com quem certamente concertou a melhor forma de continuar a destruir a nossa economia e o nosso Estado Social. Não admira.
Reuniu-se também com um seleto grupo de “empresários de sucesso”, certamente daqueles para quem a crise – com o seu cortejo de misérias – “é uma oportunidade”. Não acredito que, no escasso tempo que durou a reunião, tenham tratado de algum negócio; foi pois um mero ato simbólico de vassalagem. Não admira.
O povo foi excluído dos “festejos”. À volta dos lugares profanados pela visitante foi estabelecido um “cordão de segurança” jamais visto em Portugal, destinado a evitar que os cidadãos pudessem aproximar-se a menos de um prudente quilómetro da Senhora e demonstrar-lhe, a ela e aos seus acompanhantes portugueses – estes já habituados a sair sempre pela porta das traseiras – os sentimentos que por eles nutrem. Também não admira; aliás, já havia o precedente dos “festejos” oficiais do 5 de Outubro.
O que já admira – e muito – é que o Senhor Presidente da República se tenha rebaixado a recebê-la. Não tinha nenhuma obrigação, nem sequer protocolar, de o fazer, pois ela não é, como ele, Chefe de Estado, mas apenas o equivalente a Primeira-Ministra; só teria obrigação de receber o Presidente da República Alemã. Aliás, já cá têm vindo outros primeiros-ministros que não foram recebidos pelo Presidente.
Esta receção, sobretudo tratando-se manifestamente de uma persona non grata ao povo português – tanto assim que este foi mantido à distância – é pois um ato de inadmissível subserviência perante o poder do dinheiro e uma humilhação perante quem insultou Portugal. Desonra a mais alta Magistratura da Nação e envergonha todos os portugueses.
Deve notar-se que Frau Merkel também foi recentemente a Espanha e, apesar de esta também estar em péssimas condições económicas e financeiras, o seu Chefe de Estado não se dignou recebê-la. Soube salvaguardar o amor-próprio espanhol.
O Senhor Presidente da República, se queria ser o Presidente de todos os portugueses, bem podia ter-nos poupado a mais este vexame.
(*) “O Hóspede de Job” é o título de um conhecido romance de José Cardoso Pires
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