Isabel Jonet já era conhecida de Eça de Queirós


Excerto - Capítulo VII de “O Crime do Padre Amaro”

«Um pobre então viera à porta rosnar lamentosamente Padre-Nossos; e enquanto Gertrudes lhe metia no alforge metade duma broa, os padres falaram dos bandos de mendigos que agora percorriam as freguesias.

- Muita pobreza por aqui, muita pobreza! dizia o bom abade. Ó Dias, mais este bocadinho da asa!

- Muita pobreza, mas muita preguiça, considerou duramente o padre Natário. - Em muitas fazendas sabia ele que havia falta de jornaleiros, e viam-se marmanjos, rijos como pinheiros, a choramingar Padre-Nossos pelas portas. - Súcia de mariolas, resumiu.

- Deixe lá, padre Natário, deixe lá! disse o abade. Olhe que há pobreza deveras. Por aqui há famílias, homem, mulher e cinco filhos, que dormem no chão como porcos e não comem senão ervas.

- Então que diabo querias tu que eles comessem? exclamou o cónego Dias lambendo os dedos depois de ter esburgado a asa do capão. Querias que comessem peru? Cada um como quem é!

O bom abade puxou, repoltreando-se, o guardanapo para o estômago, e disse com afeto:

- A pobreza agrada a Deus Nosso Senhor.

- Ai filhos! acudiu o Libaninho num tom choroso, se houvesse só pobrezinhos isto era o reininho dos Céus!»

(Enviado pelo estudioso de Eça, M. P. Maça)

Comentários

e-pá! disse…
A inusitada (vamos ser comedidos) e recente intervenção de Isabel Jonet no canal televisivo SIC-Notícias tem levantado ondas de choque por todo o lado. Sem querer repisar nem dirimir argumentos, já expostos, julgo importante salvaguardar algum recato e, tranquilamente, colocar as coisas no seu lugar.
A Srª. Jonet não se ‘estampou’ no referido programa ‘acidentalmente’ como sugeriu na homília de ontem Marcelo Rebelo de Sousa.
De facto, este lamentável episódio que 'incendiou' a imprensa e as redes sociais tem precedentes.
A referida benemérita, em 14 de Setembro, na ressaca política da infâmia que Passos Coelho tentou construir à volta da TSU, tinha vindo a terreiro, na TSF, esgrimir das suas 'razões' e 'convicções' link
E resolveu, por sua conta e risco, exibir o cancro das desigualdades sociais para ‘compreender’ ou ‘vender’ as medidas de austeridade que, nessa altura, foram anunciadas pelo Governo, como se a fome (é esse o seu território) fosse uma coisa casual e sem nexo.
A cidadã Jonet tem o direito de exprimir-se e participar na vida política como quiser e souber, já a benfeitora social tem de ‘mostrar’ (demonstrar) que ao trabalhar e investir no campo da solidariedade persegue ‘valores universais’.
A imagem da caridade de mão estendida a favores políticos é tanto mais repugnante quanto mais difíceis são os tempos.
A roupagem que Isabel Jonet pretenderá vestir como uma activista de causas sociais à margem de causas políticas definitivamente deixou de lhe assentar. Daqui para a frente não existe mais inocência.

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