O Papa, a vaca e o burro


Quando se perde a fé na vaca e, sobretudo, no burro, duvida-se do martírio do seu deus. Este papa veio transformar uma estrebaria numa mentira pia. Em vez da manjedoura e da palha requisitou uma gruta para maternidade da estrela da companhia.

Jesus, que nasceu em ano diferente do que afirmam as escrituras e em local diverso do que a profecia prometia, fez as delícias das crianças com a vaca que o aquecia e o burro que o adorava perante o espanto comprometido de S. José.

Não é provável que o burro seja substituído por um doutor nem que a vaca dê lugar ao aparelho de ar condicionado. Jesus, um judeu que viveu de expedientes, de milagres e pregações, atividades que proliferam em tempos de crise, jamais imaginou a lenda que a seu respeito seria urdida e, muito menos, o negócio a que daria origem.

Se era mentira pia a falsidade secular, não se distinguia das outras que alimentam a fé dos simples e os interesses do Vaticano. Quis o Papa fingir a correção de um engano e acabou por semear dúvidas na credulidade dos devotos e sorrisos nas faces dos incréus.

Não sei se nevava em Nazaré, onde seguramente Jesus não nasceu, nem se as estrebarias tinham ar condicionado ou os reis magos viajavam tendo as estrelas como GPS, mas sei que a Inquisição não teria deixado de grelhar quem pusesse em dúvida tais mentiras que outros infalíveis papas impunham como verdades.

B16 anda perdido. Escondam-lhe a água benta. Confisquem-lhe o hissope. Guardem-lhe o bordão. Vistam-no normalmente. Arranjem-lhe um atestado e ponham-no de baixa ou dêem-lhe a reforma e atribuam-lhe uma pensão.

Se continua a explorar as mentiras pias acaba por dar com os beatos em malucos e pôr as pessoas cautas a rir a bandeiras despregadas.

Comentários

e-pá! disse…
O papa deu, pela primeira vez, mostras de compreender os portugueses.
De facto, a cena de natividade revista e 'melhorada' é susceptível de encaixar-se no espirito contemporâneo dos portugueses.
No próximo natal, por estas bandas, o 'nosso' mago Gaspar subsitui perfeitamente, e com propriedade, o expulso asinino e continuando a compor o quadro, penso que o episcopado luso deveria solicitar ao Vaticano dentro da linha da 'não-existência de animais' que a vaca possa ser substituída - nos presépios nacionais - por uma figura humana feminina (vinda de outras paragens) que poderia ser baptizada de Angela (enquanto sinónimo de 'mensageira')
Já a 'estrela polar', ou uma supernova, como se pretende que seja agora, seria substituída pela sigla do FMI (que tem 'iluminado' e 'brilhado' por este País).

Deste modo, aproveitavamos esta onda de 'aggiornamento' para fazer um update às representações do natal luso que, estou em crer, terá sido ao longo de séculos celebrado 'claramente acima das nossas possibilidades'...
E-Pá:

Este comentário pode interessar à Conferência Episcopal.
Carlos Fonseca disse…
O papa, como de costume, não sabe o que diz. É claro que havia em Belém uma vaca e um palerma de um burro.

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