Uma crónica indulgente e pungente...

O artigo que Rui Ramos assina no Expresso deste fim de semana (‘Tolerar a intolerância’) link é, no mínimo, chocante.

Embora tente disfarçar, o supracitado historiador em funções de analista político, vive um onírico pesadelo à volta do assalto ao Palácio de Inverno e provavelmente teve a ‘visão’ que em frente à AR, na última 4ª. feira, existiria uma multidão de ‘(neo)bolcheviques’, circunstância que, cautelosamente, preferiu não referir para evitar ser conotado como ‘visionário’.
Mas quando escreve: “Talvez os nossos revolucionários não estejam destinados a conquistar os palácios de inverno que lhes escaparam em 1975”…pouco há a adiantar. O ‘talvez’ esclarece tudo.

A ‘armadilha’ que Rui Ramos tentou montar é iniludível: ‘denuncia’ a silenciosa ‘conspiração’ que estará em curso desde o Verão (afrontas aos ministros na rua, manifestações frente à AR, etc.) para, a limine litis, pregar a necessidade de intolerância por parte do Governo (uma resposta musculada, repressiva), esgrimindo a imagem de 'defesa' do regime (não especificando qual). Mais, acaba por, desastradamente, apelar à instalação do estado de emergência nacional (ou de sítio!) capaz de 'purificar' (amansar) a contestação social, no seu entender subsidiária do PCP e BE. O que como sugere ao Governo, garantiria a prossecução calma do actual ‘ajustamento’ - um brutal empobrecimento - sem percalços públicos. Essencialmente, um idílico quadro capaz de impressionar os impacientes e volúveis credores.

Só que faltou mostrar o reverso da medalha. Com a exclusão do ‘fascismo vermelho’ (a terminologia que usa está adaptada aos velhos tempos) ficaria aberta a estrada para um regresso ao ‘fascismo negro’, aquele mesmo que, Rui Ramos, enquanto historiador, em recente publicação (fascículos do Expresso) quis ‘branquear’. Ou seja, uma vernácula mostra do 'tacticismo de Direita', que conhecemos de ginjeira. Dos tempos da 'outra senhora'...
De resto, podemos equacionar uma certeza: a exclusão da Esquerda dita radical do panorama político nacional não é - nem nas elucubrações de Rui Ramos - sinónimo de 'pacificação social'. Antes pelo contrário.
Foi sobre isto que o historiador-analista político, ou vice versa, evitou fazer mais e explícitas 'revelações'...

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