De boas intenções está o Governo cheio
Gosto que gostem de mim mas o meu narcisismo não é tão grande que me leve a dizer o que não quero ou a calar o que não devo.
Obrigam-me a idade e o passado a permanecer republicano, laico e democrata, da forma que sei e do modo a que me habituei, sem deixar de propor o que penso e de pensar que podem estar certos os que pensam e propõem o contrário.
A jornada de luta de quarta-feira foi a manifestação cívica do descontentamento de um povo que legitimamente reclama o direito à sobrevivência e à dignidade. A CGTP portou-se de forma irrepreensível e está de parabéns, mas, a contrastar com o civismo da central sindical que navega – e bem – o descontentamento coletivo, apareceram encapuzados a apedrejar a polícia, a arremessar garrafas e a provocar a repressão.
Penso que a polícia se conteve até ao ponto onde a autoridade se dilui e a proteção das pessoas e bens fica em perigo. Concordo com a atuação da polícia no dia de ontem, por mais incidentes e erros que possam ter sido cometidos pelos homens que, durante duas horas, aguentaram pedras, garrafas e petardos arremessados por provocadores.
Portou-se melhor a polícia do que o PR que apareceu a dizer que ia trabalhar e que não fazia greve, como se tivesse legitimidade para a fazer, ou que o PM que andou a visitar um armazém de carne que mais de um milhão de portugueses já não pode comprar.
Ontem soube-se que o desemprego jovem atingiu os 39%. O défice entrou em descontrolo e a credibilidade externa do país desceu ao nível dos que nos governam.
Lamentavelmente, os exaltados que ontem provocaram as forças policiais são aliados do Governo. Os provocadores, vestidos de negro e de cara tapada, puseram a comunicação social a dar relevo às caixas de multibancos destruídas, ao autocarro atingido a tiro, às dependências bancárias vandalizadas e aos caixotes do lixo incendiados.
Remetidas para segundo plano ficaram as razões da greve, a sua dimensão e a discussão urgente sobre as medidas a tomar perante o descalabro a que nos conduziram.
Estou com os que procuram alternativas ao Governo que, tendo perdido a legitimidade, por ter traído todas as promessas, continua a ser legal. Mas estou decididamente contra os energúmenos e arruaceiros que se tornam os melhores aliados do Governo e afastam o povo da intervenção cívica de que as manifestações de rua são parte importante.
Mais de 100 mil pessoas perderam o emprego desde o princípio do ano.
Comentários
De qualquer modo, não enfatizaria - como está a tentar a Direita - a dimensão e o significado das arruaças nocturnas da passada 4ª.feira.
Há muita especulação no ar e poucas certezas sobre os mentores e os executantes desta política de confrontação violenta que começou a tornar-se rotina (por alguma razão) nas escadarias da AR...
Um facto que é ineludível. A Direita através das redes sociais (ver, p. exº. no 'Insurgente' post de RAF sobre 'A imoralidade do direito à greve') apareceu, de imediato, a questionar o 'direito à greve' e, a partir daí, a Constituição. Para isso utiliza um dos itens que, a acreditar nas declarações dos actuais dirigentes do Centro-Direita, aparece como consensual e um direito classificado como inalienável (até porque a greve é - também - uma herança vinda dos regimes demo-liberais).
Todavia, estas e outras, cada vez mais evidentes 'concertações' devem por-nos de 'sobreaviso', para não dizer de 'alerta'.
O que poderá estar em causa não será somente o direito à greve e de manifestação...
Deste Governo espera-se tudo e a sua falta de legitimidade é uma evidência.
É lamentável que os provocadores sejam os seus melhores aliados após uma gerve que a CGTP conduziu com inegável êxito e exemplar comportamento.
Partilho os receios que apontas.
A manifestação da CGTP foi inteiramente legítima e pacífica.
A atuação da polícia foi, em geral, irrepreensível.
Foram lamentáveis as arruaças dos energúmenos. Mas, como nos romances policiais, ocorre desde logo perguntar: a quem aproveita o crime?
À esquerda não é com certeza. Só uma "esquerda" totalmente estúpida é que pode ver na polícia o inimigo a atacar, sobretudo quando essa mesma polícia se tem manifestado claramente contra as políticas do governo.
Houve sem dúvida muitos "desesperados" sem consciência política envolvidos nos desacatos. Mas começa a haver pouca paciência para essa gente. Portugal, sobretudo nas camadas mais jovens, já não é um país de analfabetos. Começa a não haver desculpa para a falta de informação. E se a AR tem a composição que tem é porque muitos desses indivíduos não votam, ou votam contra quem pode defendê-los.
Houve sobretudo muitos arruaceiros profissionais. Mas esses arruaceiros, objetiva senão mesmo sbjetivamente, estão ao serviço da direita. Só à direita é que aproveitam as arruaças. Não podemos esquecer-nos que o nazismo e o fascismo resultaram de uma espúria aliança entre as classes tradicionalmente dominantes e o chamado "subproletariado", ou, em alemão, "lumpenproletariat", isto é, grosso modo, os marginais.
Não podemos também esquecer que a ditadura nazi começou, poucos meses depois da eleição de Hitler, justamente com o incêndio do "Reichstag" - edifício do Parlamento alemão - que os nazis provocaram para depois o atribuir aos comunistas.
Não sou muito dado a teorias da conspiração, mas "que las hay, hay" - v. justamente o incêndio do Reichstag.
Quem eram os indivíduos mascarados? A soldo de quem estavam? Isso é que a PJ devia investigar.
E porque carga de água ao ministro Macedo, estúpido e alarve que é, lhe veio logo à boca a expressão "provocadores profissionais""
Não saberia ele bem do que falava?