Viva a França

A França assinala hoje o primeiro centenário da lei da separação da Igreja e do Estado, votada há cem anos pela Câmara dos deputados, e cujas comemorações terão lugar no último trimestre do ano.

A lei mantém-se e está na base da liberdade religiosa que a França assegura a todos os cidadãos quer professem ou não uma religião.

Quando da aprovação da referida lei as relações entre o Vaticano e a França foram cortadas e houve uma forte contestação pelos sectores mais retrógrados da Igreja católica e uma permanente conspiração do Vaticano contra a laicidade de que a França foi pioneira.

Hoje são os próprios bispos franceses a reconhecerem que a lei se deve manter e, apenas, procuram habilmente obter alguns privilégios para a Igreja católica de que, no fundo, são incapazes de abdicar.

A França foi neste capítulo verdadeiramente inovadora e criou as bases para um sistema democrático que só é possível com a separação entre a Igreja e o Estado.

Hoje é o paradigma das democracias e a vacina para evitar as guerras religiosas que ao longo dos séculos dilaceraram a Europa.

Perante os tristes exemplos do Islão político, a mais patética manifestação de fascismo religioso, com total ausência de direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, sujeitos ao poder discricionário dos clérigos e à vontade de um livro anacrónico - o Corão -, há boas razões para estarmos gratos aos deputados franceses de 1905.

Carlos Esperança

Comentários

Mano 69 disse…
Cuidado Carlos Esperança que ainda ganha de brinde uma "fatwa" (decreto religioso) e depois nem toda a Liberdade, Igualdade, e Fraternidade o salvam.
Anónimo disse…
Caro Carlos Esperança:
Ainda há não muito tempo, Jurgen Habermas e Joseph Ratzinger debateram juntos, entre outras, a questão da laicidade. Fizeram-no num ambiente de comovedora fraternidade.
Miterrand, poucos anos antes de morrer, chamou de urgência o filósofo católico Jean Guitton... para, juntos, conversarem sobre Deus. E Guitton foi dos poucos que acompanharam Miterrand nos últimos meses e dias de vida, à semelhança do que fizera antes com o seu discípulo querido Althusser. São esclarecedoras dos laços de ternura entre ambos as cartas que escreveram um ao outro ao longo da vida.
Qualquer dia, desafio-o para um debate. Não para o tentar converter ou, sequer, para lhe falar de Deus, mas para o dignificar por toda a sua luta - por certo, tão diferente da minha - que julgo sincera. Aceita?
Anónimo disse…
Caro Anónimo:

O convite é amistoso e enternecedor. Fala-me de coisas que conheço e de pessoas de que guardo memória histórica.

Nunca me furto a um desafio, mas sou demasiado velho para mudar e excessivamente novo para que a senilidade me obrigue a render-me ou a permitir que se aproveitem de mim para uma campanha de proselitismo.

Os únicos deuses que não fazem mal são os que já fazem parte da mitologia.
Mano 69 disse…
Por essa ordem de ideias presumo que o caro Carlos Esperança seja mais apologista dos deuses Baco e Afrodite!
Até podia ser pior…
Anónimo disse…
Caro Carlos Esperança:
Creio que não me levou a sério ou, então, que me levou demasiado a sério. Na vida há espaço para atravessar a fronteira, para que o encontro seja possível. É o que eu penso. Pobre da minha fé se me metesse medo a mim ou se servisse para meter medo aos outros. Pobre de mim se quisesse impor a minha fé aos outros. Não o quero mudar nem me quero aproveitar de si. Só por isso me mantenho ainda anónimo: não quero tirar vantagem nenhuma de dizer que gostaria um dia de dialogar consigo. Para mim o desafio belíssimo está em poder conversar com alguém que pensa muito diferentemente de mim mas que tem a mesma dignidade do que eu. Nem menos, nem mais! Fiz de si um juízo honesto, quando lhe disse que acho que a sua luta contra Deus e contra os deuses e contra tantas outras coisas é sincera.
Posso dizer-lhe que não sou padre e que poderia ser seu filho. E que lhe falo sem temor reverencial mas também sem ser temerário. Aprecio a forma como escreve e a liberdade com que escreve. Não é por certo mais amante da liberdade do que eu.
Um abraço e um até sempre de um
Anónimo
andrepereira disse…
Só a verdadeira laicidade nos permite um belo diálogo, mesmo entre (ou com) anónimos.
Viva a separação do Estado e da Igreja! Viva a liberdade religiosa e a liberdade de consciência.

Laicidade não é ateísmo. Nem anti-clericalismo!
Se a primeira é a mais importante no plano político-social, os outros dois são também respeitáveis e de grande valor para a Humanidade...

Este blog tem-se centrado mais nas questões de política, mas seria interessante haver algumas participações no domínio da cultura e da religião.
Aguardo, com curiosidade, o DEBATE!
Anónimo disse…
Caro anónimo:

Só lhe posso dizer que aprecio a serenidade e tolerância com que escreve.

Tenho passado a vida a fazer amigos e os que me combatem não me conhecem.

Sei que dou uma imagem de radicalismo com a forma como escrevo e a substância dos ataques ao clero e às religiões no Diário Ateísta.

Mas, acredite, se soubesse de qualquer perseguição à Igreja (a uma qualquer) lá estaria para defender a liberdade.

Se quiser aceitar o repto de André Pereira talvez o Ponte Europa sirva para uma discussão elevada e digna.

Pelo menos no princípio, dispensem-me. Estou demasiado empenhado a estudar uma instituição que considero sinistra - o Opus Dei.

Descobri que o monsenhor Escrivá, um recente e tenebroso santo, foi director espiritual de Franco, Pinochet e respectivas consortes.
Mano 69 disse…
E o gajo até gostava de singir com o cilício.
Anónimo disse…
Ze Esterco:

Não se trata de um diário. Encontram-se documentos e factos interessantes em várias publicações.

Mesmo na minha modesta biblioteca pessoal encontro o que necessito.

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