A Europa exige coesão
A deliquescência do poder americano acompanha o colapso moral a que o presidente Bush conduziu a política externa.
A mentira e o espírito de cruzada que estiveram na origem do infeliz e criminoso ataque ao Iraque irritaram a opinião pública mundial, agravada com o desprezo reiterado pelos direitos humanos.
Guantánamo é uma nódoa indelével na alegada superioridade da civilização cristã e ocidental; as sevícias aos presos em Abu Ghraib rivalizam com a brutalidade demente dos talibãs; o assassínio premeditado de civis iraquianos em Haditha é a crueldade que faltava para cobrir de opróbrio a actual administração dos EUA.
É urgente uma força dissuasória que trave a barbárie que grassa em numerosas regiões do globo, que contenha o fanatismo religioso, as rivalidades étnicas e o nacionalismo, que é uma manifestação tribal de base geográfica alargada.
É preciso que o tempo remova George W. Bush e o seu satélite que preside à Comissão Europeia (lamento que seja meu compatriota) e que Al Gore ou Hillary Clinton, por exemplo, devolvam à Casa Branca alguma decência delapidada por um presidente com vocação para pastor evangélico exaltado.
Na Europa precisamos de um novo Jacques Delors, com passado irrepreensível e visão de futuro, que acautele o nosso espaço civilizacional, tolerante e multicultural, sem fundamentalismos autóctones ou imigrados.
Os EUA e a Europa podem e devem ser guardiões da Declaração Universal dos Direitos do Homem sem cedências nem tergiversações e, pelo menos no seu espaço, exigir o seu respeito.
Não há civilizações superiores mas há seguramente quem respeite os direitos humanos e quem os atropele, quem respeite a igualdade entre os sexos e quem discrimine um deles, quem respeite a liberdade religiosa e quem queira impor a sua fé.
Comentários
No último número da revista "Visão" (691), o nosso maior ensaísta e eminente analista - Eduardo Lourenço - discorre sobre o tema:
"DA AMÉRICA E DA EUROPA".
É um artigo de opinião notável onde, a par de uma profunda análise, se afirma:
"O Ocidente é um todo e é uma ilusão de nação adolescente pensar que a supremacia militar, financeira e económica assegure à mais optimística criatura da velha Europa,o domínio do mundo. Sozinha, a América não chegará ao fim de si mesma."
Aconselho vivamente a leitura deste extraordinário artigo.
Ele, por um lado, responde e esclarece algumas questões do post, e por outro lado, levanta outras.
Parece-me ser uma solução mais "transparente" do que Hilary Clinton. Não por falta de consideração pessoal e política por ela, que é muitíssima, mas pelo facto de me parecer estranho o ex-Presidente poder ser o marido da (eventual) Presidente...
Os Democratas não podem cometer erros e deixar fugir a Presidência em 2008. A bem de todos nós!
Al Gore foi o melhor Vice-Presidente da História da América. Impulsionador, entre outras, de reformas na saúde e no estatuto das minorias - a nível interno, e do Tribunal penal Internacional e do Protocolo de Kyoto - a nível internacional.
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