O ocaso de Xanana Gusmão


É a vida.

O herói mítico da resistência timorense desrespeitou a Constituição e procurou dar um golpe de Estado contra o Governo legítimo do seu país.

Nem a lei, nem a prudência, o acautelaram contra o apoio à ingerência da Austrália. Os laços matrimoniais não desculpam a cobertura que dá aos que – tudo o indica –, são culpados do caos e violência que eclodiu em Timor.

A renúncia que exigiu ao Governo ou, gorada a tentativa, a ameaça da sua demissão, é o princípio de novos conflitos para os quais não faltam timorenses divididos por ódios e rivalidades ancestrais, desempregados cuja diversidade étnica dificulta a coesão e a solidariedade.

O Presidente Xanana é o herói mítico do século e milénio que há pouco começaram e a figura emblemática do David que derrotou Golias. Poderá tornar-se, salvas as devidas proporções, num marechal Pétain, herói da primeira Grande Guerra, que acabou a presidir a um governo fantoche imposto à França pelas forças ocupantes.

Se o golpe que parece envolvê-lo, com Ramos Horta, Austrália e Igreja católica, vier a consumar-se, expira a legalidade democrática e o jovem País compromete o futuro.

Se a sua demissão for um acto de chantagem, que exacerba os antagonismos existentes, será culpado por agudizar tensões e enfraquecer o incipiente aparelho de Estado.

A GNR, que Portugal enviou – e bem –, a pedido do Governo legal, não pode continuar em Timor, salvo ao serviço da ONU. O Governo português, que teve a clarividência de recusar a sua submissão às forças australianas, saberá evitar que se enrede numa teia de interesses suspeitos que levaram o caos e a desolação ao martirizado povo de Timor.

Comentários

Anónimo disse…
Note-se que Xanana tem os mesmos poderes do que Sampaio (pode dissolver o Parlamento e convocar eleições), contudo não existem condições para a realização de eleições, assim Xanana só pode pedir a demissão do governo de Timor-Leste incapaz de fazer frente aos acontecimentos que se sucederam.
Contudo segundo este blog, tb Sampaio terá feito um golpe de Estado... ... com ultimatos sucessviosa PSL e no final convocação de eleições quando as sondagens sopravam do lado esquerdo (não que não goste), mas...

s.
Anónimo disse…
Tanto quanto julgo (não conheço a Constituição timorense) o PR não tem poder legal para dissolver o Parlamento.

Se estou certo, a comparação é absolutamente despropositada.

Se for como o «s.» diz, terei de rever a minha posição.
Anónimo disse…
Neste momento, depois de me informar, posso dizer ao «s.» que Xanana Gusmão não tem o poder constitucional de demitir o primeiro-ministro nem de dissolver o Parlamento.

Acontece que Xanana é de longe a personalidade mais popular de Timor pelo que a sua demissão vai ser um factor de instabilidade que coloca Timor na dependência da Austrália.
Anónimo disse…
A carta enviada por Xanana a Alkatiri, antes do Conselho de Estado de há 2 dias, solicitando a sua demissão é, em termos políticos e para um estadista respeitado, no mínimo leviana, para não lhe chamar ridícula.
Invoca a perda de confiança política baseando-se, tão somente, num programa transmitido pela TV australiana.
Anexa à carta envia o video referente a esse programa o que é, no mínimo, deslocado.

Assim,
Se, nesse programa de TV, foram levantadas dúvidas ou enunciadas acusações sobre o comportamento político de Alkatiri enquanto 1º. ministro de Timor-Leste, o vídeo deveria seguir para um magistrado judicial competente para instruir o respectivo processo.
Um político num Estado de Direito só pode proceder assim.
Não concebo outra metodologia a não ser que, as pressões da Austrália, da Igreja e, eventualmente, da Indonésia sejam intoleráveis.
E se assim for, se houver cedências no campo de autonomia jurídica e política para resolver conflitos internos, não é só o ocaso de Xanana que está em questão, mas também o futuro de Timor.
Anónimo disse…
Xanana, que não é politico, reagiu com o coração ao programa da TV Australiana ao qual, como a maioria do povo, não teve o necessário discernimento para separar o "trigo do joio".

A cedência á manipulação mediática é própria de espiritos pobres e não do mais alto magistrado da nação.

Por este andar teremos decididamente apenas um Xanana fotógrafo no futuro e não um respeitado estadista.
Anónimo disse…
Xanana não esteve bem.

Não podemos esquecer a legitimidade do Governo, mas para além disso trata-se de um Governo e apesar das dificuldades, que conseguiu mais vantagens para Timor sobre os acordos estabelecidos com a Austrália, que a Indonésia quando força ocupante nunca conseguiu, e estou a falar dos acordos sobre o petróleo do Mar de Timor.

Todos sabemos o que está em causa, são os interesses australianos e é pena que alguns estejam a ir na onda.

Sabemos que muitas das vezes as necessidades levam a este tipo de posições, pelo que o bom senso levaria a que talvez tivesse sido cedo para realizar eleições democráticas, mas antes um Governo Provisório de Unidade Nacional, para colocar as instituições a funcionar, a traçar objectivos para um País novo, que declaradamente não os tem, sempre com a intervenção da ONU, Portugal, também a Austrália, preparando-se aquele novo Estado para a maturidade democrática.

Creio ainda, que neste quadro, Portugal, não pode deixar de estar atento e não deixar derrapar a situação. Pois já temos os maus ensinamentos da descolonização, apesar das circunstãncis de espaço e tempo serem outras.

Quero acreditar, embora os indícios sejam preocupantes, que Timor não entre num processo de guerra civil, que só vai servir os interesses das potências que estão geográficamente ao seu lado, Indonésia e Austrália.

Também aí Xanana pode ser determinante, mas não cometer erros infantis como os que agora cometeu, em prejuízo do seu Povo.

ccidade
Anónimo disse…
Caro Cidade:

O lugar dos colaboradores é em http://ponteeuropa.blogspot.com/

Um abraço.

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