Manuel Alegre e a co-incineração
Manuel Alegre contrariou ontem o sentido de voto da bancada socialista em relação à co-incineração. Não se lhe pode negar coerência pessoal, apenas criticar a quebra da disciplina partidária.
Não havia um problema de consciência, apenas a presunção sobre a melhor forma de eliminação térmica dos resíduos industriais. Pior seria se, por bairrismo, se opusesse ao interesse nacional ou tivesse um projecto político pessoal, que não se adivinha.
Não é, pois, a posição política que lhe censuro, é a quebra de solidariedade para com o Governo e os órgãos do PS, a que pertence, e o precedente que, generalizado, tornaria o País ingovernável.
A disciplina partidária e a estabilidade política excluem actos de rebeldia e de exibição pessoal. Há regras a que os grupos parlamentares se comprometem.
Acrescentar à crise económica, que tem sido atacada com coragem, uma crise política de que só pode sair-se com eleições antecipadas e a entrega do poder à direita, que nem sequer está apta para o assumir, é um acto pouco conforme com a ética parlamentar.
Por tudo isto discordo da posição de Manuel Alegre. Nada acrescentou aos relevantes serviços que já prestou a Portugal e à liberdade e comprometeu, com o voto solitário, a solidariedade que um deputado deve à sua bancada e aos órgãos partidários que integra.
Apostila – No último Orçamento de Estado, alguns dos mais prestigiados dirigentes do PSD entendiam que o grupo parlamentar não devia votar contra, mas submeteram-se – e bem – à disciplina partidária.
Comentários
Se existisse uma hierarquia de valores (...todos sabemos que não há) no exercício da actividade política, com certeza que a coerência política seria mais valiosa do que a disciplina partidária. A disciplina partidária, convenhamos, é um instrumento de arregimentação política com vista a conseguir quorum para finalidades objectivas, mas muitas vezes circunstânciais.
A coerência política é, pura e simplesmente, uma virtude e, portanto, uma mais-valia no campo da cidadania.
O consenso obtido por disciplina partidária é muitas vezes falso e, frequentemente, efémero. Basta "cair" o chefe partidário para tudo mudar...
Mas, passemos adiante. O que o país não suporta mais são os constantes "zig-zags" na questão do tratamento de resíduos perigosos.
Bastaria caír o governo e, por exemplo, outro partido (PSD) ganhar as próximas legislativas lá voltaríamos nós ao princípio.
Não é só nas questões constitucionais que deve haver consensos alargados. Ao que parece neste assunto também. Por se continuarmos assim, cá e lá, cada vez mais descredibilizamos a actividade política e, as soluções, vão ser cada vez mais onerosas. Os tais desperdícios que pesam no orçamento ... por não estar feito o trabalho prévio.
O PS já devia ter compreendido que as conclusões da designada "Comissão Independente" valem o que valem. Cada vez mais este assunto emerge como uma "birra" de Socrates. Na política, as "embirrices" têm um preço - saiem caras aos seus "disciplinados" defensores.
E, depois a culpa não pode ser endossada ao, dito coerente, Manuel Alegre.
Desta vez estou em completo desacordo quer quanto à forma quer quanto à substância.
Já não era sem tempo.
A Comissão independente é séria e o relatório uma peça científica de rara categoria.
Quanto à disciplina de voto que os deputados se comprometem no início de cada legislarura a respeitar, é uma necessidade para que a governabilidade seja possível.
Manuel Alegre é uma personalidade de grande qualidade ética e intelectual mas não pode, sem renunciar aos cargos partidários, votar com a oposição. Não deve.
A "comissão científica independente" fez o trabalho que lhe foi encomendado. Quem lida com questões científicas sabe que nunca há tantas certezas...como as que integram o relatório.
Na ânsia de agradar podemos deitar tudo a perder...
A indicação dos locais onde fazer a co-incineração é, no meu entendimento, um abuso e o ultrapassar de competências. Ninguém lhe reconhece saber para isso. Podem ser especialistas em co-incineração mas não devem assumir-se como mestres em eco-geo-política.
Sim porque a decisão das localizações deve ser fundamentalmente política e nunca
(jamais) escudada no parecer da dita Comissão.
Idependentemente dos membros que a integram - não é isso que está a ser avaliado - os resultados são demasiado concludentes, taxativos, para não levantarem dúvidas e, evidentemente, a eterna "questão portuguesa" se por detrás há (ou não) favores. Provavelmente a sua composição é demasiado monolítica. Mas isso são problemas que já deviam ter sido discutidos.
Tem de concordar que existem cientistas em Portugal contrários esta metodologia de co-incineração e os seus argumentos terão também validade. Não estamos no tempo do magister dixit. Por isso disse,sem qualquer acinte, que ela vale o que vale.
Mas não vamos estar toda a vida a discutir isso.
Agora, o que considero importante saber é se houve com a oposição o diálogo necessário para sedimentar esta opção.
O PS não pode viver traumatizado com a necessidade de dialogar. Guterres foi acusado (pela direita) de "diálogo a mais" (mentira, o problema foi outro), o actual governo é associado as "afrontamentos, hostilidades e prepotências" (chamar-lhe-ia antes "auto-suficiência de maioria"), muitas vezes inconsequentes.
Acho que o País não tolerará mais nenhum "volte-face" sobre este assunto. Chega de folhetim.
Portanto, há que encontrar uma boa sustentabilidade para efectivamente avançar na resolução do problema dos resíduos perigosos.
O que julgo (bem ou mal, o tempo dirá) é que o PS sozinho não chega.
Só isso.
Mais uma vez lhe reconheço serenidade, sensatez e honestidade na argumentação.
Poderia argumentar com os dados científicos que conheço mas não sou especialista. Sou político.
Deixe-me apenas esclarecer uma dúvida sua, quanto à composição política da Comissão.
«Provavelmente a sua composição é demasiado monolítica».
A forma como foi indigitada levou a que previamente todos os grupos parlamentares se conformassem com a decisão e, depois, foi o que se viu.
Sei que um dos elementos é afecto (ou era) ao PCP e outro claramente de direita.
Quanto ao Prof. Massano, caiu na Comissão como Pilatos no Credo.
Neste caso está em causa a atitude Manuel Alegre. Só isso é visado no meu texto.
alias é assim noutros aspectos das reformas que se estão a processar quer seja nos centros de saude quer nas escolas etc etc.
..e até que isto se resolva estes lixos perigosos vão estando onde???
Que venha o lixo para Coimbra, que viva o loby das cimenteiras. Que viva o PS e o povo que se lixe.
Para que isto fosse possível, nas eleições, substituía a cara dos candidatos (regionais) pela minha. Se não gostassem, poder-se-ia substituir a estampagem pela figura do Fidel ou do Salazar.
Para que isto fosse possível, nas eleições, substituía a cara dos candidatos (regionais) pela minha. Se não gostassem, poder-se-ia substituir a estampagem pela figura do Fidel ou do Salazar.
Afinal estava certo,,,por isso para quando um demate racional sobre o assunto em apreço sem essas emoções partidárias...é que anda nisto muita gentinha que anda por andar....ou por ver andar os outros será????
Se existe um parecer técnico e científico, claro com prós e contras, aceito neste momento esse parecer como válido, e como sei que o óptimo é inimigo do bom, não pastarei nesse prado ao lado dessa rês demagógica que alguns cavalgam e outros seguem.
Não sou político, mas técnico com quase 25 anos de Indústria.
Os meus cumprimentos a todos.
Manel
O que está em causa é se um deputado tem o direito de violar um compromisso prévio assumido com o seu partido, sem se desvincular.
O deputado Campelo era um vendido. Seria?
Defender a carneirada, o senta-levanta não é dignificante para a democracia! Em ciência política estuda-se a disciplina paridária, e ela não é vista assim com tais virtudes que o sr.vem defender.
Confesso sentir repugnância pela carneirada em que se tornou o parlamento na última década. Se assim continuar, que fique apenas um deputado (que já nem se distinguem pela oratória) de cada partido representado e dispensem os restantes. Sempre seriam menos salários, menos regalias, menos indemnizações, e menos reformas antecipadas das chorudas!
Viva a liberdade!
Veja-se como se organizam os partidos mesmo a nivel local, o pessoal acha aquilo uma democracia?????
experimentem militar e vejam como é dificil ser "livre".
Ainda ontemo Senhor Vilar andou a fazer chapeladas no Distrito para dar a vitória à Violante.
Viva a democracia partidária !
Porque é que não há só 4 deputados na AR cada um mandatado com os votos obtidos nas legislativas.
Olhem para o PSOE que ainda ontem tinha militantes de topo numa manifestação convocada contra si.
Vai-lhes acontecer alguma coisa? Vai pois. Vão respeitar mais a sua opinião no interior do partido.
Mas a falta de ética e de pudor grassa e parece não haver HOMENS com capacidade de por termo a isto.
è preciso dizer basta,basta
Cumprimentos.
Não está em causa o direito do deputado à expressão das convicções. O que se pergunta é se um deputado pode enjeitar os compromissos previamente assumidos com o grupo parlamentar e, no caso de Manuel Alegre, com os órgão directivos que integra, sem renunciar a eles.
Já imaginou o que seria um Orçamento de Estado em que os parlamentares da maioria (qualquer maioria) o chumbassem?
A governabilidade de um País também é um bem.
"A governabilidade de um País também é um bem."
Não resisto a comentar!
Para mim a governabilidade de um
País é (devia ser) sempre uma consequência.
Das políticas postas em prática, da coesão ideológica do governo, dos resultados obtidos, da adesão popular ao estilo de governação, etc. Isto é, do bom governo resulta a governabilidade.
É nisto que, também, penso quando se fala da estabilidade política como um valor. Para mim não é. É, sim, outra consequência política.
Resumindo: não concordo com a frequente mistura (confusão) entre valores democráticos e consequências.
Acho-a prejudicial e condicionante ao exercício das liberdades democráticas individuais e colectivas por confundir finalidades com meios.
A pergunta que eu faço é esta:
um deputado que se compromete a respeitar o voto «obrigatório» da sua bancada, antes das eleições, pode permanecer integrado na bancada e nos órgãos dirigentes do partido depois da quebra do compromiso?
Compreendo as razões éticas que levem um deputado a votar contra o seu partido, não compreendo que, pelos mesmos motivos éticos, não passe a independente.