O protocolo do Estado

Pretender integrar o clero na lista de precedências dos titulares dos órgãos de soberania e altos funcionários do Estado é um anacronismo incompatível com um país laico. Afigura-se tão despropositado como colocar nos templos uma cadeira junto ao altar para os representantes do Estado ou das autarquias.

Surpreende que um político experiente como o açoriano Mota Amaral, que não é um demagogo, persista na defesa de uma promiscuidade entre o Estado e a Igreja que tão maus resultados deu no passado e que só pode prejudicar ambas as instituições.

Mas, mais anacrónico, é a peregrina ideia de incluir no protocolo de Estado o Sr. Duarte Pio, um descendente do ramo miguelista da família de Bragança, a menos que se pretenda desprestigiar o regime democrático e transformar o País numa República de ananases, já que as bananas são características da outra Região Autónoma.

O pudor republicano é incompatível com os delírios místicos de um deputado ou com o pendor monárquico de quem sabe que a monarquia constitucional portuguesa se extinguiu com a morte de D. Manuel II.

Que o CDS dê particular destaque «quer às Forças Armadas, quer às instituições religiosas - com realce para a Igreja Católica», é uma atitude que se compreende num partido que foi expulso do Partido Popular Europeu, por ser demasiado conservador e anti-europeu. No fundo é um partido de duvidoso ideário republicano e de hesitantes sentimentos democráticos.

Comentários

Anónimo disse…
O protocolo de Estado deve integrar, em primeiro lugar, todas as personalidades que pessoalmente, ou em sua legítima delegcão, são eleitos pelo povo, segundo a sua representatividade.
De seguida, apareceriam os outros poderes que, embora não eleitos, integram o aparelho de Estado e são pilares da Democracia (Tribunais, etc.).
Outros personagens devem ser, pura e simplesmente, convidados (ou não) pela entidade estatal organizadora da cerimónia.
Assim, seria tudo mais simples e havia um critério claro, subjacente.
A República (laica e dos cidadãos) em que julgo viver não contempla o poder religioso e o poder militar.
Muito menos resquícios monárquicos.
Anónimo disse…
CE,
Faça a fineza de corrigir açoreano para açoriano, que é a grafia correcta. Pode ser?
Anónimo disse…
Prezado anónimo:

Agradeço-lhe a chamada de atenção para a prevaricação ortográfica que, por erro ou ignorância, cometi.

Não perca essa vigilância e não deixe de azorragar os verdugos do idioma.

Pela minha parte, reitero-lhe os agradecimentos e peço desculpa aos leitores.

A correcção já foi feita.
Mano 69 disse…
Ananáses em Portugal continental? Excelente Carlos Esperança! Não quer pedir uma linha de crédito, bonificada e sem juros, à CAP para cultivo daquele fruto?
Quanto ao «(...)Sr. Duarte Pio, um descendente do ramo miguelista da família de Bragança,», sic, essa sua costeleta republicana, laica e socialista (passa a três costeletas s.f.f.) ainda lhe vão provocar amargos de boca com o grande arquitecto quando se fizer o encontro de contas…


“Há já agora uma elite artística; não há ainda, porém, uma elite politica e cientifica com força bastante para enquadrar a massa (moralizando a actividade anárquica dos políticos profissionais) e torná-la digna, finalmente, da gloriosa história dos seus avós.”

Bosquejo da História de Portugal / Antonio Sergio. - 2ª Edição. - Lisboa: Edição das Oficinas Gráficas da Biblioteca Nacional, 1923. – pág. 60.
Anónimo disse…
Mano 69:

Começo a vê-lo muito preocupado com o destino da alma. Imagino-o demasiado novo para semelhantes preocupações.

Por mim, dispenso os algozes deste mundo e não temo os do outro.

Quanto aos ananases, ambos sabemos que os melhores são os dos Açores.

Em relação ao Sr. Duarte Pio, que baptiza os filhos com água do Jordão, por falta de confiança na água portuguesa, já tem precedência nas revistas do coração.

Prenderam-lhe agora o «primo» em Itália. E esse era filho de rei que não abdicou em Evoramonte. Apenas foi cúmplice do fascismo.
Arrebenta disse…
O Pretendente a Herdeiro, seguido de mais uma bastardice da Sonsa das Maiorias Absolutistas

Dedicado ao Kaos, e a alguns membros da minha família, por razões óbvias



No Princípio, era Godoy
-- cavalo do bom, "ia" ao marido e à mulher --
e gerou, de Maria Luísa de Bourbon-Parma, sua filha Carlota Joaquina,
que, por sua vez, gerou do Marquês de Marialva -- bicha do piorio, a quem Bedford, vinha de propósito, de Londres, fazer broches (tal qual como os nosso colunáveis vão hoje à favela brasileira -- agarra, Monchica, esta é directinha para ti!...).
que, dizia eu, gerou do Marquês de Marialva e do Jardineiro do Ramalhão,
Sua Majestade D. Miguel I de Portugal, e dos Algarves,
numa época chamada "Absolutismo", e que se caracterizava por, sempre que ela -- a maior puta que se sentou no Trono Lusitano -- tinha cio, mandar subir ao quarto o mancebo de libré que lhe guardava a porta. Eles saíam do colchão bem mais leves, e muito mais patenteados, uma espécie de Miss Fardas da altura, mas num nível de putice mais solene e majestático.
D. Miguel I ficou conhecido, em Portugal, pelas suas garraiadas, que eram uma espécie de "aceleras" da Ponte Vasco da Gama, mas montados a cavalo, e num "salve-se quem puder" do esborrachar o Zé Povinho. Quando não os esborrachava, nas garraiadas, dava-lhes com a moca, tendo passado para a História os célebres "Caceteiros Miguelistas" (deviam ter um ar parecido com o do "Major"...). As guerras entre Liberais e a Corja Miguelista fizeram multidões de mortos, e lançaram o país na mais profunda ruína.

Por estas coisas e outras tais, exilados, para SEMPRE, pela Carta Constitucional de 1834, dedicaram-se os Miguelistas a pôr ovos -- já não fecundados pelo Jardineiro do Ramalhão -- por terras austro-húngaras, bávaras, alemãs-"avant-la-lettre" e suíças.
Foi D. Miguel (II) gerado, por seu pai, da Freira Adelaide, e nunca lhe passou essa costela da beatice: quando Pio IX, um calhamaço de empatanço histórico, dogmático, e anatemizador da Felicidade Humana --- o João Paulo II da época -- se levantou contra a Reunificação Italiana, D. Miguel (II) apresentou-se-lhe, todo travestido de Zuavo, dizendo "que estava às ordens de Sua Santidade" para tudo o que fosse reaccionário, violento, e exterminador.

Era um homem de bem: aquando da I Guerra Mundial, já ocupava um alto posto no Exército Austro-Húngaro, por acaso, entrado em guerra com Portugal. Alguém lhe assoprou ao ouvido que ditava o mínimo bom senso que abandonasse essa hierarquia do exército que estava em luta com a pátria do seu pai...
De Dona Maria Teresa de Loewenstein-Wertheim-Rosenberg, gerou D. Miguel (II) seu filho D. Duarte Nuno, nascido no Castelo de Seebentein, em terras de Áustria, portanto, nascido cidadão austríaco.

D. Duarte Nuno viveu períodos muito atribulados da nossa história, a ascensão do Salazarismo, regime que sempre lhe cheirou bem, ao ponto da Câmara Corporativa se ter sobreposto aos actos do Regime Monárquico, permitindo -- única coisa com que humanamente aqui concordo... -- o regresso desse ramo familiar a Portugal, sempre que o quisesse. Em troca de sacar os bens da Casa de Bragança para o Estado Português, Salazar, rata sábia, deu-lhe um osso para ir roendo, o de poder usar o título -- enfim, não é título... -- de PRETENDENTE.
Ele adorou e roeu.
Não se conhece, a D. Duarte Nuno, nenhum acto de condenação do Totalitarismo que imperou, em Portugal, durante 48 infindáveis anos. Quando a II Guerra começou, basou logo para a Suíça, onde gerou o cidadão helvético Sr. D. Duarte Pio João Miguel Henrique Pedro Gabriel Rafael, Príncipe da Beira, e seus dois irmãos, uma bicha -- mais uma -- D. Miguel, e D. Henrique, reconhecido pela Ordem da Grã-Cruz dos Oligofrénicos.

Perguntavam à mulher do pai de um amigo meu, por que mantinha ele relações de convívio com Duarte Nuno, e a senhora, muito dignamente, costumava responder que "devia ser por serem ambos bêbedos e terem dois filhos atrasados mentais".... Mães de antigamente...

Não me venham perguntar do que é que eles, Miguelistas, viviam: na altura, ainda não se branqueavam capitais, não se usava o Futebol como cortina do Tráfico da Droga, o Tráfico de Armas era limitado à Alemanha Nazi, sob o disfarce da Cruz Vermelha. Certa, a única fonte que se lhes conhece era uma renda, recebida na Rua António Maria Cardoso, até 25 de Abril de 1974, por causa de uns inquilinos discretos, chamados PIDE, a Polícia Política do Regime, e até eram gente pacata, só se ouvindo gritos quando davam choques eléctricos nos genitais, arrancavam unhas, moíam à cacetada os interrogados, ou mandavam, para os anjinhos, de quando em vez, um deles. Afora isso, foram sempre gente certa, pagadora, e permitiram comprar muitos dos sorvetes que D. Duarte Pio chupava.
Vem tudo isto a propósito de mais uma cretinice da Socratina -- que, violando toda a História de Portugal, sobrepondo-se às decisões radicais da Carta Constitucional, e dos Actos de Banimento da Primeira República, esquecendo o que o exilado D. Manuel II tinha respondido aos Integralistas Lusitanos, de que "a coisa monárquica estava encerrada em Portugal" -- D. Manuel II foi dos poucos decentes, de entre a longa linhagem de gebos bragantina: bibliófilo e esteta, casado com a lindíssima Maria Augusta de Hohenzollern, cedo percebeu, no seu exílio inglês, que não se podia pretender ser Rei de um país já então completamente desintegrado das suas raízes -- e, dizia eu de que, a Socratina, ultrapassando mesmo, as ingerências do Estado Novo, decidiu, de um dia para o outro, que D. Duarte Pio, Senhor de Santar e Senhorio da PIDE, passava de "pretendente" a... HERDEIRO do Trono de Portugal.

Muito gostava eu de que a Sonsa, que nos governa, explicasse este pequeno milagre da Fé. Suponho que seja o seu pequeno "Simplex" monárquico, mas saiu-lhe, e saiu-se, mal. Por mais que ela se abespinhe e ponha em pontas, não há "herdeiros" do Trono de Portugal, há "pretendentes", e, no caso vertente, o Pretendente da Fraca Figura. Por oposição, daqui saúdo D. Juan Carlos de Bourbon, estadista exemplar, e figura maior do séc. XX, restaurador da Democracia em España, símbolo tutelar do desenvolvimento de um dos países mais prósperos da União Europeia. Arranjem-me um rei desses, e até eu o reconheço já amanhã.

Perguntem ao Sr. Dom Duarte Pio se sabe o que é feito dos seus antigos inquilinos da PIDE. Parece que, em substituição, e o valor não veio a lume, mas lembro-me de ser, há uns anitos, coisa já a rondar os 5 000 €. E quem paga?... Pois paga o Estado Português, eu e você. leitor, uma renda, superior a 5 000 €, ao ex-senhorio da PIDE. Dá vontade de perguntar se um gajo, que nunca sentiu o cheiro dos seus inquilinos, seria capaz de reconhecer, pelo olfacto, os seus 10 000 000 de pretensos súbditos. Quanto a mim... não.
De armas na mão, a minha família combateu os antepassados desse... cavalheiro; cosidos com as sombras, foram diversas vezes vítimas das perseguições dos seus inquilinos da Rua António Maria Cardoso.

Nessa tradição, é assim que aqui lhe pinto hoje o retrato. É pessoa que não me merece qualquer respeito, excepto alguns vagos juízos patéticos, sobre mais uma das muitas peças do nosso grande património histórico degradado: para todos os efeitos não passa de mais um fóssil, de inteligência duvidosa, que descende, em teoria, e em linha directa, através de duas bastardias, de Eudes, e de Hugo Capeto, Conde de Paris, o que, para os apreciadores dessas coisas, não passa de uma mera curiosidade genealógica, e, a mim, não consegue arrancar-me, sequer, o ar crispado e sisudo com que estive a redigir este texto.

Muito boa noite.
Arrebenta disse…
Adenda a Dom Duarte Pio, seguida de uma bocejada leitura do Protocolo de Estado

Estava eu a ler uma edição, que me ofereceram, aliás, com uma encadernação muito bonita, do Protocolo de Estado, quando verifico, com surpresa, que tinham mesmo tirado de lá o Cardeal-Patriarca.

Ora, já algures, num "post", aí para trás, disse porque discordava disso. Embora não-católico e não-cristão, a figura do Cardeal-Patriarca representa, para muitos portugueses, um determinado valor, que ultrapassa o opinativo. Personalizando -- o que não deveria -- até acho este Cardeal-Patriarca um pândego, e penso, mesmo, que, se não estivéssemos a viver os tempos lúgubres da ascensão de todos os fundamentalismos, ele daria um excelente Papa João XXIV.

Continuando a leitura, verifico que também de lá tiraram o Hermann (!), aliás, suponho que pelos mesmos motivos, embora ignore, ou prefira ignorar, os motivos pelos quais, alguma vez, esse Senhor Krippahl terá entrado para a Lista do Protocolo de Estado...

Por ali fora, por ali fora, de repente, dou de conas com o Duarte Pio, "Herdeiro" (!) do Trono de Portugal... Bom, o Pretendente passava a Herdeiro, e, em contrapartida, tiravam o Patriarca.
Acontece que, ao contrário do "Herdeiro", o Cardeal Patriarca é um título de um tempo em que fomos magníficos, e nos dávamos ao luxo de ter um Patriarca das Índias, do Oriente, de todas as Rotas, da nossa Aldeia Global Lusitana, ou seja, convidar o detentor dessa designação, não era convidar a cabeça de uma confissão religiosa maioritária, mas antes era um sinal heráldico de uma certa grandeza armilar, velhas jóias de família, que não envergonhava ninguém poder continuar a mostrar.

Em seu lugar, temos agora Duarte Pio, do ramo banido e reaccionário da Casa de Bragança, o ramo caceteiro, mera curiosidade de uma má história, representante do tempo em que nos fomos tornando mais pequenos, cada vez mais limitados, e medíocres, ao ponto de, como num filme a preto e branco -- um certo Fritz Lang -- só sobrar uma sala de paredes frias, e uma luz cegante, pendurada no tecto, apontada à face de pessoas, impedidas de dormir, noite atrás de noite, tortura após tortura, na Rua António Maria Cardoso, numa sombria assoalhada, alugada a esse mesmo senhor Dom Duarte Pio, tão-só para ali serem condenadas, pela simples defesa da curta palavra "Liberdade".

No início do séc. XXI, o medíocre Portugal do medíocre Sr. Sócrates deu-se ao luxo de arrancar da Lista do Protocolo de Estado um Patriarca dos Tempos de Glória, para o fazer substituir por outra figura ainda mais medíocre e parda, a figura do Bragança Sénior, Senhorio da P.I.D.E.

Parabéns!

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