O recandidato Cavaco e as sombras do seu passado

Quem nunca se revoltou contra a ditadura nem contra a guerra colonial, tendo a idade que tinha e licenciatura numa Faculdade altamente politizada, algum esqueleto devia ter no armário, embora, passados tantos anos, pensasse que o anúncio da ficha na PIDE lhe desse galões de democrata e a entrada na galeria do anti-fascismo.

O passado que esconde é recheado com um atestado de bom comportamento salazarista e a delação da madrasta da excelsa esposa, Maria Mendes Vieira, sobre a qual decidiu, em observações, escrever que, com ela, nem ele nem a D. Maria Cavaco privavam. Que razão e estranho impulso o levaram a denunciar à PIDE a distância do casal em relação à referida senhora, quando nada lhe era pedido, e que não possam agora ser revelados aos eleitores para melhor julgarem o seu carácter e a intenção da denúncia?

A repulsa do denunciante visava uma opositora à ditadura ou a «amancebada» que vivia com um homem a quem a Concordata negava o divórcio? Para o piedoso situacionista qual das condições, ou ambas, era considerada uma infâmia?

Um assunto deste melindre, tal como as dúvidas que envolvem a compra e a venda das acções da Sociedade Lusa de Negócios, dele e da filha, dadas as chorudas mais-valias e os amigos pouco recomendáveis que geriam a SLN e o BPN, deixaram de ser assuntos pessoais e passaram a ser do interesse público, fundamentais para julgar a recandidatura de Cavaco Silva à mais alta magistratura de Portugal.

A Presidência tem, pelo seu simbolismo, exigências éticas que não consentem silêncios. O cargo impõe explicações sobre suspeitas que ensombrem o passado do titular. Não suporta a recusa de esclarecimentos sobre os assuntos referidos e, muito menos, sobre a eventual cumplicidade nas escutas geradas em Belém, que deixaram suspeitas graves de conspiração contra o Governo.

O lugar de PR, em democracia, não dispensa o escrutínio de tudo o que possa ferir a nobreza do cargo, sobretudo quando o recandidato já deu provas de não respeitar os outros órgãos da soberania e mostrou especial apetite por funções executivas.

Um PR não pode dar azo a que se pense que Homem forte do presidente encomendou 'caso das escutas'.

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

ASMO LUNDGREN disse…
e a delação da madrasta da excelsa esposa, Maria Mendes Vieira, sobre a qual decidiu, em observações, escrever que nem ele nem a D. Maria Cavaco privavam

de madrasta não vem nem boa pimenta
nem boa maçã

é só ver os casos da branca de neve (cocainómana)
e da gata borralheira
(um caso claro de lenocínio)
Um PR não pode dar azo a que se pense que
Homem forte do presidente encomendou.

Dantes era a mulher de César agora sugere-se que o presidente é....
lá por ter aprovado a lei e ter um homem forte
não quer dizer nada

o presidente não é o papa
nem foi seminarista
lá por não gostar da sogra-madrasta

o anti-cavaquismo anda descontrolado
e-pá! disse…
Seria bom que os portugueses fossem capazes de entender o perfil comportamental do actual PR [e (re)candidato à PR], não desvalorizando, indícios que podem ser relevantes.

O actual PR, enquanto jovem, não só não gostava da "sogra-madrasta", o que poderia ser um assunto de âmbito familiar [sem interesse público], como a denunciou, por iniciativa própria, no ficheiro da PIDE que preencheu, o que transforma o caso num assunto que diz respeito à sua [com]postura cívica [que diz respeito à coisa pública].
A reacção da sua comissão de candidatura, ao furtar-se a esclarecer a situação, não encerra o assunto, antes pelo contrário, abre caminho a todo a tipo de especulações...

Aliás, a fuga a esclarecimentos sobre atitudes pessoais e/ou institucionais [esta miscelânea é preocupante] é uma constante num homem que parece ter uma filia por "tabus".

No fase inicial do "BPNgate", quando Dias Loureiro, integrava [ainda] o Conselho de Estado, o PR teve a preocupação de vir a público afirmar a sua confiança [política?, pessoal?] no ex-conslheiro .
Mas, não foi suficientemente transparente para, no actual momento, em que o ex-conselheiro [companheiro de partido e... de negócios bolsistas], actualmente, arguido num processo que lesou o Estado [a dimensão dos danos ainda não está cabalmente apurada], ter a verticalidade de proceder uma voluntária auto-crítica, acerca das afirmações públicas de confiança manifestadas a Dias Loureiro. O mínimo exigível para repôr a equidade a está ligado quando se afirma "presidente de todos os portugueses" seria, agora, uma pública retirada [ou o desmentido] dessa confiança [anteriormente expressa]. Não o fez e provavelmente nunca o fará.
Todos conhecemos a argumentação a ser utilizada: enquanto o seu companheiro de partido não for julgado está inocente. Todavia, não teve as mesmas precauções, quando veio, públicamente, abonar-lhe a sua confiança.

E mais haveria para escrutinar...

Uma coisa é o "anti-cavaquismo" [descontrolado?] outra coisa é querer [controladamente?] manter situações na sombra [como o post sugere].
Anónimo disse…
"A repulsa do denunciante visava uma opositora à ditadura ou a «amancebada» que vivia com um homem a quem a Concordata negava o divórcio? Para o piedoso situacionista qual das condições, ou ambas, era considerada uma infâmia?

Um assunto deste melindre, tal como as dúvidas que envolvem a compra e a venda das acções da Sociedade Lusa de Negócios, dele e da filha, dadas as chorudas mais-valias e os amigos pouco recomendáveis que geriam a SLN e o BPN, deixaram de ser assuntos pessoais e passaram a ser do interesse público, fundamentais para julgar a recandidatura de Cavaco Silva à mais alta magistratura de Portugal."

Nestes 2 paragrafos,

sem subterfugios, ilustram minhas duvidas sobre o especimen

que contra Açores, com eventual alguma razão,

tenta remendar a sua muito duvidosa estrutura politica
democratica...

excelente post, abraço

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