“Da Ota ao TGV” - Opinião de um leitor

Sem os estudos supostos de existirem no governo, com algumas abalizadas opiniões de técnicos, estudiosos e académicos surgidos na imprensa, procuro recorrer a algum sentido de estratégia e táctica inseridos numa visão espacial resultante de alguma cultura aeronáutica. Um pouco de vistas largas talvez.

NAL: indubitável, que Portugal precisa de um novo aeroporto em Lisboa e da modernização da rede ferroviária. Tomemos uma posição elevada sobre o mapa do país e à vertical da capital – um rectângulo com a capital no centro, a grande área metropolitana de Lisboa, um pólo portuário internacional em Sines, Alqueva a leste, no futuro uma importante zona turística em Tróia. Na década de sessenta e com os planos de fomento do anterior regime, o NAL iria ficar em Rio Frio/Montijo – Dez69, parecer do Conselho Aeronáutico sobre estudo do Gabinete do NAL.

Destino alterado pelo governo em exercício no final da década de noventa – Jul99, despacho da Ministra do Ambiente (?) sobre parecer de Comissão de Avaliação de Impacto Ambiental (?).
Sem necessidade de repetir opiniões e pareceres, acrescento uma perspectiva – a da geografia e do espaço.

Desviar o NAL do RF para norte, alarga o campo de manobra ao aeroporto internacional de Badajoz. Espanha e as Juntas da Estremadura/Andaluzia agradecem. Interessa-nos? Reduz o peso do aeroporto do Porto relativamente ao centro do país e Lisboa. Afasta e encarece seriamente os acessos da AML ao NAL. Á partida, encarece desmesuradamente os trabalhos de engenharia nos terrenos envolvidos. Mantém o Campo de Tiro de Alcochete, extensa área transferível para Santa Margarida. País rico o nosso.

TGV: não sendo técnico de transportes nem economista, muito me espanta continuarmos a debitar opiniões sobre as futuras linhas de TGV. Com a linha do norte em breve integralmente renovada, um investimento colossal ainda não terminado, eis que meia inteligência nacional se debate interminavelmente com linhas e traçados. Se não é loucura, tanto pior.

Indubitável, que Portugal deve ligar-se à rede europeia de grande velocidade. Com uma linha de Lisboa a Madrid e via Badajoz, ponto final. Cuja implementação devia começar já. O resto é alimentar discursos estéreis num país pobre e em risco de deixar alargar o atraso que o domina, discutir o sexo dos anjos enquanto os outros constróem.

Obs: Conferência na Sociedade de Geografia/ General engº da FA Eduardo Koll de Carvalho (8Dez03) - «Aeroporto de Lisboa, a iminência do desastre técnico e económico»; TGV a ligar à Ota: «Abyssus Abyssum Invocat» (in Boletim da AFAP).
Mais que um «défice financeiro», um «défice de estratégia», comprovado por este verão de fogo. Até quando?

PS: convém conhecer o terreno, não é? Da Ota/BA2, onde dei um COM em 75/76. Do Rio Frio/BA6, zona de saltos sobrevoada a 4 mil metros de altitude nos anos 70/80.

Adit: no DN 29Ago, uma pérola de João Cravinho: “Fachada atlântica, Ota e TGV» -. TGV Lisboa-Porto, criando uma «metrópole polinucleada» de dimensão europeia com mais de seis milhões habitantes. Inovação sociológica pura.
Quem falou em «decoro»? Que mil estádios floresçam.
B. Monteiro, Lisboa.
30Ago05

Comentários

Anónimo disse…
Este artigo é de um prestigiado Coronel da aeronáutica cuja reflexão sobre o tema do novo aeroporto é antiga.
paulo disse…
Confesso que a Ota não me interessa. Já o TGV ofende-me. Utente da Linha do Norte há mais de quinze anos, no percurso Coimbra / Ovar, vi desaparecer, comboio a comboio, até a sua quase extinção, regionais, interregionais, intercidades. Hoje em dia ( não que isso interesse a ninguém ), os comboios regionais, que eram o único transporte útil para muitas pessoas, vão de coimbra a Aveiro; lá espera-se practicamente meia-hora por um comboio suburbano ( e outro, igualzinho ) que baptizaram de urbano para dar estilo ( são tão urbanos, tão urbanos que nem casa de banho têm ). Em resumo, uma viagem de Coimbra a Ovar ( cerca de 85 Km ) faz-se em mais de 2 horas; fazia-se em 1.20 horas. Na linha do norte estão enterrados, segundo as últimas contas 400 milhões de contos; and conting. Vai de Alfa, Paulo!, não para lá. Vai de intercidades, Paulo!, há um a meio da manhã, outro a meio da tarde, imcompativeis com os horários laborais. E agora, para encimar a pirámide de despesismo, incompetência, cegueira em relação às necessidades dos utentes da linha do Norte, pranta-se-lhes um TGV. Do qual não temos custos de implantação. Do qual não se conhece o preço das tarifas ( mas que a julgar pelos exemplos externos, mal competem com as tarifas aéreas ) Eu pessoalmente, sinto-me gozado. Mais, sinto-me ignorado enquanto cidadão. Terei de obviamente de adquirir um automóvel que não necessito, para ter ao menos na buzina uma voz que os timoneiros da malta entendam - Fom Fom!
Anónimo disse…
Paulo:

O seu comentário traz-me à memória o coveiro da circulação rodoviária que o cavaquismo promove como tendo sido um grande ministro. Chama-se Ferreira do Amaral e inviabilizou o mais económico, seguro e eficaz meio de transporte - o ferroviário.

Foi ele que matou os combóios a favor dos automóveis. Estamos a pagar essa falta de visão e a obstinada preferência pelos transportes rodoviários.

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