A globalização e a justiça social

O processo de globalização em curso era previsível com a revolução das comunicações e tornou-se inevitável com a pressão e a urgência de multiplicação do capital financeiro.
Ainda é cedo para avaliar a alteração radical que, da política aos costumes e da religião à economia, está a mudar a face do Planeta.

Hoje há já algumas certezas quanto ao futuro colectivo que nos espera e poucas em relação à sua natureza. Há a certeza de que a globalização aumentou a riqueza mundial e pôs em perigo os privilégios dos países mais desenvolvidos. O Brasil, a China e a Índia são os exemplos mais óbvios da rápida progressão económica perante o medo e a incerteza que assusta os trabalhadores da Europa, Japão e EUA.

O inevitável princípio dos vasos comunicantes tende a nivelar a cultura, a ciência e a técnica, democratizando o conhecimento, enquanto ressurgem os sentimentos tribais, se exacerbam os nacionalismos e se multiplicam as respostas suicidas e terroristas das civilizações falhadas.

As religiões fecham-se nos dogmas e explodem em manifestações de proselitismo, as sociedades tribais radicalizam as tradições, os regimes ditatoriais reforçam o controlo policial e, por todo o lado, emergem poderes à margem do escrutínio democrático e das decisões colectivas.

Talvez a falta de água e de energia, a poluição do ar e do ambiente e a degradação das condições de vida tornem a humanidade mais solidária mas os exemplos que afloram ameaçam transformar o mundo numa arena onde os vencedores se preparam para impor novas e mais sofisticadas formas de escravatura.

É o regresso à barbárie que nos ameaça se a lucidez e a inteligência forem exoneradas das decisões políticas. E não é preciso ser grande profeta para adivinhar que têm mais a perder os que acumularem mais capital do que os que nada têm a perder. E não é líquido que novas e velhas utopias, algumas com desastrosas provas, não ressuscitem.

Os que quiserem o mundo só para si arriscam-se a inviabilizá-lo para todos.

Comentários

e-pá! disse…
CE:

Lendo o seu texto pleno de acertadas questões e de paertinentes interrogações em relação ao nosso futuro, ocorreu-me que há outras faces desta mesma moeda (globalização) que são, sistematicamente, relegadas para segundo plano. Para não dizer ocultadas, por podem ser tomadas como maus exemplos...

E, neste encadeamento de pensamentos, lembrei-me da nova constituição da Bolívia.
Que, à primeira vista, se confunde um documento panfletário, do tipo populista.
Ou melhor, temos a cabeça condicionada de que Evo Morales - o primeiro presidente indígena -não deverá "parir" nada de bom ou de inovador... só populismo.
E os ecos que nos chegam são da polémica polítca gerada pelas forças conservadoras bolivianas que temem esta carta magna e impedir o plebiscito popular.

Todavia a nova Constituição consagra, entre múltiplas alterações como a abolição do trabalho forçado e exploração infantil, 2 princípios que são tremendamente oportunos e estreitamente relacionados com questões ambientais que se colocam ao Mundo.

1º) Desenvolve o conceito de soberania alimentar, isto é, defende-se uma política agrária para desenvolver e vialbilizar a pequena agricultura familiar orientada para o mercado nacional;

2º) Em complemento da medida anterior e para apoio da produção de pequena escala, a constituição proibe os transgénicos.

Não são 2 bons exemplos de conservação da cultura indigena e de desenvolvimento equilibrado?
Não é um remar contra a maré globalizante?
Ou vamos ficar só pela rotulagem de demagógico / populista, retirando-lhe qualquer valor político ou social?
Anónimo disse…
Meu querido amigo:
Tomo a liberdade, que é também ousadia minha,comentar aqui as suas palavras sobre o tema.
Tema que é continuamente actual e, quase sempre,apresentado de alguma forma distorcida.
A dita globalização não é de hoje, nem de ontem.Diríamos que foi de sempre!
O factor decisivo que, nos nossos dias, a determina, foi e é, a informação.Naturalmente, toda a informação, mas sobretudo, a velocidade com que a mesma circula.Esta, é o factor determinante nos nossos dias, da visibilidade com que as mudanças sociais,entendidas no mais alargado sentido possível, são objectivadas e persentidas.
A justiça social é um objectivo de qualquer comunidade. A questão reside no modo de a tornar possivel.
O que temos vindo a discutir há longo tempo é a igualdade. Hoje como ontem, diria desde sempre,o que objectivamente verificamos são desigualdades.
Então, a discussão tem caminhado, em bases erradas.O objecto da discussão não será a "igualdade" mas sim as "desigualdades", porque aquela nunca existiu, naturalmente não existe e estas, sempre existiram, naturalmente existem e continuarão a existir.
A justiça social é directamente dependente da informação e da sua velocidade de circulação.
Um abraço
HAYEK

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