As petrolíferas e ‘monarquias’…

Ainda sob a tempestade da investigação ‘Lava-Jacto’ que tenta descortinar (amplos) esquemas de corrupção, favorecimento e envolvimento entre políticos brasileiros – exercendo funções públicas - e empresas privadas envolvendo a petrolífera Petrobrás surge, ontem, a notícia da nomeação de Isabel dos Santos (filha do presidente angolano) para a presidência da Sonangol link.

Estas mudanças e andanças – sejam em Angola, no Brasil, na Arábia Saudita ou Rússia - apresentadas como meros actos de gestão têm uma enorme componente política, nomeadamente, no quadro das relações de poder.

O sector energético tornou-se fundamental para a economia desde as primeiras explorações petrolíferas na Pensilvânia (século XIX), mas foi determinante, durante o século XX (nomeadamente na 2ª. revolução industrial), no desenvolvimento económico e social de todos os países.
Os países ‘produtores’ (na realidade ‘exploradores’ de recursos naturais não-renováveis) construíram uma teia de interesses políticos e económicos utilizando como instrumentos (ditos de ‘mercado’) importantes holdings nacionais (e muitas vezes internacionais) que controlam a produção e a comercialização de hidrocarbonetos.

Estas empresas são, por regra, oligopólios (absolutamente visível no famoso ‘cartel das 7 irmãs’) e detêm incontroláveis poderes financeiros e, por mecanismos colaterais, sempre pouco transparentes, uma enorme influência política.

As flutuações dos preços do crude são fenómenos cíclicos – os chamados ‘choques petrolíferos’ - que têm a ver directamente com a gestão política e económica a nível global e a curto prazo e, ainda, com a ‘agitação’ de uma sempre pendente, adiada e ameaçadora ‘crise energética’ que, por norma, tende a passar ao lado da análise e discussão pela sociedade civil.

Na verdade, no século XXI, o processo de globalização em curso, veio dar mais força e simultaneamente tornar ainda mais opaca a gestão energética mundial. Existem preocupantes evidências de mecanismos políticos, delineados à escala mundial, longe de qualquer escrutínio democrático, que ‘fabricam e empolam’ crises determinando a sua extensão e durabilidade. 

Estamos a viver um desses episódios em que a recente descida do preço do crude não sendo uma simples consequência de sobreprodução de alguns países incorpora objectivos económicos e políticos, supervisionados pelos incontrolados e insaciáveis interesses do mundo financeiro.

Outro vector que deve ser analisado são as respostas organizativas nacionais, definidoras de políticas internas no âmbito energético, congregadoras de interesses de grupo ou familiares, tendo por placa giratória a corrupção e o enriquecimento ilícito, correlacionáveis com este gigantesco mercado. 
 
A nomeação de Isabel dos Santos como presidente da Sonangol pouco difere da situação que se vive na Arábia Saudita onde recentemente se extinguiu o Ministério do Petróleo e a Saudi Aramco (maior companhia petrolífera do Mundo) formalmente dirigida por Khalid Al-Falih é, de facto, manobrada e comandada em termos políticos e financeiros por um dos filhos do actual rei (Mohammed bin Salman).

Enfim, Angola parece ter iniciado uma vertiginosa marcha de aproximação aos estilos vigentes nas monarquias absolutas…

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