O BREXIT, a UE e os comportamentos de avestruz…

O BREXIT obteve o voto maioritário dos britânicos link. É muito cedo para desmontar todo este complexo processo referendário que ontem teve o seu epilogo na Grã-Bretanha. 
Mas a cascata de consequências que vêm aí, excedem largamente os números calculistas dos interesses económicos e financeiros imediatos, não se confinam à city londrina e, como teremos oportunidade de avaliar no futuro, são essencialmente políticas e 'sistémicas'. 

Neste momento, deixando os britânicos entregues às suas democráticas opções, a análise fundamental é o entendimento – pelos cidadãos europeus – do que falhou no processo de construção de uma União Europeia sólida, solidária e próspera. 
E muito embora exista um acumular de erros financeiros e económicos que ‘partiram’ a Europa entre um Norte/Centro e o Sul (ou a sua periferia) a grande derrota recaí sobre o establishment que se instalou em Bruxelas e manifestou uma total incapacidade de lidar com os problemas da União. 

Nada poderá continuar como dantes e as mudanças devem começar pelo coração da UE, isto é, pelas instituições europeias onde, à revelia de mecanismos democráticos e participativos, se instalou uma fechada e obscura legião de burocratas que, todos os dias, tenta alargar e acumular fátuos poderes.

A UE, sempre que submetida à prova irrefutável da validade e justeza do seu projecto, isto é, ao escrutínio popular, tem soçobrado sistematicamente. Foi assim com a fracassada Constituição Europeia, no início deste século, e que os plebiscitos realizados na Holanda e França mataram à nascença. Na altura não existiu a capacidade de encarar de frente o problema e provocar uma ampla discussão por todo o Continente, corrigir erros, dissipar dúvidas, esclarecer e, politicamente, optou-se pelo cancelamento do processo, alienando a participação popular para, em sua substituição, elaborar um Tratado (por ironia do destino conotado com ‘Lisboa’) não referendável. 
O distanciamento histórico existente permite-nos hoje ter a exacta noção do caminho ínvio então adoptado.

Provavelmente, o referendo do Brexit tem a sua remota génese no Tratado de Lisboa. Este entorse na construção de uma Europa dos cidadãos, acrescido de seculares (pre)conceitos soberanistas intrínsecos dos britânicos, da dúbia atitude britânica de estar com um pé dentro e o outro de fora, elaborou o caldo explosivo que levou ao 'exit' e, simultaneamente, consubstancia uma grave ameaça à estabilidade política da União Europeia. Ontem ocorreu a primeira efervescência deste caldo mas no horizonte já se avizinham (adivinham) outras. 

E esta incontornável ameaça é para ser assumida em toda a sua plenitude e extensão e não tratada com paninhos quentes ou dissonantes declarações ‘politicamente corretas’ que já se perscrutam nos media.

O primeiro grande sobressalto, a ‘convulsão’ necessária, tem obrigatoriamente de incidir sobre a máquina que foi instalada em Bruxelas que se revelou negligente, incompetente e manifesta um 'défice excessivo' (para usar um lábeu dos eurocratas) de representatividade. A já anunciada demissão de Cameron não basta quando avaliada em termos europeus. A Comissão Europeia deverá também arcar com as suas responsabilidades porque como se observa nos divórcios existam sempre 'culpas mútuas'.

Finalmente, impõe-se o fim dos ‘comportamentos de avestruz’ que inquinaram os anos mais recentes da construção europeia e alimentam todas as perversões do projecto, cada vez mais visíveis com a crise económica e financeira que ocorre (decorre) há longos e insuportáveis oito anos em múltiplos Estados europeus.

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