Monarquia e paradoxos

Há na excentricidade das monarquias não apenas o mofo dos séculos, mas o exotismo de quem lhe basta ter cabeça para usar coroa e a singularidade de quem escolhe as cores de acordo com a extravagância real.

Sendo os reis uma espécie em vias de extinção, manda a defesa da biodiversidade que se conservem alguns exemplares para ilustrar a evolução das instituições.

No Reino Unido, país cujo adjetivo é cada vez mais precário e questionável, reside no parque natural de Buckingham, habitualmente no palácio, a rainha Isabel II, coroada há mais de 60 anos e que, na ausência de código de barras ou prazo de validade impresso, é chefe de Estado até resignar ou se esquecer de respirar, tendo como prótese conjugal, o Sr. Filipe, que usa o pseudónimo de duque de Edimburgo.

Os ingleses, hábeis em negócios, conseguem ter um ornamento que vendem aos turistas e à comunicação social, dando de brinde às revistas cor-de-rosa os príncipes e princesas, as traições matrimoniais, aventuras amorosas, guarda-roupa e criancinhas da família.

A rainha é a celebridade nascida em 21 de abril de 1926 e que, por capricho ou humor, comemorou o 90.ª aniversário em 10 de junho, uma rainha faz anos quando quiser.

É chefe de Estado por tradição e lê os discursos da coroa, dos primeiros-ministros, sem lhes alterar uma vírgula porque em democracia, os ingleses foram pioneiros e, aceitando o folclore, gostam de exibir os reis, mas não lhes permitem reinações.

É a Governadora Suprema da Igreja da Inglaterra e não é obrigada a acreditar em Deus, que nisso das crenças respeitam a da própria rainha. Como o cargo é vazio de funções e o facto de ser Defensora da Fé não a obriga a dar catequese ou a fazer homilias, é ou foi ainda rainha, após a implantação da República noutros países, do Canadá, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Paquistão e Ceilão, além de Tuvalu, Antígua e Barbuda e São Cristóvão e Nevis, entre outros só conhecidos de turistas ou especialistas em geografia.

Quem resiste à sedução de uma velhota de 90 anos que se veste de adolescente e preside a rituais militares coreografados para serem vendidos às televisões de todo o mundo?

Comentários

Anónimo disse…
Mas por que carga de água é que o canal 1 da RTP passa uma manhã inteira a transmitir uma aborrecida parada militar, que supostamente servia para comemorar o aniversário da rainha.... dos ingleses. Ou será que Portugal também já aderiu à Commonwealth?
Eu, republicano, confesso

Confesso que gosto da Rainha de Inglaterra, pela mesmíssima razão por que nutro simpatia pela Quina, Joaquina Gonçalves, que aos 86 anos continua em atividade. Esta é a carteirista mais velha do País e desloca-se, sem ser recebida em apoteose, a qualquer local onde possa aliviar da carteira um desprevenido turista. Viaja sozinha, de autocarro ou a pé, para exercer a função. Admiro-a.
Fraquezas republicanas.

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