Notas soltas - Maio/2006

1.º de Maio – As comemorações do dia do trabalhador reflectiram a angústia do desemprego, o medo do futuro e a insegurança que se instalou na sociedade, onde a crise se agrava e o fosso entre ricos e pobres não pára de aumentar.

América do Sul – Consolida-se a viragem à esquerda mas, enquanto o Brasil e a Argentina acatam as regras do direito internacional, a Venezuela e a Bolívia reincidem em vias que fracassaram no passado.

Bolívia – A nacionalização do petróleo é um tónico na onda de euforia populista, mais do que a estratégia alternativa ao capitalismo selvagem que sufocou o País. Evo Morales conhece a fome do seu povo. Assim descubra a forma de a combater.

Venezuela – A retórica anti-imperialista de Hugo Chavez esconde um demagogo, abrigado nas divisas do petróleo, sem respeito por acordos e sem sentido de Estado. O ódio ao EUA e a legitimidade eleitoral não bastam para fazer um estadista.

Inglaterra – A pesada derrota de Blair nas eleições locais é o castigo da invasão do Iraque. Mais do que erro foi um crime a insensata aventura que dividiu a Europa e dificulta agora a contenção da deriva belicista do Irão.

CDS – Após outro congresso, para revigorar a legitimidade e a autoridade, o líder Ribeiro e Castro viu fugir-lhe uma e outra, derrotado no Conselho Nacional e com o grupo parlamentar, insubordinado, a reforçar a autogestão.

PSD – Marques Mendes é o primeiro presidente legitimado em eleições directas. A candidatura única não lhe retira brilho. Teve uma votação expressiva e sucede a dois líderes medíocres – Durão Barroso e Santana Lopes.

PSP – O racismo e a xenofobia são sentimentos pusilânimes. Que um dirigente sindical possa ser o veículo da mais primária e injusta manifestação de racismo, contra emigrantes brasileiros, é uma exótica aberração do secretário-geral Luís Figueira.

ONU – A decisão de Annan, de nomear Jorge Sampaio como primeiro enviado especial para o combate à tuberculose, foi feliz. Encontrou a personalidade certa, com rara sensibilidade e apetência pelos problemas de saúde.

Alemanha – O europeísmo de Angela Merkel revela uma grande estadista e dá-lhe a derradeira hipótese de salvar a Constituição Europeia no primeiro semestre de 2007, em que preside à U. E., apesar dos revezes da França e Holanda, em 2005.

Madeira – A iniciativa de alargar aos deputados da Assembleia Regional o regime de incompatibilidades e impedimentos que vigoram na Assembleia da República é um acto de equidade a que se opõe A. J. Jardim, pouco receptivo à lei e à moralidade.

PGR – A demora nas averiguações das escutas às mais altas figuras do Estado pôs em causa o respeito que é devido a quem as ordenou (PR) e, face à impunidade dos culpados, restou acusar os denunciantes – os jornalistas.

Congresso do PSD – A grande medida – rescisão amigável com os trabalhadores da função pública –, é uma utopia e seria uma violência. Resta acrescentar que carece de cobertura legal a aplicação de fundos da U. E. que foi sugerida.

Montenegro – O nova nação de 650 mil habitantes, com a mesma língua, religião e história da Sérvia, foi o último capítulo da agonia e morte de um país – a Jugoslávia –, com o Kosovo à espera. Os albaneses do litoral e a apatia da U.E. foram decisivos.

Jugoslávia - Do país que foi, resta o ódio, ressentimento e estímulo para novas aventuras separatistas e sonhos de velhos impérios. O desastre começou com a Croácia e a tragédia consumou-se agora. A ausência de política comum europeia foi responsável.

Iraque – O novo Governo é uma fraca e tardia compensação para o drama que os invasores provocaram. Perante a desatenção mundial, estiveram em curso várias frentes de limpeza étnica e genocídios silenciosos e silenciados.

Turquia – O assassinato de um juiz por ódio religioso e a «compreensão» do primeiro-ministro é um ataque brutal à laicidade do Estado que afasta a Turquia da U.E. e ameaça atirá-la para o seio do islão, cada vez mais agressivo e demente.

Timor – A anarquia e o caos, a que não são alheios o petróleo e a luta pelo poder, comprometem a vida da população e a viabilidade do País. Mas por que será que a nós, portugueses, nos dói tanto o sofrimento do povo maubere?

Polónia – A nostalgia estalinista e o proselitismo de um catolicismo jurássico fizeram do país um laboratório político onde medra o ultraliberalismo e lança raízes a extrema-direita.

Brasil – A violência que eclodiu em S. Paulo originou esquadrões da morte em que os ajustes de contas e a vingança de contornos racistas são a trágica realidade de um país cuja economia avança sem que a crueldade esmoreça.

Comentários

Anónimo disse…
Alemanha
Ao europeísmo da senhora podias ter crescentado neoliberal, como neoliberal podias ter acrescentado à Constituição Europeia.
Por mim digo: oxalá a senhora não a consiga salvar, sendo o que o neoliberalismo quer que seja.

PGR
A demora nas averiguações integra o meio escolhido para se chegar à impunidade dos culpados. O poder não dorme na formatura.

Montenegro; Jugoslávia
O desmenbramento teve Padrinho. E aos Padrinhos nada se recusa, manda a boa educação.

Timor
A mim, particularmente, doi-me um pouco mais que os afeganistãos, os iraques, os mauberes, as bolívias, as polónias, as venezuelas, as palestinas, ..., porque foi vítima do colonialismo português - para além de ser (fundamentalemente) vítima, como outros, do petróleo que possui, actualmente o pior dos inimigos que alguém pode ter, mas ao qual a água começa a pedir meças na primazia da perigosidade.

Brasil
OS EEUU nunca, que eu saiba, se incomodaram com a eleição de Lula, e não foi por "não ingerência". Agora cedeu em toda a linha aos "governantes" do país, internos e internacionais. Bem comportado, o rapaz.
Anónimo disse…
Peço desculpa por, na referência "Alemanha", na 1.ª linha do comentário, ter dito "crescentado" em vez de "acrescentado". Neste caso resultou de não saber mecher nestas coisas dos blogs para fazer emendas, o que, afinal, era simples.
Anónimo disse…
Madeira – A iniciativa de alargar aos deputados da Assembleia Regional o regime de incompatibilidades e impedimentos que vigoram na Assembleia da República é um acto de equidade a que se opõe A. J. Jardim, pouco receptivo à lei e à moralidade.

Mas qual moralidade? A dos srs. deputados da AR que assinam o ponto e se põem na alheta? Que vão aos jogos de futebol e justificam a falta com trabalho parlamentar relevante? Que são incapazes de estar presentes em n.º suficiente para assegurar as votações? Que recebem indemnizações chorudas para regressar à vida privada depois de conseguir a tal refoma de luxo no Parlamento? Poupe-nos...
Anónimo disse…
Anónimo Qui Jun 01, 04:10:54 PM

Na Madeira há todos os defeitos que atribui à AR e outros, que são exclusivos.
cãorafeiro disse…
CARLOS:

APENAS SOBRE O MONTENEGRO:

não se trata de uma nova nação, mas sim de um estado que foi o primeiro da região a obter a sua independência no século XIX, até que em 1918 os sérvios o absorveram...

não se trata de um país com a mesma cultura dos sérvios, mas sim de dois povos com enormes afinidades culturais mas identidades distintas.

a identidade própria dos montenegrinos foi sistematicamente negada, primeiro durante a vigência do reino doe sérvios, croatas e eslovenos, devido à hegemonia sérvia, depois durante o regime de tito, em nome do ideal (aliás um belo ideal) da fraternidade e união, a tal ponto que muitos montenegrinos só agora estão a redescobrir as suas próprias raízes.

quanto à UE, de facto a sua conduta foi vergonhosa, vergonhosamente pró-sérvia, desrespeitando assim o princípio democrático que diz: 1 eleitor vale 1 voto.

dentro de alguns anos, quando o povo sérvio conseguir finalmente libertar-se da opressão nacionalista que o corroi, os povos da região voltarão a encontrar-se a poderão então partilhar os seus valores comuns, mas sem tentações hegemónias, em igualdade.

muito me admira que, sendo Portugal um país que ao logo dos séculos sempre sofreu com as tentativas espanholas para nos absorver e nos eliminar como Estado independente, que tão pouca gente compreenda a importância de haver um pequeno áis na Euroa que tem amor à liberdade e que quer governar-se a si próprio como estado independente.

as minorias muçulmanas apioaram a independência porque o governo montenegrino, ao contrário do governo sérvio, teve a inteligência de instaurar políticas de inclusão das minorias.

os muçulmanos do Sanjak preferiram ver a sua região dividida entre dois Estado do que manter a União com a Sérvia, porque sabem bem ver as diferenças entre a forma como o lado sérvio e o lado montenegrino têm vindo a desenvolver-se nos últimos anos.http://www.osservatoriobalcani.org/article/articleview/5756/1/51/
cãorafeiro disse…
Jugoslávia - Do país que foi, resta o ódio, ressentimento e estímulo para novas aventuras separatistas e sonhos de velhos impérios. O desastre começou com a Croácia e a tragédia consumou-se agora

não, Carlos, a tragédia consumou-se entre 1991 e 1995, com segundo episódio em 1998-1999.

o que o mundo assistiu em Maio foi ao fim de qualquer possibilidade real de realização do sonho/pesadelo do expansionismo sérvio. e isso é bom, incuindo para os próprios sérvios.

considerar um referendo que decorreu pacificamente e respeitando os critérios democráticos uma tragédia, não estou a reconhecer-te.

o princípio da autodeterminação dos povos não deveria valer para pos montenegrinos?

dentro de 5 anos as pessoas que agora auguram o pior para o Montenegro compreenderão por que me bato com tanta força pelo apoio à independência deste país.
Anónimo disse…
caorafeiro:

Reconheço-te um comhecimento da geografia e da história do que foi a Jugoslávia muito superior à minha.

Eu visitei um belo país em 1973 que se chamava Jugoslávia. E ficou-me a tristeza de o ver desintegrar.

Não nego o direito dos povos à autodeterminação, muito pelo contrário, mas sei o que sigmifica tocar em fronteiras.

Os «albaneses» de Montenegro não sonham com a grande Albânia»?

Pelo menos sei que 45% dos eleitores manifestaram desacordo com a independência.

Um destes dias falaremos a este respeito. Deixa livrar-me de uns compromissos que me têm roubado muito tempo.
cãorafeiro disse…
carlos:
1-Os «albaneses» de Montenegro não sonham com a grande Albânia»?

não necessariamente. alguns certamente, muitos são pessoas como nós que apenas querem viver em paz e sustentar as suas famílias com dignidade.

quando o Montenegro começar a ter um nível de vida mais próximo da média europeia, quando atingir os níveis da Croácia, por exemplo, dificilmente encontraremos um Montenegrino de origem albanesa que deseje a Grande Albânia.

2-Pelo menos sei que 45% dos eleitores manifestaram desacordo com a independência.

44.5% é uma minoria importante, mas as motivações dos votantes do não não são todas iguais. alguns são ultranacionalistas ainda agarrados à miragem da Grande Sérvia, muitos são pessoas que se habituaram a acreditar que sem a Sérvia o Montenegro seria inviável, alguns são pessoas que têm laços familiares ou de afeição especiais com a Sérvia.

seja como for, existe, tanto no campo do sim como do não uma série de pessoas que lamenta a separação. e isso é bom porque vai permitir que no futuro, se mantenham boas relações entre os dois países, mas desta vez em condições de igualdade entre dois Estados soberanos que partilham uma série de traços culturais.

este processo está apenas no início. dentro de 10 anos, quando as crianças que hoje têm 7-8 anos forem jovens adultas, aí sim teremos uma identidade nacional montenegrina consolidada. creio, pelo que pude observar nos dois países, que será um identidade inclusiva, em que as diferentes etnias e sensibilidades culturais se poderão reconhecer numa identidade comum. o mesmo não posso dizer da juventude da sérvia, que continua a aprender na escola a História que os nacionalistas gostam de contar, e que tem sistematicamente exemplos que de que a violência é um meio «normal» de resolver problemas, que o ódio a todas as pessoas que sejam diferentes é aceite socialmente como uma coisa natural.

no Montenegro, depois da vitória do SIM não se deu o menor incidente! as pessoas festejavam com uma calma surpreendente para o que se pode esperar de um festejo nos Balcãs. Enquanto isso, na televisão sérvia, uma série de personalidades da política sérvia enviaba mensagens de ódio.

na segunda-feira seguinte, uma raparida minha conhecida, 18 anos, foi agredida e insultada logo que chegou ao liceu, em Belgrado. o pecado dela? o avô é montenegrino. os rapazes que a agrediram foram castigados? não.

perante exemplos destes, que se repetem, acho que os montenegrinos tomaram a decisão mais sensata. e mesmo os 44.5% que votaram não vão perceber, com o tempo, que foi o melhor para todos.
cãorafeiro disse…
e só não digo qu8e dentro de alguns anos toda a região poderá reencontrar-se no espaço mais vasto da UE porque não acredito que a UE seja boa para os Estados pequenos, nem tãopouco acredito que a UE dure muito mais tempo, pelo menos como a conhecemos hoje.
Anónimo disse…
caorafeiro:

«...nem tãopouco acredito que a UE dure muito mais tempo, pelo menos como a conhecemos hoje».

RE: Esse é o medo de um europeísta convicto perante quem procura o óptimo sem ponderar o possível.
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