Há homens assim…
Na última quarta-feira, perto da meia-noite, uma casa da Miuzela do Côa estava em chamas. Acudiram os vizinhos como soe fazer-se nas aldeias da Beira. A ansiedade crescia ao ritmo das chamas e do fumo e os donos não davam sinais de vida.
Lá fora, na rua, a aldeia reunia-se com gente ansiosa e impotente, chamando pelos donos da casa. O silêncio devolvia-lhes a aflição e aumentava o medo.
Manuel Jerónimo Prata e José António Prata, dois irmãos, arrombaram portas e foram salvar as vidas que julgavam em perigo. Não os demoveu o fumo nem o fogo, não pensaram na vida que arriscaram e nos perigos que os esperavam. A solidariedade é alheia a cálculos e tibiezas.
Na busca dos conterrâneos em perigo apenas os moveu o desejo de resgatá-los, a ânsia de salvar vidas em perigo. O Augusto e a Beatriz ainda não tinham chegado. Na casa vazia de gente os irmãos Prata procuravam libertar vítimas quando a explosão de uma botija de gás os encurralou e queimou.
Hoje estão na Unidade de Queimados dos Hospitais da Universidade de Coimbra. Livres de perigo, com o dever cumprido, sofrem as dores das queimaduras que lhes marcaram o corpo. Os rostos mostram as marcas de um doloroso churrasco e a tranquila serenidade de quem cumpriu um dever sem aguardar a paga.
É de homens assim que se faz a grandeza moral de um povo, homens que, por entre labaredas, dão um exemplo de coragem e solidariedade que honra a Miuzela de que são filhos e as terras da Beira que guardam gente de coragem e abnegação.
Ontem, falando por um intercomunicador e vendo-os através dos vidros, tive orgulho nos conterrâneos.
Deixo-lhes aqui o testemunho da minha homenagem.
Comentários
as minhas desculpas
O dever é mais pesado que uma montanha a morte é mais leve que uma pena.
Será que os irmãos Prata serão da família do Pina Prata?
Estes irmãos vivem do trabalho.