Lula da Silva
Não duvido dos níveis de corrupção elevados que se praticam no Brasil. Nem da quantidade de políticos venais que atingem os mais altos escalões do Estado, Presidência da República incluída.
Collor de Melo é o paradigma desse cancro que corrói um país de enormes riquezas, condenado a ser uma grande potência mundial.
Surpreendeu-me a frequência, intensidade e violência com que quiseram atingir Lula da Silva.
Sei que é uma questão de fé mas não acredito que o antigo metalúrgico esteja metido na teia de interesses tenebrosos que corroem a democracia brasileira.
A corrupção é a mancha de óleo que alastra e deixa nódoas sem haver benzina que a desencarda. Em ditadura oculta-se, em democracia exibe-se. É também por isso que a pior democracia é preferível a qualquer ditadura.
Lula da Silva já deu provas de que soube governar um imenso país sem poder evitar os que se governaram à sombra dele. Assim, foi obrigado a uma segunda volta, de resultados incertos.
Há milhões de pobres que retirou da pobreza. Só por isso merecia a reeleição à primeira volta.
Comentários
Lula achou que ia ser fácil. Cantou vitória antes da hora. Não se deve desdenhar da opinião pública nem achar que ela pode ser controlada. Lula agora serve de exemplo a qualquer outro político favorito nas intenções de voto que fugir aos debates é uma péssima idéia. Agora o país que poderá, finalmente, assistir a um debate de propostas e idéias.
Um abraço
Marco Aurélio
Hoje, temos a nítida noção de o mesmo era demasiado pesado para os seus ombros.
Lula era a promessa de um "governo popular". Quem viu as imagens da sua tomada de posse facilmente reconheceu as expressões de uma gloriosa alegria popular.
Ao longo dos 4 anos de exercício, afastou-se do partido que ajudou a construir. Enredou-se na convulsiva e tenebrosa política brasileira, pejada de escândalos políticos, de corrupção e de caciquismos. Os seus companheiros de caminhada vão caíndo um a um atolados em CPI's (Comissões Parlamentares de Inquérito).
Foi a dos correios, do mensalão, a das sansegussugas, etc.
O seu partido, perde militantes de prestígio, os politicamente mais activos, os mais ligados ao movimento popular.
Esqueceu-se que o governo popular que, abnegadamente sonhou e tentou construir, só era viável com a participação popular.
O programa "Fome Zero", os "Sem Terra", a estabilidade financeira que Pallocci transmitiu, etc., não conseguem esconder as misérias do seu governo.
Lula tenta pairar sobre esta avalanche de manobras, corrupção, de compadrios. Não consegue fazer passar uma imagem de inocente. Ninguèm acredita que não esteja ao par do que se passa no Brasil e no seu partido.
E, a situação que o conduz às urnas para um segundo mandato é a seguinte:
- consagrado nas urnas em 2002 com 52 milhões de votos, Lula, durante o seu exercício, vai perdendo dezenas de milhões de eleitores.
- quase 40% das pessoas que o guindaram em 2002 à Presidência, já não o querem lá.
No mês que resta para a 2ª. volta, em minha opinião, vai continuar a afundar-se nos meandros e na voracidade da política brasileira. Hoje, ninguém fala de Davos e Porto Alegre, onde a sua figura brilhou. Procede-se, unicamente, a cobranças caseiras.
Desenvolveu na 1º. volta uma capciosa argumentação para fugir aos debates com os outros candidatos. Hoje, o seu porta-voz, é lesto a declarar que Lula está pronto para debates.
A sucessivas purgas dos seus colaboradores mais próximos (Dirceu, Pallocci, etc.), por envolvimento em escândalos políticos, económicos e financeiros, desbarataram o seu gigantesco capital político e, pior, privam-no de uma estratégia de vitória.
Resta-lhe um olhar solitário sobre a imensidão daquele País e a fidelidade de um PT corroído e esfrangalhado pelo desgaste do exercício do poder.
Um PT que necessitava de ter sido tratado de outra forma para colectar na sua matriz, isto é no terreno social, forças o reconduzissem, de novo, ao Palácio do Planalto.
A tragédia de Lula no "day after"... é chocante, mas retrata uma experiência de governo capaz de fornecer muitos ensinamentos políticos à América Latina e ao Mundo.
E Lula da Silva tem carisma para ser um lider popular de oposição, dos pobres, dos que vivem mal e são explorados, nunca teve carisma para olhar para o lado e ver quem tinha ao seu lado, nunca teve carisma para expulsar os vendilhões do templo, nunca soube dizer não ou bater o pé àqueles que utilizaram o seu nome para tornar ainda mais azeda a vida do povo brasileiro e da sua classe média baixa e média média!
E assim se esfumam as esperanças, se vão os 25 de Abril !
Quem não deve não teme, não concorda CE?
O problema de Lula foi ter-se rodeado de corruptos, a sua imagem saíu afectada,agora terá de convencer o eleitorado que, é um homem honesto, defensor dos fracos e oprimidos...não esqueçamos, as suas origens e a empatia do eleitorado pobre.
Este homem que penso ser honesto, vai continuar a ser presidente do Brasil, estou certo.
Mas a sua situação é complicada. Na verdade, continua a mobilizar o povo pobre - que é muito - brasileiro.
O meu receio é a classe média (media-média e média-alta para usar um modelo expresso neste blog). Geraldo Alckmin, um homem apagado e ligado à Opus Dei, com mais de 41% dos votos, pode seduzi-la. Todos conhecemos a sua infedelidade (volúpia) eleitoral.
A 2ª. volta vai ser difícil. Lula, para além de ter de fedelizar os eleitores da 1ª. volta, vai contar com a hostilidade da comunicação social (dominada por seus opositores).
A saída de Heloísa da "corrida" presidencial tem de ser bem abordada e melhor trabalhada. O sector mais à esquerda do PT (os que ainda aí estão e os que saíram) vão, provavelmente, decidir as eleições.
O "escândalo do dossier", que afastou Berzoini da coordenação-geral da campmanha, pode também fazer "mossa".
Neste momento, quer Lula quer Alckmin, podem "escorregar" por veredas marginais mas, algumas vezes, decisivas.
Na verdade é dificil entender o comportamento eleitoral brasileiro. Um eleitorado imprevisível, pronto a "perdoar", capaz de dar 2ª. oportunidade. Veja-se a eleição, folgada, de Collor de Melo para senador.
A meu afecto vai para Lula. O 1º. mandato deve ter-lhe aberto os olhos acerca do "manobrismo" da política brasileira. Tenho a certeza de que o 2ª. mandato será (seria) diferente.
Mas a verdade é que eu voto em Portugal.
O povo sabe dar lições a todos, mesmo aos seus irmãos e filhos!