Estranhas modas linguísticas
Por vezes sinto-me agastado quando, ao referir-me a uma pessoa que padece de anorexia nervosa, ou seja um anoréxico ou uma anoréxica, algumas pessoas me corrigem, insistindo que não é um "anoréxico", mas sim um "anoréctico".
Ora, procurando num dicionário, verifica-se que existe dupla grafia desta palavra: "anoréxico" e "anoréctico". (Aliás, há mesmo tripla grafia com a entrada em vigor da reforma ortográfica: "anorético").
No entanto, parece-me muito estranho como é que surge esta derivação do substantivo "anorexia" para o adjectivo "anoréctico".
Ora vejamos:
A origem etimológica de anorexia encontra-se no grego: ανορεξις, literalmente "sem apetite".
Outras palavras existem na língua portuguesa, frequentemente no domínio da medicina, que derivam do radical -ξις/-ξια (-xis/-xia, tendo o x o valor "ks"): anoxia (falta de ar), ataxia (falta de coordenação muscular), etc. E a sua derivação para adjectivo para o português faz-se respeitando a etimologia -ξικος/-ξικα (-xikos/-xikas, tendo o x o valor "ks"). Exemplos: tóxico- e não "tóctico"; disléxico e não "disléctico"; anóxica (a anoxia anóxica é o termo médico para a asfixia)- e não "anóctica"; atáxico e não "atáctico".
Talvez a origem desta estranha e injustificável derivação se deva à confusão do radical -ξις/-ξια com o radical
-σις/-σια (-sis/-sia) que, esse sim, deriva em -τικος/-τικα: -(c)tico/-(c)tica. Eg. diurese/diurético, síntese/sintético, génese/genético, etc.). Ou então de um seguidismo acrítico de semelhante derivação em francês (onde há, apesar de tudo dupla ortografia).
Ora, procurando num dicionário, verifica-se que existe dupla grafia desta palavra: "anoréxico" e "anoréctico". (Aliás, há mesmo tripla grafia com a entrada em vigor da reforma ortográfica: "anorético").
No entanto, parece-me muito estranho como é que surge esta derivação do substantivo "anorexia" para o adjectivo "anoréctico".
Ora vejamos:
A origem etimológica de anorexia encontra-se no grego: ανορεξις, literalmente "sem apetite".
Outras palavras existem na língua portuguesa, frequentemente no domínio da medicina, que derivam do radical -ξις/-ξια (-xis/-xia, tendo o x o valor "ks"): anoxia (falta de ar), ataxia (falta de coordenação muscular), etc. E a sua derivação para adjectivo para o português faz-se respeitando a etimologia -ξικος/-ξικα (-xikos/-xikas, tendo o x o valor "ks"). Exemplos: tóxico- e não "tóctico"; disléxico e não "disléctico"; anóxica (a anoxia anóxica é o termo médico para a asfixia)- e não "anóctica"; atáxico e não "atáctico".
Talvez a origem desta estranha e injustificável derivação se deva à confusão do radical -ξις/-ξια com o radical
-σις/-σια (-sis/-sia) que, esse sim, deriva em -τικος/-τικα: -(c)tico/-(c)tica. Eg. diurese/diurético, síntese/sintético, génese/genético, etc.). Ou então de um seguidismo acrítico de semelhante derivação em francês (onde há, apesar de tudo dupla ortografia).
Comentários
E caquexia e caquéctico?
É verdade que caquexia deriva, em português em caquéctico e não em caquéxico. Mas nesse caso há uma razão linguística muito forte para escapar à etimologia.
Em grego, caquexia escreve-se καχεξία. O qui (χ) é uma velar aspirada, que não tem equivalente fonético nas línguas latinas, com excepção do espanhol "j". Pelo que, nas palavras de étimo grego em que existia, passou a valer como κ (capa), ou seja, q em português.
No caso de caquexia/caquético, o desvio à etimologia visa prevenir a cacofonia derivada da proximidade de duas consoantes de qualidade semelhante, q e ks. Caquéxico seria uma palavra estremamente cacofónica.
No caso de anorexia/anoréxico, tal cacofonia não se verifica, pelo que não há qualquer fundamento linguístico para a excepção.
Obrigado pela explicação mas é demasiado erudita para poder argumentar.
Foi por acaso que me lembrei do exemplo «caquexia»
http://el.wiktionary.org/wiki/%CE%BA%CE%B1%CF%87%CE%B5%CE%BA%CF%84%CE%B9%CE%BA%CF%8C%CF%82
A continuarem assim, qualquer dia dizem que a galinha colocou um ovo ou que o sol se colocou!