De Vinhais a Vilar de Maçada: o fascismo social anda por aí!

O Arq. Saraiva, ex-Director do Expresso e actual representante do capital angolano na metrópole, filho de boas famílias e sobrinho de Ministro, sempre seguro das razões da Direita, arauto do conservadorismo tacanho da linha do Estoril, veio na edição do seu jornal semanal dizer de sua justiça quanto às causas fundas de uma pretensa crise do sistema democrático.
Na sua argumentação foi o deslumbramento que os boys da província tiveram ao chegar a Lisboa que conduziu aos problemas que estamos a atravessar.
Ou seja, o problema passa pela essência mesma da Democracia e da República!

A República permite essa conquista civilizacional que é o facto de um homem nascido em Vinhais poder chegar a Ministro, permite que um rapaz, filho de pais divorciados, criado entre serranias e vales, se conseguisse afirmar como Ministro, líder do seu Partido e Primeiro-Ministro de Portugal.
No fundo o Arq. Saraiva veio assumir em público o que a Direita conservadora pensa em privado e diz em família: como pode um rapaz que frequentou um bacharelato de segunda linha, engenheiro técnico de uma câmara da província (o "Zé Sapatilha" como lhe chamam num e-mail que circula entre as pretensas elites) chegar ao topo do Governo de Portugal?

Que um filho de Ministro como Mário Soares chegue a Presidente, que um filho de um reputado médico, como Sampaio, chegue a Presidente, que um menino que estudou no Liceu Camões (do Centro de Lisboa) chegue a Presidente da Comissão Europeia, parece normal. Que a neta de um Ministro chegue a líder do PSD é positivo...

Agora, um rapaz de Vinhais e outro de Vilar de Maçada assenhorearem-se dos salões (e diz o Arq. Saraiva, das Senhoras...) de Lisboa...! Isso já parece uma degenerescência.

Pois, por mim, penso que é este pensamento - a que apelido de "fascismo social" - que vem anquilosando o nosso Portugal.
É uma falta de cultura verdadeiramente LIBERAL, que acredite no homem livre, nas suas potencialidades, na sua energia vital, na sua inteligência, que vai entregando este país à ruína.
São estes sobrinhos de Ministros, são estas almas invejosas que não nos trazem nada de bom.
No ano em que celebramos os 100 anos da República, entendo que se trata de uma conquista o facto de termos em Lisboa um Presidente da República vindo de Boliqueime e um Primeiro-Ministro de Vilar de Maçada!
Podemos criticar estas pessoas politicamente, mas é indigno atacar com base na origem social e geográfica.

Comentários

Victor Alves disse…
Corcordo plenamente com o conteúdo do post e eu, que também sou de uma aldeia transmontana, residindo na capital, cuidarei de transmitir essa mensagem e lutar contra o fascismo social.
Graza disse…
Fascismo Social! É isso. Boa expressão quando nos queremos referir a "essa coisa". Está sempre bem representado nas "tias". Ele também existe socialmente mas só nos lembramos dele na politica.
Pois eu sou de Lisboa, nado e criado, nunca vivi noutro sítio, e tenho vergonha de tais afirmações do sr.arquitecto.
Mas também não é para espantar, basta ler o pasquim de que esse senhor é director.
Morcego disse…
Concordo com o post. Mas a questão que se deve colocar é: como é que um bancário e político de profissão chegou à administração de um banco? E porquê? Para fazer o quê? Que tipo de serviços? Quem o lá colocou a para quê?
Graza disse…
Alertar para a existência deste fascismo social, não tem que ser defender Vara. Não é pelo facto de ele ser arguido agora, que a questão deixa de se colocar e em Portugal esta questão é mesmo rançosa.

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