Mário Barradas

Mário Barradas, cidadão, actor, encenador, académico da arte teatral, morreu hoje em Lisboa.
Nascido nos Açores correu Mundo perseguindo a senda da arte dramática.
Frequentou uma licenciatura em Teatro na ex-RDA e, no seguimento desta formação, desloca-se para Moçambique onde foi, aí, o precursor do Teatro Universitário.

Os seus vastos conhecimentos sobre as disciplinas ligadas à actividade teatral tornaram-no um dos pilares da reforma do Conservatório no pós 25 de Abril, enfatizando – sempre – a vertente formativa e o rigor estético.

Após o 25 de Abril integrou a Comissão nomeada pelo MFA para elaborar uma nova Lei de Teatro de acordo com o projectado no programa do movimento dos capitães.
Aí, foi um acérrimo defensor da descentralização da actividade teatral. Sendo um homem que prezava a coerência entre a teoria e a praxis, abandona Lisboa para se fixar Évora, onde é o fundador e a “alma” do Centro Cultural, hoje, o CENDREV, onde leccionava.

Pelas suas relevantes qualidades como "homem do Teatro", a Universidade de Évora atribuiu-lhe o doutoramento honnoris causa em Teatro.
Foi um estudioso da dramaturgia de Brecht tendo levado, com incontestável maestria, à cena, algumas das suas mais relevantes obras.

Marcou os últimos decénios da actividade teatral em Portugal e, hoje, não podemos falar da actividade teatral, no regime democrático, sem o considerar uma referência e o colocar num lugar de destaque.

Nunca deixou esmorecer a sua ligação com o Teatro Universitário colaborando com a sua experiência e saber na resolução dos seus problemas específicos e incentivando a acção de formação que este tipo de teatro representava.

Foi um cidadão com uma ampla participação política, quer na resistência à ditadura salazarista e, até há pouco tempo, um convicto e activo autarca. Foi várias vezes eleito para a Assembleia Municipal de Évora.

Sendo um homem de rigor, um actor virtuoso, um magistral encenador, um pedagogo da arte teatral, um estudioso e entusiasta da dita "cultura popular", bem podemos dizer que Portugal acaba de perder um vulto da sua Cultura.

Tendo em vida usufruído do privilégio de ser seu amigo, neste momento, sinto-me culturalmente mais pobre e espoliado do seu impoluto e saudável convívio.

As sábias palavras de Konstantin Stanislavski ( in "O trabalho do actor sobre si mesmo") assentam-lhe como uma luva:
“Aprendam a amar a arte em vocês mesmos, e não vocês mesmos na arte…”

Comentários

Violeta disse…
O Mário Barradas não frequentou uma licenciatura em Teatro na ex-RDA.
Licenciou-se em Lisboa em Direito, tendo depois partido para Moçambique onde par a par com as suas actividades no Teatro exerceu a profissão de advogado. Abondonou tudo para ir estudar teatro no farol da Descentralização, formação etc que era Estrasburgo... O resto todos sabemos: GRande Homem do Teatro, da Cultura, que tudo deu.
Tenho Saudades!
e-pá! disse…
Cara Violeta:

Tem toda a razão!

Pertenci - com Mário Barradas - à Comissão encarregue de elaborar, no pós-25 de Abril, a nova lei de Teatro.
AS inúmeras conversas que tivemos à volta do tema Teatro, dentro e fora da Comissão, levou-me a que, mais de 30 anos após, quando escrevi umas curtas e sentidas palavras, em cima do momento, sobre o Homem de Teatro, que acabava de nos punir com a sua ausência, confundi, inexplicavelmente, a sua estada em Estrasburgo com a ex-RDA.
Por tal lapso, penitencio-me.
-
Violeta disse…
Agradeço muitíssimo a homenagem por si feita neste blog. O meu comentário destinava-se apenas a corrigir a informação. Peço desculpa se fui um pouco brusca, sou assim...

Obrigada,

Violeta Barradas

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