Justiça em desavença

O gosto por discutir o "processo" deixou as colectâneas de jurisprudência e as conversas de magistrados para ser servida ao almoço e ao jantar dos portugueses.
Já sabemos que o Primeiro-Ministro usa o telemóvel, que Armando Vara lhe telefona e que os polícias escutam.
Sabemos também que transcrevem o que ouvem e que durante meses esses documentos escritos vão circulando pelas entidades competentes.
Alguns despachos depois e chegada a humidade do Outono, o Supremo Tribunal de Justiça - como é de lei - pronuncia-se.
O Procurador Geral da República vai dizendo que as explicações chegarão; o Presidente do STJ decide e não explica: logo os comentadores se apressam a opinar.

O povo embriagado pelas boas prestações do Benfica e com a ansiedade da vitória sobre a Bósnia, enquanto aguarda que a vacina para a gripe A chegue ao seu grupo, ou que a sua empresa "escape" à crise, vai-se apercebendo que tudo continua mais ou menos normal:
- José Sócrates envolvido em mais uma trapalhada, pensa metade da população; José Sócrates mais uma vez envolvido num ataque "ad homine", sem substrato e sem matéria, perpetrado por "forças ocultas", pensa outra metade;
- o Senhor Presidente da República está "preocupado", mas não comenta, mantendo porém um olhar de quem afirma: "eu bem vos avisei que andavam por aí escutas...!"
- A futura ex-líder do PSD continua a clamar pelo perigo da nossa democracia, gritando contra tudo e contra todos, desde o STJ à PGR, passando pelo PS e - claro - o seu mal-amado PM, de quem - espante-se! - exige explicações públicas por umas cassetes de que ele não tinha conhecimento, por umas conversas privadas que manteve não sabe quando...!

Franz Kafka não era português; era um jurista frustrado, obrigado pelo seu pai a estudar Direito e alinhado num qualquer funcionalismo público cinzento e sem graça.

Poderão alguns perguntar-se se alguns agentes do MP ou da PJ serão juristas felizes, se não terão frequentado uma qualquer licenciatura em Direito por vontade dos seus pais, já que as suas mães - mesmo que conhecidas - não teriam grande palavra a dizer naquela casa.

Comentários

A mim parece-me que muitos agentes do MP e da PJ se sentem felizes sempre que conseguem descobrir qualquer coisa a propósito da qual consigam envolver o PM. Por exemplo: no Cais do Sodré dois indivíduos envolvem-se em discussão por motivos passionais e um deles esfaqueia o outro. Isto não tem interesse nenhum. Mas a PJ vem a descobrir que o esfaqueador é irmão do motorista de Sócrates.
Aí o caso muda de figura; passa a a ser manchete nos jornais: "Homicídio no Cais do Sodré: o nome de Sócrates foi mencionado no processo".

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