Com os nervos à flor da pele
A retumbante vitória de António Costa pôs os nervos em franja a muita gente. À direita porque é mais difícil de o derrotar e à esquerda porque recolhe aí muitas simpatias. Não admira, pois, que militantes de outros partidos «aconselhem» o que os militantes do PS devem exigir a António Costa.
É uma pena que os partidos não sejam todos a extensão da nossa vontade, o instrumento dos nossos desejos, o veículo das nossas ambições, mas a realidade é outra. Os partidos são o que cada um deles deseja e não o que os seus adversários pensam que deviam ser. Ao eleitorado cabe escolher quem mais lhe agrada. É a vida. Em democracia.
Curiosamente, em vez de ser vista como uma vitória da esquerda, onde os dois últimos e inenarráveis líderes da UGT viram as ambições desfeitas e descoberto o oportunismo, à esquerda e à direita do PS cresceu o azedume, multiplicaram-se as injúrias e chegou-se ao cúmulo de escarnecer a idade de Soares, Alegre, Almeida Santos e Ferro Rodrigues, como se a velhice não fosse um privilégio dos que lá chegam e, nestes casos, uma honra pelo percurso, pela coragem e dedicação aos seus ideais.
O azedume de quem tem mau perder não é apenas um fator desencadeante da úlcera gástrica, é um risco para os neurotransmissores, capazes de perturbarem as sinapses dos melhores neurónios.
A aceitação e o respeito pelas vitórias alheias seria um saudável sinal de maturidade democrática que quarenta anos de liberdade deviam ter feito germinar.
É uma pena que os partidos não sejam todos a extensão da nossa vontade, o instrumento dos nossos desejos, o veículo das nossas ambições, mas a realidade é outra. Os partidos são o que cada um deles deseja e não o que os seus adversários pensam que deviam ser. Ao eleitorado cabe escolher quem mais lhe agrada. É a vida. Em democracia.
Curiosamente, em vez de ser vista como uma vitória da esquerda, onde os dois últimos e inenarráveis líderes da UGT viram as ambições desfeitas e descoberto o oportunismo, à esquerda e à direita do PS cresceu o azedume, multiplicaram-se as injúrias e chegou-se ao cúmulo de escarnecer a idade de Soares, Alegre, Almeida Santos e Ferro Rodrigues, como se a velhice não fosse um privilégio dos que lá chegam e, nestes casos, uma honra pelo percurso, pela coragem e dedicação aos seus ideais.
O azedume de quem tem mau perder não é apenas um fator desencadeante da úlcera gástrica, é um risco para os neurotransmissores, capazes de perturbarem as sinapses dos melhores neurónios.
A aceitação e o respeito pelas vitórias alheias seria um saudável sinal de maturidade democrática que quarenta anos de liberdade deviam ter feito germinar.
Comentários
Ontem, Pacheco Pereira fez no jornal Público uma clarividente análise das primárias do PS sob o título de "O dia um do ano eleitoral" (pág.7).
O libelo que lança ao ex-líder AJ Seguro é simultaneamente demolidor e esclarecedor.
Escreve:
"2. Porque é que digo que o PS não tem sido um partido de oposição, mesmo apesar do radicalismo verbal do seu antigo secretário-geral? Por coisas como esta: na última semana antes das primárias houve um encontro secreto entre o secretário-geral da UGT e o primeiro-ministro. Segundo diz o oráculo governamental, Passos convenceu o secretário-geral da UGT a aceitar o acordo sobre o salário mínimo. Tudo quanto é ministro do primeiro ao último, incluindo o ministro-viajante Paulo Portas foi lá à concertação social (que eles desprezam todos os dias, a não ser quando têm a UGT no bolso) para marcar a grande vitória do governo. As fontes do governo diziam que era fundamental haver um acordo antes do final do processo eleitoral do PS. Percebe-se porquê. O secretário-geral da UGT é um dos principais executantes da política de Seguro, de que foi um dos mais activos apoiantes, prestou-se ao timing propagandístico do governo e à substância de um acordo que fragiliza a segurança social, a mesma que o governo usa como pretexto para as suas posições neo-malthusianas. Mais um exemplo do que aconteceu nos últimos três anos".
Ora aí está um gritante conluio entre política e negócios (político-eleitorais) que toda a esquerda portuguesa agradecia ver desfeito, urgentemente.