Antes das 11 horas da manhã, uma numerosa comitiva de polícias, militares da GNR, e alguns outros do Exército, tomaram posições em frente à Igreja de Santa Cruz. Bem ataviados esperavam a hora de deixarem a posição de pé e mergulharem de joelhos no interior do templo do mosteiro beneditino cuja reconstrução e redecoração por D. Manuel lhe deu uma incomparável beleza. Não era a beleza arquitetónica que os movia, era a organização preparada de um golpe de fé definido pelo calendário litúrgico da Igreja católica e decidido pelas hierarquias policiais e castrenses. Não foi uma homenagem a Marte que já foi o deus da guerra, foi um ato pio ao deus católico que também aprecia a exibição de uniformes e a devoção policial. No salazarismo, durante a guerra colonial, quando as pátrias dos outros eram também nossas, não havia batalhão que não levasse padre. Podia lá morrer-se sem um último sacramento!? Éramos o país onde os alimentos podiam chegar estragados, mas a alma teria de seguir lim...
Comentários
A al-Qaeda já reivindicou o atentado e não podem os seus militantes ser acusados de falta de fé.
Hoje, levantam-se (ainda) algumas dúvidas se este inqualificável atentado foi executado pela al-Qaeda.
Essa é a intenção e o desejo de Musharraf, ia a dizer, semlhante ao de Aznar em Atocha, em relação à ETA.
A realidade é outra. Musharraf, cabeça visível do regime militar (despiu a farda mas é como o algodão - não engana) que derrubou
o governo eleito em nome do decoro, da ordem e segurança, bem como do combate à corrupção, deu ao Mundo um País onde se associa o despotismo e a anarquia, para mim, os verdadeiros responsáveis pelo assassínio de Benazir Bhutto, ontem, em Rawalpindi.
O Paquistão é um País dilacerado por contradições políticas, problemas étnicos, um caos linguístico e, ainda, questões religiosas.
O Pai de Benazir criou o PARTIDO DO POVO PAQUISTANÊS (PPP), que foi integrado por activistas do único movimento popular de massas que o País conheceu: estudantes, camponeses e trabalhadores que lideraram uma feroz oposição, durante três meses, em 1968-1969, para enfrentar e derrubar o primeiro ditador militar do Paquistão - Ayub Khan.
Ainda hoje existem resquícios desta movimentação popular e muitos paquistaneses encaram o PPP como um partido de massas, popular, o possível no meio de tanta diversidade popular e linguística.
Mas o PPP precisa de ser reconstruído. E não pode ser subsidiário da sacrificada família Bhutto.
É necessário transformar o PPP numa organização moderna e democrática, que defenda os direitos sociais e humanos e que una os dispares interesses e grupos em desespero, num Paquistão civil (laico), próspero e democrático.
Esta a grande lição a tirar do horrível assassinio de Benazir Bhutto.
O Paquistão deve seguir o seu caminho e dispensar mais sacrifícios da família Bhutto.
Já chega de regimes militares e de sacrifícios.
Bilawal Bhutto não precisa de morrer. Basta chegar a Democracia.
As primeiras declarações de Bilawal Bhutto enquanto novo (aos 19 anos) presidente do PPP, vão nesse sentido:
"A longa e histórica luta do partido pela democracia continuará com vigor renovado"...
Assim seja.