Notas soltas: julho/2014

José Sócrates – O político foi julgado três vezes em eleições e castigado nas últimas. A perseguição sistemática e os ódios de estimação, com acusações perversas, alimentaram o mito e anteciparam a reabilitação do inimigo que queriam enterrar.

Banco de Portugal – A imagem do governador, retocada pelos ventríloquos do poder, depois de assegurar que a almofada financeira do BES era à prova do pior dos cenários, liquefez-se na incúria da atuação e na cratera esculpida em reiteradas fraudes.

BES – Quando da auditoria do BP às empresas do grupo, Carlos Costa devia ter varrido logo a administração, mas aguardou que fosse Ricardo Salgado a encomendar o funeral e, assim, em vez de marcar a cirurgia, que era urgente, assistiu à autópsia do cadáver.

Governo – À semelhança do BES, em que foi criado um Banco Mau e um Banco Bom, devia ter sido criado um Governo Mau, para absorver ministros tóxicos, e um Governo Bom, resultante de novas eleições, com todos os membros substituídos.

Conselho de Ministros – Com os ministros na praia, aprovou o decreto-lei destinado à «resolução» do caso BES. O PR promulgou o diploma, «visto e aprovado em Conselho de Ministros de 3 de agosto de 2014», no domingo onde os fatos de banho e os biquínis compareceram ao ato, por e-mail.

Faixa de Gaza – A pobreza e o desespero nutrem o ódio e a vingança. A raiva levou ao poder o grupo terrorista Hamas. Palestinos e israelitas não acharão a paz no terrorismo mútuo que praticam e na espiral de ódio recíproco que alimentam.

Guerra – As lutas tribais continuam com armas sofisticadas e a demência islâmica com a fé, cada vez mais anacrónica.  Iraque, Líbia e Síria são vítimas do drama pungente que os libertadores ali deixaram motivados pela ganância do petróleo.

GES – Depois do BPN, BPP e Banif, ainda faltava o maior empório português, o Grupo Espírito Santo, a que pertencia o BES, onde se criavam ministros, secretários de Estado, responsáveis pelas privatizações e até um PR, como metáfora cruel das elites nacionais.

Jihad – O recrutamento de uma jovem de 14 anos, por telemóvel, presa graças à rapidez com que a polícia de Ceuta a procurou, revela a vulnerabilidade da Europa à intoxicação que adicionou à das mesquitas e madraças a das novas tecnologias.

Ucrânia – A U E, sem política externa comum e coerente, reincidiu no erro da Geórgia.  Os pró-europeus derrubaram o Governo e assustaram zonas russas, deixando a V. Putin o enxovalho ou o autoritarismo, enquanto a Europa expia a imprudência.

Irão – O aliado improvável dos EUA mobilizou-se no combate ao Estado Islâmico (EI) na defesa das minorias religiosas iraquianas ameaçadas de extermínio, especialmente os yazidis, colocados na iminência de um genocídio incitado pelo sectarismo religioso.

PSD – Mais um caso de nepotismo praticado com monótona impunidade. Um filho de Durão Barroso foi nomeado para o Banco de Portugal, sem concurso e com ocultação do salário. Não se discute a competência para as altas funções, mas o método.

Emídio Rangel – Personalidade marcante, deve-se-lhe um inestimável contributo para a revolução do audiovisual. Fundador da TSF, SIC e SIC-N, o falecido jornalista inovou e tornou-se uma referência indelével na comunicação social do Portugal de Abril.

Pontal – A liturgia do PSD promove uma espécie de Festa do Avante dos pequeninos, de sinal contrário, sem o esplendor de outros tempos e sem um orador que entusiasme os devotos com o fulgor de outros líderes e os resultados de melhor governação.

Estado Islâmico – O fermento democrático, levado ao Iraque por execráveis cruzados, resultou numa manifestação de terrorismo gratuito, onde a demência da fé ultrapassou a dos invasores, ameaçando retalhar o país que resta, com o ódio a alastrar pela região.

PS – Na disputa interna, que devia caber apenas aos militantes, vieram à tona os piores defeitos, onde se nota a indignidade de alguns, a sede de poder de outros e a ausência de preparação cívica, política e ética de quem faz dos partidos locais mal frequentados.

Desemprego – Os portugueses sem trabalho e sem subsídio atingiram o número de 400 mil, vivendo, desesperados, um drama silencioso. A falta de solidariedade revela até que ponto pode chegar a insensibilidade social.

Donetsk – No dia das comemorações da Ucrânia, rebeldes pró-russos, que ocupavam a cidade, exibiram meia centena de soldados ucranianos com as mãos amarradas atrás das costas. A razão que lhes assistiria perderam-na na torpeza agreste para com os presos.

França – A  senhora Merkel, cada vez mais entusiasta da austeridade, acabou por levar a remodelação ao Governo de Hollande, o passo que levará os franceses a remodelarem definitivamente o seu atual presidente.

EUA – Quando a lei autoriza uma menina de 9 anos a usar uma arma de guerra que, por acaso, mata o instrutor, descobrimos uma nação poderosa onde coexistem a ciência e o tribalismo. Talvez isso explique os paradoxos de um país que mantém a pena de morte.

Brasil – A possível eleição presidencial de Marina Silva será um sismo no maior país da América do Sul, país de contrastes, onde a corrupção e as desigualdades são a lepra que o devora. Seria trágico se ao sonho de mudança sucedesse o pesadelo da desilusão.

Comentários

Maquiavel disse…
Sim, em Donetsk os federalistas "anti-fascistas de Kiev" perderam a razäo ao mostrar ao mundo os factos reais, em vez da propaganda de Kiev.
E também perderam a razäo ao permitir corredores humanitários para evacuar (alguns por terriorio russo) soldados ucranianos encurralados e deixados à sua sorte pelos mandantes de Kiev.

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