A dissolução ética do regime

O desastre começou, em 2008, com a falência do banco Lehman Brothers Holdings Inc., que causou um tsunami financeiro no sistema bancário internacional e arrasou, à escala global, as economias mais débeis.

A depressão económica surgida, de que Portugal não saiu, levou brilhantes académicos neoliberais, discípulos da escola de Chicago, onde pontificou Milton Friedman, a ensaiar, nos países da Europa, a experiência levada a cabo, no Chile, sob Pinochet.

Em Portugal, Eduardo Catroga foi incumbido de devolver o PSD ao poder quando tinha na presidência o mais impreparado de todos os líderes que a ocuparam e, na presidência da República, o mais dedicado e prestável aliado, mas, sem polícia política, assassinatos e sumiço de opositores, a receita estava condenada ao fracasso.

Foi assim que chegou a ministro das Finanças um sólido académico e medíocre político, Vítor Gaspar, que 16 meses depois pediu a demissão e resistiu ainda oito meses mais até confessar o fracasso. Catroga continuou a acumular reformas e Vítor Gaspar partiu para o FMI a ressarcir-se da inépcia política demonstrada.

Com Paulo Portas irrevogavelmente demissionário, quando foi notificado da indigitação da improvável Maria Luís Albuquerque, para titular do ministério das Finanças, Cavaco Silva empossou-a no defunto governo onde Portas e o CDS já não estavam. O regresso de Portas, promovido a vice-PM, ressuscitou o Governo e foi cúmplice nos desastres do Novo Banco, do Banif, da recondução do governador do BP e da irrefletida denúncia de contratos swaps assinados pelo Estado português com o banco Santander, entre 2005 e 2007, contratos para os quais o banco procurou uma solução extrajudicial rejeitada pela ministra cujo ex-aluno continuou ao leme do Governo que Cavaco pretendia para mais uma legislatura. Os trágicos resultados são já conhecidos.

A aceitação de um lugar de administradora não executiva do grupo Arrow Global, em Londres, pela deputada em funções [que Maria Luís se prepara(va) para manter] é a mais pungente metáfora da dissolução ética do regime que António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa herdam de Passos Coelho e Cavaco Silva. A estouvada deputada vai ser consultora de cobradores de fraque das dívidas que bem conhece.

O País ficou submerso num pântano. Sem dinheiro, crédito, ética ou pudor republicano, enquanto Cavaco sai de cena e Passos Coelho ensaia cenas tristes.

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

Três chapeladas a esta síntese, boa para refrescar a memória. Problema são os portugueses, que padecem de alzheimer e não sabem.

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