Terrorismo, morte e propaganda
A morte ao serviço da manipulação das emoções e do fanatismo é recorrente na política e explorado de forma obscena pelas religiões.
As monarquias, sempre ligadas a uma Igreja, fazem da morte de um príncipe ou de um rei um espetáculo, com cenas de histeria coletiva e mórbida comoção. A comunicação social torna-se cúmplice, como se viu, até à náusea, na morte da princesa Diana.
Em Portugal, a encenação da morte de Salazar foi a tentativa de oxigenar o regime que não demoraria a segui-lo no funeral que provocou alívio e explosões de alegria. Em Espanha, o cadáver de Franco serviu para reunir turbas fascistas e dignitários clericais, na esperança de que o regime se eternizasse e os crimes do genocida ficassem impunes.
Já em democracia, a morte de Sá Carneiro foi instrumentalizada para alterar o sentido de voto nas eleições presidenciais que decorriam em Portugal.
Nada disto é novo. A morte é uma arma carregada de emoções. No comunismo, Engels apelou à luta junto ao túmulo de Marx, Lenine junto ao de Lafarge e Estaline procedeu a uma colossal manipulação de massas no enterro de Lenine. Em França, o PCF fez da morte de Maurice Thorez uma gigantesca manifestação. O mesmo aconteceu em Itália com Palmiro Togliatti ou, em Portugal, com Álvaro Cunhal.
Há muitos exemplos, mas as religiões são exímias. A morte do ayatola khomeini reuniu multidões de fanáticos que carpiram histericamente o sinistro dignitário islâmico. A de Maomé é anualmente celebrada, em Meca, com fanatismo e gigantescas peregrinações.
No cristianismo, o nascimento e morte do fundador são festejados todos os anos, apesar incertas as datas, falso o local de nascimento e ignorada a sorte do cadáver. A ICAR, na idolatria papal, faz da morte de cada Pontífice uma encenação mórbida de propaganda.
A agonia de JP2 foi passada nas televisões, minuto a minuto, até à apoteose da morte. A exploração do sofrimento recorda os oportunistas que alugam deficientes para dilatarem a piedade e o óbolo dos transeuntes que dobram as esquinas de uma cidade de pedintes.
O Vaticano falhou a morte em direto, o cadáver a sair do avião, o estertor perante as câmaras, mas não renunciou às multidões, em Roma, nem ao espetáculo montado para garantir a emoção e a propaganda para telespectadores do Planeta. JP2 foi o primeiro cadáver exibido e explorado, à escala planetária, como gadget promocional.
A ICAR ganhou a batalha da globalização com a sua morte. B16, menos supersticioso e narcisista, mais calculista, dirigiu sub-repticiamente a campanha de proselitismo através dos bispos, padres e beatos cujo fanatismo rivalizou com o dos talibãs.
O laicismo está em perigo. A liberdade religiosa corre perigo. A religião pode tornar-se inevitável, como o óleo de fígado de bacalhau nas escolas de há meio século. As Igrejas, no seu proselitismo, tudo farão para se imporem, não olhando a meios.
O que não se previa em sociedades civilizadas, era a morte indiscriminada de cidadãos, com inexcedível crueldade, usada por terroristas, na propaganda do fascismo islâmico e, com imenso êxito, a seduzirem jovens de todas as etnias e estratos sociais.
Depois de Nova Yorque, Madrid, Londres, Paris e Bruxelas,
É urgente pará-los.
As monarquias, sempre ligadas a uma Igreja, fazem da morte de um príncipe ou de um rei um espetáculo, com cenas de histeria coletiva e mórbida comoção. A comunicação social torna-se cúmplice, como se viu, até à náusea, na morte da princesa Diana.
Em Portugal, a encenação da morte de Salazar foi a tentativa de oxigenar o regime que não demoraria a segui-lo no funeral que provocou alívio e explosões de alegria. Em Espanha, o cadáver de Franco serviu para reunir turbas fascistas e dignitários clericais, na esperança de que o regime se eternizasse e os crimes do genocida ficassem impunes.
Já em democracia, a morte de Sá Carneiro foi instrumentalizada para alterar o sentido de voto nas eleições presidenciais que decorriam em Portugal.
Nada disto é novo. A morte é uma arma carregada de emoções. No comunismo, Engels apelou à luta junto ao túmulo de Marx, Lenine junto ao de Lafarge e Estaline procedeu a uma colossal manipulação de massas no enterro de Lenine. Em França, o PCF fez da morte de Maurice Thorez uma gigantesca manifestação. O mesmo aconteceu em Itália com Palmiro Togliatti ou, em Portugal, com Álvaro Cunhal.
Há muitos exemplos, mas as religiões são exímias. A morte do ayatola khomeini reuniu multidões de fanáticos que carpiram histericamente o sinistro dignitário islâmico. A de Maomé é anualmente celebrada, em Meca, com fanatismo e gigantescas peregrinações.
No cristianismo, o nascimento e morte do fundador são festejados todos os anos, apesar incertas as datas, falso o local de nascimento e ignorada a sorte do cadáver. A ICAR, na idolatria papal, faz da morte de cada Pontífice uma encenação mórbida de propaganda.
A agonia de JP2 foi passada nas televisões, minuto a minuto, até à apoteose da morte. A exploração do sofrimento recorda os oportunistas que alugam deficientes para dilatarem a piedade e o óbolo dos transeuntes que dobram as esquinas de uma cidade de pedintes.
O Vaticano falhou a morte em direto, o cadáver a sair do avião, o estertor perante as câmaras, mas não renunciou às multidões, em Roma, nem ao espetáculo montado para garantir a emoção e a propaganda para telespectadores do Planeta. JP2 foi o primeiro cadáver exibido e explorado, à escala planetária, como gadget promocional.
A ICAR ganhou a batalha da globalização com a sua morte. B16, menos supersticioso e narcisista, mais calculista, dirigiu sub-repticiamente a campanha de proselitismo através dos bispos, padres e beatos cujo fanatismo rivalizou com o dos talibãs.
O laicismo está em perigo. A liberdade religiosa corre perigo. A religião pode tornar-se inevitável, como o óleo de fígado de bacalhau nas escolas de há meio século. As Igrejas, no seu proselitismo, tudo farão para se imporem, não olhando a meios.
O que não se previa em sociedades civilizadas, era a morte indiscriminada de cidadãos, com inexcedível crueldade, usada por terroristas, na propaganda do fascismo islâmico e, com imenso êxito, a seduzirem jovens de todas as etnias e estratos sociais.
Depois de Nova Yorque, Madrid, Londres, Paris e Bruxelas,
É urgente pará-los.
Comentários
Ars moriendi foi durante séculos - desde a Antiguidade clássica greco-romana - a arte de preparar a morte coisa que dava sentido (à vida).
Hoje, no conturbado mundo onde vivemos ela foi sendo alterada (longevidade) mas simultaneamente perdeu previsibilidades devido à intromissão de episódios e circunstancias acidentais.
Nenhuma civilização, desde as mais remotas, de desfaz (abandona) dos seus mortos. Há sempre algum ritual inerente nem que seja o mais primitivo de todos: a devolução do corpo defunto à (mãe) terra, envolto numa alva mortalha.
Agora, tanto os cerimoniais públicos de Estado para exorcizar desastres, calamidades ou caídos em combates (declarados ou não), como as pompas fúnebres religiosas para sossegar (encomendar) 'almas', são meros aproveitamentos da morte.
São tramites catárticos para o inconsciente coletivo.
A canção coimbrã foi muito explicita a este respeito:
"Quando eu morrer, rosas brancas
Para mim ninguém as corte
Quando eu morrer, rosas brancas
Para mim ninguém as corte
Quem as não teve na vida
De que lhe servem na morte..."