Coimbra - Bairro de S. Sebastião
É a vida…
Teve uma loja de eletrodomésticos na Av. Sá da Bandeira, com a mulher. Viera de Lisboa, do Bairro de S. Sebastião da Pedreira, para um bairro do mesmo santo, em Coimbra. Mudou de bairro e de cidade sem trocar de nome do bairro. Só a flecha com que pôs termo à vida foi única e diferente das do mártir, e não seriam menores as dores que a precederam.
Sempre o conheci em Coimbra. Casado. A D. Glória gostava das crianças do bairro, as crianças que não tiveram. Há quatro anos finou-se, após uma doença que se prolongou. O marido acompanhou-a, sempre, e por cá ficou, até ao último fim de semana.
Era afável e discreto. Dividia a mesa com um amigo com quem diariamente resolvia problemas de sudoku que aprendera depois da viuvez.
Numa mesa, perto da minha, era presença assídua todas as manhãs. Segunda-feira ficou sozinho o amigo, esquecido do sudoku.
No fim de semana, na casa onde a solidão foi a companhia dos últimos anos, depois de estacionar cuidadosamente o carro, a rua é estreita, pôs termo à vida. Com um tiro.
Disseram-me que deixou escrito que não queria o nome no jornal e que da morgue o levassem para o crematório, sem cerimónias, um morto não as aprecia.
Se assim foi, a Funerária de Coimbra, não o respeitou e pôs-lhe hoje o nome e a foto no diário da Rua da Sofia. Tinha 79 anos. Tenho o dever de lhe respeitar o anonimato, de não mencionar o nome que ficou registado no crematório onde os parentes irão ou não buscar as cinzas.
É a morte, a outra face da vida, a solidão trocada pelo esquecimento, Tanatos a cobrar o óbolo a Eros. É a vida…
Teve uma loja de eletrodomésticos na Av. Sá da Bandeira, com a mulher. Viera de Lisboa, do Bairro de S. Sebastião da Pedreira, para um bairro do mesmo santo, em Coimbra. Mudou de bairro e de cidade sem trocar de nome do bairro. Só a flecha com que pôs termo à vida foi única e diferente das do mártir, e não seriam menores as dores que a precederam.
Sempre o conheci em Coimbra. Casado. A D. Glória gostava das crianças do bairro, as crianças que não tiveram. Há quatro anos finou-se, após uma doença que se prolongou. O marido acompanhou-a, sempre, e por cá ficou, até ao último fim de semana.
Era afável e discreto. Dividia a mesa com um amigo com quem diariamente resolvia problemas de sudoku que aprendera depois da viuvez.
Numa mesa, perto da minha, era presença assídua todas as manhãs. Segunda-feira ficou sozinho o amigo, esquecido do sudoku.
No fim de semana, na casa onde a solidão foi a companhia dos últimos anos, depois de estacionar cuidadosamente o carro, a rua é estreita, pôs termo à vida. Com um tiro.
Disseram-me que deixou escrito que não queria o nome no jornal e que da morgue o levassem para o crematório, sem cerimónias, um morto não as aprecia.
Se assim foi, a Funerária de Coimbra, não o respeitou e pôs-lhe hoje o nome e a foto no diário da Rua da Sofia. Tinha 79 anos. Tenho o dever de lhe respeitar o anonimato, de não mencionar o nome que ficou registado no crematório onde os parentes irão ou não buscar as cinzas.
É a morte, a outra face da vida, a solidão trocada pelo esquecimento, Tanatos a cobrar o óbolo a Eros. É a vida…
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